Luanda - Com a problemática do confinamento, motivada pela trágica questão do COVID-19, a consequente distância para o normal funcionamento do ensino presencial acabou por abrir espaço para a metodologia do ensino à distância, uma modalidade de ensino que só este ano passou a ser oficialmente autorizada para a docência no ensino superior em Angola, requerendo, no entanto, o uso de tecnologias educativas.

Fonte: JA

Daí que, muito poucas ou quase nenhumas instituições de ensino superior são detentoras de capital humano especializado e recursos técnico-materiais indispensáveis para pôr o ensino à distância imediatamente em prática, tal como exige o depósito legal para o seu funcionamento em Angola.


De considerar, desde já, que ensino à distância não é sinónimo de ensino por correspondência, nem é um ensino de menor qualidade, em relação ao ensino face a face, já que toda a aprendizagem é antes de mais auto-aprendizagem. O ensino à distância é simplesmente uma metodologia diferenciada de ensino-aprendizagem, extensiva a uma maior clientela, tendo o estudante o material de auto-formação como o professor de si próprio, que lhe permite aprender a aprender.


Considerava na década de 90, o Prof. Frederico Mayor, ex-director-geral da UNESCO, na sua proposta de Programa de Acção, que África não se deveria deixar atrasar em matéria de meios tecnológicos modernos. Pelo contrário, deveria proceder à introdução da informática nos seus sistemas educativos. Sublinhava ainda que “não dar às juventudes africanas essa possibilidade de acesso às ciências informáticas, equivalerá a criar-lhes um grave ‘handicap’ que as distanciaria das juventudes de quase todos os outros países”. Atendendo à velocidade a que se processa a evolução tecnológica nesta área científica, quanto mais tempo levar a introdução do ensino informático nas escolas africanas, maior será o fosso que separa os países industrializados daqueles que desesperadamente procuram essa via. Num continente, onde as distâncias representam um enorme obstáculo à comunicação entre homens e instituições, apesar da multiplicidade de línguas a empregar, Frederico Mayor considerava que “seria uma verdadeira aberração” não se utilizar a transmissão da imagem à distância para fins pedagógicos.
O ensino à distância é assim uma modalidade do ensino indirecto (ou semi-presencial) e, até surgirem as redes sociais, considerava-se que era exclusivamente vocacionado para a aprendizagem dos adultos. Foi no contexto andragógico que, em 1979, esta metodologia de ensino começou a ser utilizada nos Cursos de Superação Permanente de professores em Angola, até ao início da década de 90.


Através desta metodologia “enraizada numa filosofia de aprendizagem aberta” e com base na psicologia da aprendizagem dos adultos, segundo Hermano Carmo, o estudante pode escolher: “O que quer aprender (conteúdos de aprendizagem); Onde quer aprender (local de aprendizagem); Como quer aprender (métodos e media); Quando quer aprender (ocasião do dia ou da semana)”. Mas não só. Atendendo às suas características de estudante-adulto, o mesmo pode ainda optar pelo “(...) ritmo a que quer aprender; a quem quer recorrer para aprofundar conhecimentos ou colher orientações metodológicas (equipa central ou centro de apoio local); a que sistema de avaliação se quer submeter (forma, altura e local) ”.


No ensino semi-presencial, há momentos em que professor e aluno se encontram durante determinados períodos do processo de aprendizagem, por exemplo, para o esclarecimento de eventuais dúvidas ou para a realização de provas de avaliação, normalmente, após o discente vencer um pequeno conjunto de questões do seu programa de trabalho (técnica dos pequenos passos também utilizada no ensino programado). Porém, face à descontinuidade geográfica, o critério da mediatização através da utilização de diferentes suportes (scripto, áudio, vídeo, informo) é o que melhor distingue o ensino presencial do ensino à distância e caracteriza este último como uma “modalidade de ensino que obriga a um processo de mediatização, para suprir a descontinuidade entre ensinante e aprendente”.

 

Todas estas estratégias se tornam indispensáveis à formação de docentes em exercício de qualquer nível de ensino, empenhados na elevação do seu nível académico e profissional; adolescentes em situação de emergência, tal como hoje ocorre face à actual pandemia; adultos carentes de instrução básica ou de qualificação profissional. Face ao índice de crescimento populacional e à insuficiência de professores e instituições de formação, como diria Deng Xiaoping, “quando não se tem cão, caça-se com gato”.


* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais