Luanda - Há quem não aceite o termo falência da música e mais uma vez insisto no título desta peça, que não é do agrado de muitos aficionados e dos chamados donos da música. Mas volto a insistir no termo falência, porque é de facto o que assistimos no mercado onde além de não haver indústria, existem apenas alguns espectáculos de rotina.

Fonte: Club-k.net

As plataformas digitais, infelizmente não constituem solução viável, nesta altura em Angola, por terem acesso reservado a algumas pessoas que podem suportar o preço das subscrições. Além disso a música produzida não obedece aos padrões de qualidade sonora, exigidos pelas lojas de discos.


Os clientes das operadoras, pagam por desconto directo no saldo, a música que recebem no seu aparelho e nem o INADEC tem noção de quanto se factura ilicitamente neste jogo lucrativo de milhões, em que o consumidor e o artista, são duplamente enganados.


As vozes que desencorajam o fabrico do CD, não sabem que esta indústria não faliu, na maior parte dos países industrializados, e continua a resistir às turbulências do mercado tecnológico.


Calcula-se que só daqui há 15 anos se pode em Angola pensar em inovação tecnológica, quando a energia eléctrica e as facilidades de pagamento e o cartão de crédito fizerem parte da nossa realidade comercial.

OS NOSSOS ARTISTAS NO MUNDO DAS ESTRELAS


Veio-me à lembrança nomes de artistas que hoje navegam na maré alta da fama e nos fazem sentir orgulho por vê-los junto das estrelas.


Em Angola poucos são aqueles que a sorte projectou para longe e hoje constituem o orgulho de uma bandeira que ostentamos, fazendo vibrar os nossos corações de alegria e felicidade.


Estou a referir-me em primeiro lugar a Bonga, que, com o seu profissionalismo, bate recordes de espectáculos e vendas.


Vem a propósito aquele momento em que o actor norte-americano Willy Smith, lá longe no conforto do seu país, apontou o angolano Bonga, como um dos seus preferidos, cantarolando a canção, Bonga - Mona Ki Ngi Xica, que até hoje põe de sentido qualquer angolano, mesmo aqueles que ainda não eram nascidos, quando o atleta emprestado à música, lançou sob a chancela da Morabeza Records, o vigoroso hit, que anda gravado nos nossos corações.


Ao que sabemos, as palavras de Willy Smith tiveram um efeito boomerang na procura do CD e não sei se na altura, a editora Lusáfrica, que prensou o álbum em Paris teria respondido ao surto de procura que ocorreu após o elogio a Bonga.


O autor de “Velha Chica”, Waldemar Bastos é uma enciclopédia viva, depois de uma longa travessia no deserto, lutando contra ventos e marés vivas atingiu o topo da carreira ao ter o seu nome na World Music, equiparado a um Youssuf N´Dour, Cesária Évora, Bonga, Richard Bonan, Manu Dibango, que Deus tem, Ray Lema, Mory Kanté, Ricardo Lemvo, Papa Wemba e tantos outros ilustres nomes da canção africana.


No que toca a Bonga e Waldemar Bastos vale a persistência de terem conseguido moldar os seus estilos sem as interferências de quem quer que seja e impô-los a um público que não fala quimbundo, umbundo, kikongo ou outra língua nacional, mas vibram com as suas vozes e atracção magnética dos ritmos quentes de Angola, como diria Carlos Burity, numa das suas melodias.


A dupla Filipe Mukenga e Filipe Zau representa uma elite que faz a transposição dos ritmos populares de Angola, com a métrica moderna, constituindo um grupo onde vamos encontrar personalidades de nível, como Mário Rui Silva, Nelo de Carvalho, com telepatias a um naipe de jovens como Kizua Gourgel, Totty Sa Med, Afrikanita, Carlos Praia, Ndaka Yo Winy, Sandra Cordeiro, que fazem as delícias de uma elite que se afirma no domínio da música de inspiração jazzística.


A música instrumental tem individualidades como Belmiro Carlos, Brando, Constantino, Duía, Mário Arcanjo (Marito), Mário Fernandes, Zé Keno, Zé Mueleputo, à guitarra nos seus respectivos agrupamentos com uma classe de novos interventores, não suficientemente conhecidos no actual e débil mercado, mas que dão provas de atingirem o estrelato, quando a música angolana estiver em grande no mercado.


O guitarrista Teddy Nsingui emerge da Orquestra Interpalanca, de Matadidi Show. Trouxe de Kinshasa a malha rítmica congolesa e é hoje no mercado angolano um exímio executante de temas universais, com uma versatilidade e precisão, como poucos em Angola, que é resultante da sua ambivalência na execução da originalidade angolana e das margens do rio Congo.


No capítulo instrumental registem-se os projectos em saxofone lavrados por autores como Nanutu, Sanguito e outros que em palco aguardam o momento para se lançarem no mercado discográfico. E nos arranjos musicais? Betinho Feijó, Boto Trindade, Carlitos Vieira Dias e Belmiro Carlos, Mário Fernandes (RIP), Nanutu e Zé Keno (RIP) são figuras de proa numa disciplina rítmica em que são reis e senhores.

ANDRÉ PINTO