Moçâmedes - Quando João Lourenço tomou posse como Presidente da República, a maioria dos angolanos acreditava numa nova era, pois o País estava mergulhado numa governação corrupta, nepótica, anti-patriótica, anti-democrática, insensível, que causou desgraça para as populações. Era uma governação dirigida por um ditador, que usava a perseguição, retaliação, discriminação, assassinato aos oponentes para se manter no poder aproximadamente meio século.

Fonte: Club-k.net

A Maquilhagem Política de João Lourenço

A nova roupagem do discurso de João Lourenço alicerçada em "melhorar o que está bem e corrigir o que está mal" levou uma parte da sociedade angolana a se apaixonar por ele algum tempo. Todavia esta paixão hoje está se transformando em desilusão.

 

Na cerimónia de investidura como PR, JLO disse e cito: "A Justiça desempenha um papel central no resgate do sentimento de confiança nas instituições do Estado, porque os cidadãos precisam de acreditar que ninguém é rico ou poderoso demais para se furtar a ser punido, nem ninguém é pobre de mais ao ponto de não poder ser protegido." Fim da citação.

 

Hoje qualquer cidadão atento dá conta que há justiça selectiva onde os tribunais são instrumentalizados pelo poder Executivo para perseguir aqueles que não convém a JLO no seio dos camaradas e aqueles que constituem uma ameaça na disputa política no caso de Abel Chivukuvuku onde o seu projecto político PRA-JA está a ser sucessivamente chumbado pelo TC cumprindo "ordens superiores".

 

Esta justiça selectiva ou perseguição às pessoas através dos tribunais é visível publicamente. Ora vejamos, o antigo Ministro dos Transportes, Augusto Tomás após a sua exoneração foi impedido de tomar o seu assento na Assembleia Nacional como Deputado e foi logo capturado, julgado e condenado, mas estamos ver alguns indivíduos exonerados de cargos de Governadores Provínciais e não só, mesmo tendo processos na PGR estão a tomar seus assentos na Assembleia Nacional.

 

Também é do domínio público, que há alguém com um processo crime a responder, processo este transferido da justiça portuguesa, mas infelizmente diante desta matéria até hoje a nossa justiça não tugem nem mugem e o mesmo anda escondido no parlamento. Daí os analistas políticos e a sociedade em geral acusar o parlamento angolano de esconderijo de alguns indivíduos que saqueram os fundos públicos causando miséria para o Povo. Estas práticas deitam por terra uma das bandeiras de JLO de combate a corrupção e impunidade.

 

Ainda na investidura o PR disse que: "Pretendemos igualmente aprofundar o Estado Democrático de Direito, reforçando as instituições e propiciando o exercício integral da cidadania, com uma acção mais incisiva da sociedade civil." Acrescentou ainda que: "Vamos reforçar a ligação e a colaboração institucional entre os três poderes do Estado, para que cada um deles cumpra o seu papel e a sua acção independente, contribuindo assim para o reforço do nosso jovem sistema democrático. O nosso lema será: Renovação e transformação na continuidade – Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.

 

Penso que o PR está a ser contraditório entre o que ele diz e o que faz, pois tem se dito que palavras sem obras é como tiros sem balas. Não fica bem para um Chefe de Estado inspirar-se em estratégia da distração de Noam Chomsky (10 estratégias de manipulação das massas - Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas) segundo a qual: "O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes."

 

JLO através do Bureau Político do MPLA ao usurpar interferir nos actos do TC para inviabilizar o PRA-JA, ao usurpar competências do Presidente da Assembleia Nacional, por exemplo quando anunciou a transmissão em directo das sessões parlamentares adicionada a justiça selectiva, demonstra inequivocamente que não há separação entre os três poderes do Estado para que cada um deles cumpra o seu papel e a sua acção independente conforme defendera JLO.

 

O mesmo PR que prete aprofundar o Estado Democrático de Direito, reforçando as instituições e propiciando o exercício integral da cidadania, é o mesmo Chefe do Bureau Político do MPLA, que instrumentaliza o Tribunal Constitucional para perseguir Abel Chivukuvuku, inviabilizando o seu projecto político PRA-JA, que mesmo com 32 mil assinaturas recolhidas, autenticadas através de Atestados de Residências passados pelas Administrações Municipais e muitas delas reconhecidas pelos Notários, o TribunalConstitucional cumprindo orientação política diz que as assinaturas são inválidas. Neste caso o TC está desqualificar os Órgãos do Estado em todo território nacional, acusandos-os indirectamente de emitir documentos falsos. Será que estamos diante de um "Estado delinquente" com Órgãos que emitem documentos falsos ?

 

Quando analiso a discrepância entre o discurso e a prática do JLO, faz-me lembrar a máxima segundo a qual: "Quem não não sabe o que procura não compreende o que encontra". Hoje o combate a corrupção transformou-se numa falácia, pois os governantes continuam a roubar os fundos públicos cabimentados para os vários projectos do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) e não só, a promessa dos 500 mil postos de emprego é uma utopia, a condição de vida dos cidadãos agrava-se todos os dias.

 

Parece que o desespero político vai tomando conta do JLO e com isso perde o foco e ataca tudo e todos através dos tribunais (alguns camaradas que ele rotulou de "marimbondos" e Abel Chivukuvuku/PRA-JA), do Gabinete da Acção Psicológica que visa distrair a sociedade, atacar e desacreditar dirigentes da oposição com muita influência, a título de exemplo, o Presidente da UNITA Adalberto Costa Júnior. Se o PR não estiver atento no final das contas será igual ou pior que JES.

 

Acho que o PR ainda vai a tempo de parar e reflectir sobre a Angola que quer para os angolanos e no mínimo procurar ser fiel às suas palavras na tomada de posse e não só. Se JES não é uma referência para a juventude por razões já referenciada, JLO devia ter outra postura governativa para que sirva de referência para a juventude e as futuras gerações.

POR ANGOLA E PELOS ANGOLANOS JUNTOS PODEMOS !

Moçâmedes, 29 de Maio de 2020

Por Sampaio Mucanda