Luanda - Em visita à República Popular de China, observei a nova dinâmica da cooperação entre este país e o continente africano, num prisma de China para África. Visitei a feira de Guangzhou e discuti com empresários de sectores diversos. Estabeleci uma rede de potenciais parceiros comerciais nas operações com o mercado chinês. Tentei alguma aproximação com o Fórum China-Africa, instituição de promoção de cooperação entre a China e o continente africano.

 

* Economista, Consultor Internacional e Ex-funcionário das Nações Unidas
Fonte: Club-k

Impõe-se a tomada com urgência de medidas correctivas

Não vi empresas angolanas nas feiras chinesas para promover os produtos de Angola ou pelo menos para melhor conhecer os produtos chineses. Vi apenas alguns comerciantes, enfrentando obstáculos diversos, sem apoio nenhum, trocando dinheiro no mercado com todos os riscos, para comprar os produtos; e discutindo entre si como partilhar os custos de transporte e outros de mercadorias pertencentes a varias pessoas, que serão agrupadas num único contentor que conseguem encher com o dinheiro que têm. O único apoio que recebem é o dos intérpretes e guias, alguns dos quais são bolseiros angolanos ou melhor dizendo, estudantes angolanos à espera de uma bolsa que nunca mais chega.


Durante a minha estadia, realizaram-se os jogos paraolímpicos de Shanghai em Outubro de 2007 com a participação de 7.300 deficientes mentais e outros vindos de 164 países. Quase toda África esteve representada. Todos os países vizinhos de Angola participaram. Não houve nenhuma delegação desportista de Angola. Sei que não são os deficientes que fazem falta em Angola. Também sei que havia desportistas no meio dos nossos deficientes. O que não sei e não compreendo é o porquê da ausência de uma delegação desportista angolana nos Jogos para olímpicos de Shanghai. Já é tempo de preparar os futuros eventos.


Como se fosse uma picada de injecção que o asiático sabe bem dar com o seu Guanxi, era preciso a eleição em segundo lugar da Senhora Micaela Reis como Mis Mundo 2007 na Sanya, para reanimar a diplomacia angolana. Assim, de ameaça de revisão dos contratos assinados com a China, passou-se a mensagem tardia de felicitações e declaração de reconhecimento de Angola do apoio financeiro da China no momento em que os doadores tornaram as costas à Angola!


A abordagem da cooperação chinesa em termos de gratidão de Angola comporta o risco de induzir em erro de apreciação o justo mérito da opção chinesa da nossa politica de cooperação no actual contexto de globalização com os seus valores anti-sociais.


Esta abordagem não deixa de fazer ressurgir alguns reflexos do tempo de guerra fria, e incitar outros parceiros de Angola a adoptar atitudes de hostilidade em relação a China, e em relação a própria Angola, a tal Mulher bonita que todos os homens querem ter, mas que não tem inteligência de escolher o parceiro que lhe garante um futuro melhor.


A cooperação assim apresentada, pode condicionar as decisões relativas a atribuição de mercados, privilegiando-se critérios políticos susceptíveis de favorecer actos de corrupção de certos Funcionários com propensão ao ganho fácil.


Tratando-se de relações entre dois Estados, a cooperação com a China deve inscrever-se numa lógica estratégica de diversificação de parcerias com o objectivo de assegurar e estabilizar os fluxos de investimentos, a balança comercial, e tirar proveito das vantagens comparativas de oportunidades e da concorrência no mercado internacional. Assim todas as empresas, chinesas ou não, estrangeiras e nacionais, devem concorrer para obtenção de mercados com bases em critérios geralmente aceites.


Ora, vejamos: os contratos são negociados e assinados em nome de Angola com instituições financeiras chinesas por Governantes que tem um mandato limitado. Esses contratos de longo prazo envolvem empresas estatais da China. Do lado de Angola, não a empresas estatais implicadas para desenvolver-se uma verdadeira parceria “win-win” a nível empresarial. Como consequência, assiste-se à uma situação em que as empresas chinesas não criam empregos ao nível correspondente ao volume de investimentos realizados, não formam mão-de-obra nacional, não transferem nenhuma tecnologia nem tão pouco trocam experiencias com empresas angolanas. Elas importam tanto os materiais como a mão-de-obra. Portanto, corre-se o risco de perpetuação de um “modus vivendi” infeliz de taxas de incorporação local à tendência Zero que já se verificava com as empresas portuguesas e brasileiras.


Impõe-se a tomada com urgência de medidas correctivas

A situação é tão preocupante quando se sabe que muitas empresas estatais, as famosas U.E.E (Unidade Económica Estatal) foram fragilizadas quando não foram simplesmente desmanteladas ou privatizadas como resultado das politicas adoptadas, e do apetite de enriquecimento pessoal de alguns Funcionários. A imitação de politicas de Idi Amin na Uganda de 1972 e de Mobutu no Zaire de 1973, onde empresas confiscadas ou nacionalizadas foram atribuídas a familiares e amigos políticos, só podia dar os mesmos resultados: caos com efeitos nefastas. O Zaire de então, hoje RDC, ainda não consegue se levantar.


As mesmas causas produzem os mesmos efeitos


Declarados incompetentes em gerir as empresas estatais, muitos dos novos expositores agora Patrões, acharam-se competentes em gerir as suas próprias empresas nascidas das cinzas do parque empresarial que o Estado angolano herdou do regime colonial ou que criou nos primeiros anos a seguir a independência.


Eles ignoram que se a Gestão é do domínio da formação que eles não tinham como Gestores de empresas estatais, o empresariado é uma Cultura que também tão pouco tinham. Assim, alguns desses novos ex-Gestores agora Patrões limitam-se a reciclar fundos desviados do Estado a coberto de actividades económicas de suas empresas como se verdadeiras empresas se tratasse.


Tanto a Gestão da Coisa publica como a Cultura empresarial precisam de ser incentivadas. E de louvar-se as iniciativas de INAP na promoção de seminários para Gestores de empresas publicas. Este tipo de iniciativas devem continuar em todo o pai e a todos os níveis de governação da Coisa pública.


Não há dúvida que a China é realmente um parceiro estratégico para o desenvolvimento de Angola. Isso é uma razão de criar-se um quadro institucional de promoção da cooperação entre os dois países. Empresas angolanas devem beneficiar de apoio do Estado nas suas operações com empresas chinesas, e não só. Os contratos comerciais devem ser negociados e assinados entre empresas sem interferência dos Governantes. Isso passa pela reabilitação das empresas estatais e sua capacitação de forma a corresponderem com as exigências de nova parceria com empresas chinesas e outras. Essa parceria será assim uma oportunidade de troca de experiência entre as empresas.


Portanto, a diplomacia comercial deve se limitar a criar as condições do mercado, e deixar o lugar a uma cooperação empresarial criadora de empregos e geradora de rendimentos para os Angolanos, e facilitadora de transferência de tecnologia para empresas nacionais. Deve criar-se os mecanismos para uma cooperação directa entre as empresas, proteger os Operadores económicos nacionais acordando as facilidades de pagamento, de transporte, de seguro de bens e de pessoas, e o acesso dos mesmos aos fundos disponibilizados no âmbito da linha de crédito com a China. Contactos regulares entre as câmaras de comércio e outras associações profissionais de ambos os países são factores determinantes de uma verdadeira cooperação “win-win” ao serviço dos povos.