Luanda - Sou fã de Tânia de Carvalho. Admiro-lhe a cultura, o saber falar, a coragem, a agilidade mental. Entre outras e muitas qualidades. Na minha escala de valores, esta semana a Tânia deu um salto de canguru pela forma, absolutamente limpa, como se recusou a sustentar um debate pueril em que alguém a queria envolvida aqui no Facebook.

Fonte: Facebook

Sou fã da Tânia

A socióloga deixou claro que este país tem assuntos bem mais importantes do que discutir o sexo dos anjos. Tem toda a razão.


É assustadora a energia que muitos jovens despendem aqui nas redes sociais discutindo assuntos menores. A forma destemida como eles se atracam em torno de assuntos menores como as habilitações literárias de Adalberto da Costa Júnior e outras questiúnculas envolvendo a UNITA deveriam suscitar a reflexão de toda a sociedade.


Na verdade, Angola tem hoje diante de si problemas muito mais desafiantes do que a licenciatura do líder da Unita, o fait-divers de Isabel dos Santos sobre um falso passaporte, o mau ou bom cheiro de Matias Damásio, ou as lamúrias de Tchizé dos Santos.


Os jovens deste país deviam empregar as suas energias em discussões que valham a pena. Porquê não discutir o presente e o futuro do país? Porquê não começar a discutir, já, a Angola que sobreviverá à Covid-19?


Porquê não questionar a forma, muita vezes errática, como somos governados?


É muito estranho, mas a generalidade da juventude, nomeadamente aquela que tem acesso às redes sociais, desperdiça energias com assuntos que não lhe proporciona qualquer ganho.


Um post sobre as habilitações de ACJ ou sobre uma gralha da TPA suscita, infinitamente, mais likes e comentários do que um post sobre malversação de fundos públicos no Kwanza Sul ou sobre uma matéria estruturante para o país como é, por exemplo, a aprovação da lei que legaliza as escutas telefónicas.


Metade do país está a ferro e fogo por causa da malária, mas a generalidade dos jovens que frequenta as redes sociais não cobra respostas ao Governo; queima as suas energias discutindo o sotaque do secretário de Estado da Saúde ou a tissagem da senhora Sílvia Lutukuta. O Tribunal Constitucional bloqueia sucessivamente a legalização do PRA-JA, mas os jovens que frequentam as redes sociais preferem olhar para o lado, não se importando com os danos que essa birra do TC provoca à democracia.


O Tribunal Supremo coloca na presidência da Comissão Nacional Eleitoral uma pessoa de reputação duvidosa. E qual é a resposta da generalidade dos jovens? A indiferença!


Com a generalidade dos jovens que anda nas redes sociais entretida a queimar neurônios em coisas absolutamente banais, só pode mesmo crescer e consolidar-se a minha admiração por excepções como a Tânia de Carvalho, a “desaparecida” Sizaltina Cutaia e umas poucas.