Luanda - Ponto preliminar: “Quem ocupa primeiro o campo de operações, esperando o inimigo, é aquele que se garante em posição de força; o que chega depois, lançando-se ao combate, já está enfraquecido” - Sun-Tzu (543 a.C – 495 a.C).

Fonte: Club-k.net

A Covid-19 (SARS-Cov-2), é actualmente a maior tragédia letal do mundo, um fenómeno pandémico imprevisível que, em escassos meses, colocou aos seus pés economias robustas e poderosas, sistemas de saúde considerados como os melhores no ranking mundial, desconcertando políticas e estratégias, desertando cidades e isolando povos e nações.


A Covid-19, foi identificada pela primeira vez em Wuhan, na província de Hubei, República Popular da China, a 1 de Dezembro de 2019. A 11 de Março de 2020, aOrganização Mundial da Saúdedeclarou o surto como uma pandemia.


Em Angola, o Estado de Emergência foi renovado pela segunda vez, através do Decreto Presidencial no 128/20, de 8 de Maio, tendo em conta o quadro evolutivo da pandemia no país. Até à data, tem-se o registo de 43 casos de infecção por Covid-19, com 13 recuperados, 2 óbitos e 28 casos activos (em tratamento), destes 16 são casos de contaminação local.


A esta altura, o que mais importa para Angola e o mundo é a busca de estratégias e soluções para a resolução do problema que globalmente vem agravando a fome, o desemprego e arrastando economias para o colapso.

Neste grande e imprevisível combate Angola antecipou-se, mas tem necessidade de maior coordenação e celeridade de esforços entre os diferentes actores nacionais e internacionais envolvidos no combate contra o inimigo invisível. A união de esforços científicos e políticos é um factor primordial para a vitória desta crise pandémica.


Tal como referiu Antóno Guterres, Secretário Geral da ONU “Hoje deve haver apenas uma luta no nosso mundo, a nossa batalha compartilhada contra a COVID-19” (03/04/20).


Em ciência política, fala-se em perspectivas teóricas, dentre elas, surpreende- nos a perspectiva funcionalista, apadrianhada por Herbert Spencer e Emile Durkheim. Esta perspectiva “social” visualiza a sociedade como um sistema de partes interligadas. Em que todas elas actuam em conjunto, mesmo pensando e agindo de forma diferente. Instituições, tais como a família, a educação e a religião fazem parte do mesmo sistema social e actuam conjuntamente em busca da manutenção e da ordem social. Não existe uma única perspectiva que seja a melhor em todas as circunstâncias. As distintas partes da sociedade, embora desempenhando papeis diferentes, devem trabalhar em equipa para garantir a estabilidade de todo o sistema social.


Para melhor entendermos esta perspectiva, convém olharmos para o modelo biológico, utilizado por sociológos. A metáfora biológica compara a forma como funcionam os órgãos no nosso corpo, todos eles trabalham juntos e em perfeita harmonia para garantir e manter o bom funcionamento do corpo humano, cada um deles desempenhando o seu papel.


O mundo não vencerá gloriosamente a luta contra Covid-19, empreendendo acções combativas fragmentadas e desconjunturadas. Precisa-se urgentemente de uma estratégia política e científica conjunta alinhada, mas ajustada ao contexto de cada nação.


A era em que vivemos jã não é só a da competição do conhecimento, da informação e da tecnologia. Mais importante, estamos na era da criatividade. As nações devem ser mais criativas e céleres na definição de estratégias conjuntas para a total erradicação da Covid-19. Lembremos que o vírus também é criativo, é mutável e renova-se. As estratégias e as acções dos Estados não devem ser diferentes.


Temos vindo a testemunhar acções de coordenação regional e internacional a nível político, mas solução da questão não está só nas mãos dos políticos, reside, principalmente, nas mãos das equipas técnicas e de especialistas que pleiteando no terreno tudo fazem para forçar o recuo da pandemia. Destes, não se ouve falar de interação com os seus pares de outras latitudes (a nível bilateral ou multilateral) para a troca de experiências e conhecimentos técnicos/científicos.


Devemos promover espaços e oportunidades de interação entre especialistas para permitir a partilha de conhecimentos e experiências visando a identificação de estratégias mais apuradas e ajustadas de combate à pandemia. Este contingente não deve ficar em segundo plano no processo de trocas de experiências, dependendo apenas de directrizes da OMS, que já vem dando sinais de impotência neste combate.


Os BRICS falam na emissão de títulos para financiar a luta contra a Covid-19. A União Africana, através do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), lançou uma parceria público-privada com a iniciativa AfroChampions que visa angariar fundos de resposta à pandemia da Covid-19, para reforçar e melhorar a capacidade de intervenção do sector da saúde.


Paises da SADC reuniram-se recentemente em vídeo-conferência para abordarem questões relacionadas com a troca de experiências no domínio da investigação científica.


As equipas de técnicos e especialistas não interagem porquê? Acredito que os especialistas serão capazes de produzir soluções mais racionais se interagirem mais com os seus pares em outras latitudes.

Diz-se que as crises proporcionam oportunidades para a criatividade. As nossas universidades têm agora uma soberana oportunidade de se colocarem na linha da frente no processo de pesquisa, procurando ser criativas e colocar na mesa propostas cientítificas concretas para a erradicação local deste problema. Se pensamos que as medidas para solucionar o problema devem ser ajustadas à nossa realidade, quem deve pesquisar e contextualizar? Não são as nossas universidades e especialistas?


Já não precisamos de viajar para a China, o vírus já aqui está. Vamos limitar- nos a tratar e pronto?


“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas” Sun-Tzu (543 a.C – 495 a.C).

Simão Pedro