Luanda - Resumo: Os países da Europa, que são modelos de desenvolvimento para a África e, mais precisamente, para Angola, adoptaram as medidas de confinamento humano para travar a circulação do vírus e não para evitar que este chegasse nas comunidades como entendeu proceder o governo.

Fonte: Club-k.net

Estas medidas foram precipitadas. Mal imitadas. Pois, os países que haviam decretado o Estado de Emergência eram aqueles que já registavam, na altura em que o fizeram, a circulação comunitária do coronavírus. Portanto, impunha-se que as pessoas ficassem em casa, porque o vírus estava à porta.


Aqui, a 27 de Março, quando fomos obrigados a parar tudo, o vírus ainda estava só em pessoas viajadas ou voadas de outras atmosferas. Devidamente identificadas.


O governo diz que anteciparam tais medidas em compensação do frágil sistema de saúde que ele mesmo pariu. Mais uma vez, buscou soluções estrangeiras para resolver problemas locais. Nunca aprende a lição. Continua a nutrir muito amor pelo seu carrasco. Os governantes angolanos precisam frequentar um curso na universidade kimpa Vita ou noutra que esteja nas nossas províncias para aprenderem que nós temos um estilo de vida e um tecido social diferente dos países onde eles estudaram e onde estudam os seus filhos.


Quando nos obrigaram a ficar em casa pela primeira vez no inicio deste processo, estavam já a nos dar a tomar o antídoto antes mesmo do veneno. Então, já muitos morreram do antídoto e só dois do veneno. Só num país como Angola é que se morre mais da prevenção do que da própria doença.


Em Luanda, temos relatos de quatro crianças mortas vítimas da fome, conforme noticiou a rádio Eclésia na semana passada. Os pais das crianças disseram haver muita baixa na venda por causa do Estado de Emergência.

 

Das outras províncias, recebemos notícias de mortes por malária. Só no primeiro trimestre deste ano, morreram 130 crianças em Malanje; 240, no Huambo; na Huíla, morreram 460 crianças, só para citar os casos mais alarmantes. Mas a nível do país, a situação é mais assustadora: De Janeiro a Março, registaram-se mais de dois milhões de casos de malária e morreram mais de duas mil pessoas. Os números aumentaram em relação ao ano passado, porque já não temos um Ministério da Saúde extensivo para outras doenças. Temos agora, o ʽʽministério da covid-19ʼʼ como disse um jornalista durante a conferência de imprensa.


Estes são apenas os custos da prevenção, não ainda da cura. Pessoas pobres estão a ser sacrificadas porque é preciso proteger os seres iluminados e ungidos do Poder, que apesar de trazerem a doença, também eles e a própria doença merecem atenção especial na rádio e nos jornais, atenção presidencial com direito a uma conferência de imprensa diária, onde os números, tão ínfimos como são, fizeram parar a vida lá fora.


Se agora já se fala em transmissão local e que estamos a um passo da transmissão comunitária, então está a admitir o governo que as medidas de confinamento social falharam. As medidas mal imitadas da Europa não impediram que o coronavírus chegasse às comunidades.


O Estado de Emergência não resolveu o problema, antes causou outros problemas para a nossa sociedade como o crescimento do desemprego, o aumento da fome e a morte do jovem no Rocha Pinto. Talvez tivesse mais anos de vida para dedicar ao seu filho. A suspensão dos direitos fundamentais não impediu que os números da covid-19 chegassem a 45 até ontem.


Outrossim, desde o início desta pandemia, o nosso país registou dois mortos. Atenção que não eram pacientes que tinham iniciado o tratamento como doentes de covid-19. A confirmação de que tinham sido vítimas do coronavírus apareceu depois da morte deles. São dados encorajadores. É sinal de que, afinal, esta doença pode ser curada nos nossos hospitais.


Então, baixem a guarda, deixem as pessoas praticarem o livre comércio para poderem viver, abram as escolas e as igrejas, porque as medidas de confinamento não estão a resolver o problema para o qual foram decretadas.