Luanda - A construtora portuguesa Gabriel Couto está a rever a sua estratégia por causa da pandemia, que afetou sobretudo a área internacional, mas já tem garantias de para recomeçar as obras em Angola e Moçambique dentro de semanas.

Fonte: Lusa

A estratégia está "com certeza a ser revista" porque "a pandemia trouxe impactos diversos", afirmou o administrador da empresa Tiago Couto em entrevista à Lusa, admitindo redução de custos, mas sem quantificar nem especificar em que áreas.


Em Portugal, logo que surgiu a pandemia a empresa adotou medidas "para dar todas as condições" a colaboradores, empreiteiros, subempreiteiros e fornecedores para que conseguissem trabalhar e fazer as suas funções, "cumprindo com normas de higiene e sanitárias" exigidas, explicou o gestor da construtora portuguesa.

Desta forma, além de não registar até agora nenhum caso de infeção entre os seus colaboradores em Portugal, conseguiu não ter "paragens significativas" nas várias obras em curso no território nacional, acrescentou.

Já na área internacional não pode dizer o mesmo. "Essa sim, até pela logística que envolve, acabou por sofrer mais", afirmou o responsável da construtora que opera em três países africanos e em outros três na América Central.

Em África, a empresa tem operações em Moçambique, onde está envolvida na construção de infraestruturas para o projeto de exploração de gás natural no país, com uma empreitada no valor de 60 milhões de dólares, em Angola e na Zâmbia.

Naquele continente, por causa a pandemia, foi necessário "fazer regressar os expatriados e os projetos acabaram por ser suspensos. Mas esperamos recomeçá-los nas próximas semanas", afirmou Tiago Couto.

Além disso, "temos delay [adiamento de alguns prazos] e suspensões de alguns projetos, como é o caso em Moçambique", salientou.

Em Angola, as obras em curso "tinham financiamento garantido", por isso não foram abrangidas pela suspensão dos contratos sem financiamento assegurado, anunciada pelo Governo angolano em 21 de abril, em plena pandemia, assegurou.

Segundo o gestor, a empresa já teve contactos com as autoridades angolanas e já tem "a certeza de que [os projetos] vão rearrancar naturalmente" em breve.

No caso de Angola, preocupa agora "o efeito que possa trazer para a economia" a "baixa do preço do petróleo, que é motivo de preocupação para todos", disse o gestor.

No entanto, "os mercados acabam por ser irracionais e penso que da mesma forma que o preço do petróleo teve uma quebra abrupta seguramente haverá uma retoma", afirmou.

Quanto a receios relativamente a um eventual aumento da dívida corrente, o gestor afirmou que, "até agora, Angola tem honrado os seus compromissos".

Por isso, "dentro da nossa estratégia, Angola é um país de grande relevância, onde já tivemos mais trabalho do que temos hoje, mas não deixa de ser um país estratégico", sublinhou.

Mas, realçou: "temos vindo a reduzir. Esta crise não é de agora. O mercado angolano tem vindo a reduzir a sua atividade em termos de investimento e obra pública".

Quanto a Moçambique, o gestor explicou que nas próximas semanas as obras vão arrancar. Por isso, já há colaboradores com voos marcados para os primeiros dias de junho.

Na América Central, a construtora portuguesa tem projetos nas Honduras, Nicarágua e El Salvador, mercados onde as economias acabaram também por ficar "praticamente suspensas" por causa da Covid-19, e como consequência os projetos da empresa ficaram parados.

Nalguns dos contratos que tinha nestes mercados, os técnicos acabaram por permanecer nos países para desenvolver projetos e engenharia.

Quanto, aos caminhos a seguir em termos internacionais pela empresa na sua estratégia revista, Tiago Couto concluiu que não será diferente da que está a ser seguida hoje. "Eu diria que temos um terço da nossa atividade em cada uma destas operações", afirmou.

Mas "grande parte dos ativos estão no norte de Moçambique", concluiu.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 346 mil mortos e infetou mais de 5,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Quase 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.