Luanda - O deputado pelo Grupo Parlamentar do MPLA, Monteiro Kapunga defendeu, ontem, em Luanda, a necessidade de o Presidente da República, João Lourenço, se afastar de alguns “amigos”, alguns dos quais integrados no Executivo e outros fora dele, que acabam por jogar alguma influência nas acções que este vem tomando nos últimos tempos.

Fonte: OPAIS

“O PR deve se desfazer de algumas influências”

De acordo com o parlamentar, que nos últimos tempos vem criticando algumas acções que considera inapropriadas, sobretudo na actual gestão do governador de Malanje, Norberto dos Santos “Kwata Kanawa”, muitas destas pessoas acabam por jogar um papel negativo no tratamento de questões que dizem respeito ao país.


‘É preciso que o Presidente saiba separar as águas, porque, senão, corremos o risco de o ver acusado de favorecimento deste ou daquele’, disse o parlamentar, garantindo mesmo que, muitas das vezes, há quem fique com a impressão de que alguns destes amigos “estão a ser melhor atendidos do que o próprio país”. Para Kapunga, que não quis ainda citar nomes, “alguns deles devem mesmo ser afastados”.


E acrescenta: “esta é uma das falhas que muitos vão registando, assim como eu próprio”. Reconhecendo no actual Presidente da República, João Lourenço, capacidades suficientes para conseguir corrigir algumas questões então descuradas durante a gestão do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, o também empresário considera que o êxito de algumas destas medidas só será possível com a criação de uma equipa coesa no próprio Executivo.


Na sua perspectiva, há rostos que estão no Executivo que são contestados em muitos sectores do próprio partido, mas que há muito deveriam ser já afastados da equipa de João Lourenço. “Não sei se a informação não lhe chega, mas ele tem pessoas que aí estão que não se identificam com a causa dele, nem estão do mesmo lado. Não querem nada com ele. Fazem parte do mesmo grupo que desde o princípio integraram aquela ala do MPLA que nunca quis que ele fosse Presidente da República e neste momento alguns dos seus integrantes continuam a agir da mesma forma”, comentou o político, garantindo que, apesar disso, a escolha foi também uma aposta de José Eduardo dos Santos.


Para o político, que identifica o actual Chefe de Estado como sendo membro da família real de Malanje, de que ele também diz fazer parte, outro cuidado a se ter é o dos nomes que são chamados para compor o Executivo. Embora seja necessário congregar e agradar determinadas sectores do partido, não se pode deixar de lado quadros com competência comprovada. “Um Governo deve ser equilibrado, embora aspectos étnicos até rácicos tenham que ser tidos em conta. Há alguns que estariam bem servidos, mas têm sido prejudicados, mesmo tendo ainda capacidade para contribuírem para o país”, comentou.


Consciente de que não existirão grandes “milagres” neste primeiro mandato, que já caminha no terceiro ano, o nosso interlocutor espera igualmente que João Lourenço consiga devolver ao MPLA os seus anos dourados. Segundo ele, esperavam ainda que, depois de tomada a liderança do partido, o novo presidente prestasse uma maior atenção ao que se passa nesta formação. Capunga esclarece que esse suposto afastamento do partido é também levantado por outros quadros e dirigentes do MPLA.

Congresso com múltiplas candidaturas


Sobre as informações que vão circulando sobre um possível alargamento dos mandatos do Presidente, prevendo-se mexida na Constituição, o deputado não se manifesta contra, desde que isso obedeça a discussões no seio da organização a que pertence. A seu ver, “neste primeiro mandato, ele não teve tempo, esteve a tentar olhar quem é quem ao seu redor”. “Está visto que, em alguns aspectos, algumas das acções do Presidente da república estão a ser sabotadas.


Se dependesse de mim, claro que ele até poderia fazer mesmo três mandatos, porque em pouco tempo não se consegue fazer muita coisa”, explicou Kapunga, acrescentando que “estes sabotadores não estão a nível dos militantes de base. É mesmo no topo e, sobretudo, alguns dos actuais e antigos integrantes do próprio Bureau Político do MPlA’. Nos últimos dias, alguns militantes do MPlA têm-se desdobrado em análises sobre a possibilidade de alargamento dos mandatos, o que desde já tem valido reprovação de alguns sectores da Oposição. Independentemente disso, o deputado é defensor de múltiplas candidaturas no próximo congresso dos camaradas, inicialmente agendado para o próximo ano.


“Mas também já se começam a levantar vozes no sentido de que o Presidente da república não deve ser ao mesmo tempo presidente do partido. São ideias que temos que analisar, por forma a cortar alguns vícios também. Numa fase de paz, talvez que se comece já a pensar muito bem sobre esta fórmula”, opinou.