Luanda - 1. Introdução: Pela primeira vez, desde que a CASA-CE existe, seu presidente (Almirante André Mendes de Carvalho – Miau) foi recebido oficialmente por um Presidente da República de Angola (General e historiador João Gonçalves Lourenço). Há já várias reacções no mercado político angolano: para uns, é a confirmação da aproximação entre a CASA-CE e o MPLA; para outros, é uma oportunidade para a CASA-CE resolver também, tal como a UNITA, seus pendentes eleitorais (exemplo, comissários à CNE) e para outros ainda, é a consolidação da era de diálogo entre a oposição e o regime, que pode reforçar o poder do MPLA ou propiciar alternância política. Vários jovens insistem que eu produza um parecer, na qualidade de sociólogo e analista, sobre o assunto.


Fonte: Club-k.net

AMEAÇA OU OPORTUNIDADE DE ALTERNÂNCIA POLITICA: CASO DE ESTUDO - CASA-CE

A minha qualidade de dirigente da CASA-CE levou-me a resistir. Mas, como desafio, a muito tempo, a conflitualidade dos papéis sociais de político (que deve usar o rigor, a ideologia e o interesse pelo poder político, como base para analisar a realidade e agir) e o académico (que deve usar as teorias, métodos, técnicas de pesquisa cientificas, o rigor imaginativo e equidistância em relação aos grupos que lutam pelo poder político, como base de análise dos factos sociais), resolvi reagir. Pois, a sociologia é a minha profissão e a política, embora uma vocação que respiro, é, para mim, uma missão temporária e com carácter filantrópico. Vamos aos factos.


2. FACTOS

2.1 A CASA-CE nasceu oficialmente no dia 03 de Abril de 2012, num dos novos bairros nobres de Luanda, no Centro de Convenções do Talatona. Este facto, até então, inimaginável para a oposição angolana e cujo impacto foi determinante na maneira como a juventude angolana encarou este novo actor político, escapou aos analistas políticos, mesmo os mais renomados. Quatro meses depois (Agosto de 2012), a CASA-CE participou das eleições gerais em Angola e obteve 8 deputados. Volvidos 4 anos, participou das eleições gerais de 2017 e obteve o dobro, 16 deputados. Este facto constituiu uma grande surpresa para a maioria dos analistas, por ser raro no mundo político global.


2.2 Em textos anteriores, ao explicar o segredo desta façanha política da CASA-CE, defendemos que, o modo como surgiu e o local onde a CASA-CE realizou, com muito sacrifício, o seu 1º Congresso é bastante simbólico e ajudou na sua trajectória. Por outro lado, apesar de a CASA-CE ter participado com as idades cronológicas de 4 meses, nas eleições gerais de 2012 e 4 anos, nas eleições gerais de 2017, tinha idade mental superior a 30 anos. Calculamos a idade mental da CASA-CE, através da média aritmética dos anos de vida (experiência) política dos principais dirigentes da CASA-CE, colocados nos órgãos de direcção central, intermédio, de base e nos seus braços, juvenis (JPA) e femininos (MPA), espalhados em todas províncias, municípios e comunas de Angola. A conclusão geral é de que, a média de idade mental (anos de vida e experiencia política) da maioria dos dirigentes em posições sociais de chefia na CASA-CE, entre 2012 e 2017, estava acima dos 30 anos. Verificamos, igualmente, que a maioria dos quadros da CASA-CE foi formada nas melhores “escolas políticas” do país (MPLA, UNITA, POCs, Movimentos Cívicos, associativismo estudantil e juvenil, grupos de pressão e de lobistas angolanas) e do exterior (URSS, EUA, Alemanha, França, Inglaterra, RDC, Zâmbia e África do Sul).


Este pormenor, aliado a tenacidade da sua juventude (mais de 80% dos dirigentes da CASA-CE eram e são jovens), as estratégias criativas adoptadas pela sua liderança, quadros e militantes, foram outros trunfos do sucesso político da CASA-CE que escaparam, igualmente, aos renomados analistas em Angola. Ainda hoje, com a saída do Dr. Abel Chivukuvuku e outros quadros qualificados, tendo em conta as qualidades dos que também ficaram, quem continuar menosprezar a CASA-CE, pode voltar a surpreender-se;


2.3 A CASA-CE, entre 2012 e 2017, alterou, completamente, a maneira de fazer política em Angola (mais e melhor aproximação e ou comunicação entre a elite política e as massas, realização de um grande número de micro-actos políticos num só dia e ou em pouquíssimos dias, ao nível nacional, com envolvimento (totalmente voluntário) de um grande número de jovens tenazes, com espírito de sacrifício e patriótico só comparável a dos jovens da época da luta anticolonial e da guerra civil angolana); mudou o sistema de partidos políticos em Angola (de bipartidário – MPLA e UNITA - para tripartidário – MPLA, UNITA e CASA-CE). Pois, exceptuando o MPLA e a UNITA, nenhum outro Partido Político em Angola saiu de 8 para de 16 deputados, desde a era multipartidária que iniciou em 1991); contribuiu, entre 2012 e 2017, na alteração do número de deputados, na Assembleia Nacional, do MPLA (que decresceu de 175 para 159) e da UNITA (que aumentou de 32 para 51). Deste modo, verifica-se que, num ambiente político bipartidário, o MPLA tem mais vantagem sobre a UNITA, pelo contrário, num ambiente tripartidário, a UNITA aproxima-se mais ao MPLA. As razões desta realidade, abordarei em outros textos. Resta saber se esta tendência vai ou não manter-se nas próximas eleições gerais de 2022. Mas, esta tendência depende da actuação da Oposição Política. Desde que surgiu o conflito interno na CASA-CE que temos notado e alertado, enquanto académicos, sobre erros de palmatória da oposição, susceptíveis de inverter esta tendência;


2.4 Não obstante os resultados eleitorais que a CASA-CE atingiu nos últimos dois pleitos eleitorais em Angola, do seu impacto na vida política do país e no sistema de partidos políticos angolano, nenhum presidente da CASA-CE (Abel Chivukuvuku e André Mendes de Carvalho) tinha sido, até então, recebido, oficialmente, por um Presidente da República (José Eduardo dos Santos e João Lourenço), mesmo tomando posse no Conselho da República e participando em cerimónias de cumprimento de final de ano, na Cidade Alta. Sobre este assunto, já houve vários questionamentos, sem uma resposta clara, o que suscitou sempre várias especulações. Mas, no dia 15 de Maio de 2020, o Presidente João Lourenço fez mais uma ruptura com a cultura governamental de seu antecessor e recebeu em audiência, pela primeira vez (8 anos depois da fundação da CASA-CE) um Presidente da CASA-CE, no caso, Almirante André Mendes de Carvalho (Miau) e, de igual modo, o Presidente do PRS, Dr. Benedito Daniel, depois de ter já recebido, no passado, o Presidente da UNITA, Eng.º Adalberto da Costa Júnior e várias figuras da sociedade civil, tidas pelo seu antecessor como antipatriotas, como por exemplo, Rafael Marques. A questão que não se cala é: porquê só agora? O que significa? Nós estamos mais interessados em saber o significado que estes encontros podem ter no processo de luta pelo poder em Angola;


2.5 Ao analisarmos a visita do Presidente Miau e de todos actores políticos e sociais à Cidade Alta, devemos relembrar que na tradição sociológica, os contactos, encontros e diálogos se enquadram nos processos sociais dinâmicos associativos que concorrem para mais aproximação, cooperação, interacção e concórdia, reforçando os laços entre os vários actores, grupos e, entre estes e a sociedade. Pelo contrário, a falta de contactos, encontros e diálogos se enquadram nos processos dinâmicos dissociativos, por afastarem e potenciarem um ambiente de desconfiança, conflitos e violência entre os actores, grupos e entre estes e a sociedade. Neste âmbito, estes encontros criam um ambiente de maior aproximação e reforçam a cultura de paz. Mas, para oposição, não basta que se reforce a cultura de paz, é importante que haja também cultura de alternância política ao poder detido pelo MPLA. Daí a necessidade de se analisar o impacto destes processos sociais dinâmicos associativos promovidos pelo Presidente João Lourenço;


2.6 Antes de tirar-se já conclusões precipitadas, é preciso relembrar também que, apesar da perca progressiva de deputados, por parte do MPLA, desde 2012 (com a entrada em cena da CASA-CE e do novo dinamismo da UNITA), este MPLA continua a ganhar, com ou sem fraude, as eleições, desde 1991, com uma maioria absoluta, que lhe permite decidir sozinha se vamos para esquerda, para direita ou direitinhos para o céu ou para o inferno… Por isso, caso o objectivo da oposição política seja ainda equilíbrio ou alternância política, precisa, agora mais do que nunca, de olhar para um “retrovisor”, e fazer uma “introspecção”, “auto-análise” e “auto-critica”, mas com a lamparina na mão, iluminando o caminho a percorrer e fixando metas claras, para cada etapa, evitando dar tiros e até rajadas nos seus próprios pés, como vem acontecendo, ultimamente. Caso não, o MPLA de JLO pode, não só, parar com a perca progressiva de deputados, por parte do MPLA, como voltar para os resultados eleitorais folgados das eleições de 2008. Pois, toda fraude eleitoral assenta na perícia e força ditatorial dos batoteiros e nos erros de palmatória e ingenuidade dos batotados!


2.7 Atenção: a nova geração angolana aguçou o sentido critico ao MPLA, mas também o questionamento do sentido estratégico da acção politica das lideranças na oposição! A reacção de que todos venderam-se é maior rajada nos pés da oposição. É o triunfo da estratégia de dividir para melhor reinar. Ninguém mais quer, nem promessas e nem lamentações. A nova geração só quer ou realização dos seus sonhos ou alternância política para realizar seus sonhos. Se o MPLA interpretar melhor os anseios desta geração e realizar as promessas, poderá ficar no poder mais 30 anos. Se a oposição angolana COMPREENDER melhor esta juventude, parar de lamentar e adoptar acção estratégica, desarma o poder ao MPLA.


Na vida social e, sobretudo, política nada acontece ao acaso. Por isso, haja diálogo inteligente, mas também laboratórios políticos, racionalidade, autocrítica e acção estratégica. Pois, o tempo provou que a oposição angolana precisa, para além de lideranças carismáticas e eloquentes, de lideres visionários e estrategas para mudar o jogo.


Rafael Aguiar, para Angola, África e o Mundo, com muito amor, gratidão e fé!