Luanda - Faz hoje um ano desde o dia da inumação dos restos mortais do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, no cemitério da família, na aldeia de Lopitanga, no Município do Andulo. Com ele, realizamos o sonho da democratização do país, com a assinatura dos Acordos de Bicesse, em maio de 1991, que puseram fim ao sistema de partido único, abrindo o país à institucionalização do sistema democrático multipartidário em Angola. Valeu a pena o sacrifício consentido por todos angolanos que deram as suas vidas para a conquista deste ideal.

Fonte: Club-k.net

Somos, de facto, parte de uma geração singular que testemunhou o fim do colonialismo português e o nascimento do Estado angolano em Novembro de 1975. Passados 45 anos, buscamos na memória do tempo, relembrar os caminhos difíceis, que até então percorremos. De facto, presenciámos, nessa época, mudanças importantes que ocorreram num clima de muita tensão e conflitualidade, marcadas por encontros e desencontros entre as lideranças dos três movimentos de libertação nacional. Vitoriosos da luta contra o colonialismo português, mas incapazes de construir a unidade entre si, continuaram amarrados na lógica dos respectivos programas maximalistas. Tinham cumprido a sua missão com heroicidade, esmagando o colonialismo português, mas trilhando cada um o seu próprio caminho, vítimas de um nacionalismo fracturado.


Gorado todo este esforço de construir a unidade, o Dr. Savimbi, líder fundador da UNITA, empenhou-se, nesse período de transição, na promoção de iniciativas diplomáticas de vulto que culminaram com a realização de vários encontros, levando à assinatura dos Acordos de Alvor, em Portugal, em janeiro de 1975, entre o governo português e os três movimentos de libertação Nacional. Estes encontros foram os seguintes:


(1)O encontro de Kinshasa, de 25 de Novembro de 1974, entre duas delegações, da UNITA e da FNLA, chefiadas pelos respectivos Presidentes, Jonas Savimbi e Holden Roberto;


(2)As conversações na cidade do Luso, hoje Luena, capital da província do Moxico entre delegações da UNITA e do MPLA, nos dias 10 e 18, de dezembro de 1974, chefiadas pelos respectivos presidentes;


(3)A cimeira de Mombaça, Quénia, de 3 a 5 de Janeiro de 1975 que instituiu uma plataforma comum para as negociações directas com o governo português, que levaram a formação do governo de transição para conduzir Angola à independência nacional;


(4)A assinatura dos Acordos de Alvor, no Algarve, Portugal, a 15 de Janeiro de 1975, pelo Governo Português e os três Movimentos de Libertação Nacional de Angola.


Perante a violações dos Acordos de Alvor pelo Presidente Agostinho Neto, com apoio da então União Soviética e conivência do então governo Português, o país mergulhou numa guerra civil atroz.


Mesmo assim, o Dr. Savimbi promoveu a Cimeira de Nakuru, no Quénia, em junho de 1975 que não surtiu os efeitos desejados; tendo, mais uma vez, reafirmado na 12ª Conferência da OUA, diante dos Chefes de Estado e de Governo, presentes no acto, realizada a 30 de julho de 1975, em Kampala, Uganda, a sua firme vontade de contribuir para a construção da paz em Angola. Lamentou a ausência de Holden Roberto e de Agostinho Neto, previamente convidados para essa conferência para se encontrar uma solução definitiva para os problemas de Angola.


Perante essa crise que se aprofundava, mergulhando o país num conflito fratricida, a então União Soviética e o governo português tinham grandes responsabilidades pelo fracasso de todas as iniciativas diplomáticas, encetadas pelo Dr. Savimbi para salvar os Acordos de Alvor. De facto, tanto a Rússia como Lisboa tinham uma outra agenda.


A União Soviética tinha um objectivo claramente expansionista. Agindo na base ideológica do marxismo-leninismo, na vertente do internacionalismo proletário, justificava o seu expansionismo com base na luta do proletariado mundial. O MPLA assumia o marxismo como sua ideologia. Deve relembrar-se que o apoio soviético ao MPLA começou logo em 1961, quando recebeu em seu território os primeiros estudantes bolseiros da União Geral dos Estudantes da Africa Negra (UGEAN), onde figuravam vários estudantes do MPLA.


Pouco depois, Mário Pinto de Andrade e Viriato da Cruz, deslocaram-se a Moscovo com o propósito de pedir apoio em armamento. Em 1965, guerrilheiros do MPLA foram enviados para a Polónia e União Soviética para frequentarem cursos da Marinha de Guerra e da Força Aérea. Em 1966, seguiram para Cuba guerrilheiros do MPLA para formação militar, enquanto outro grupo se encontrava na Ucrânia.


Perante este quadro, surgiu a UNITA, em março de 1966, fundada pelo Dr. Savimbi, na província do Moxico, localidade de Muangai, com o propósito de reafirmar perante os angolanos e o mundo, a sua vontade de instaurar em Angola um sistema democrático, um projecto pelo qual deu a sua vida, assente nos em princípios que são a força motora que nos faz andar, a saber: (1) Liberdade e independência total para os Homens e para a Pátria Mãe;

(2)Democracia assegurada pelo voto do povo através de vários partidos políticos;
(3) Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados, primando sempre os interesses dos angolanos;
(4) Igualdade de todos angolanos na pátria do seu nascimento;
(5) Na busca de soluções económicas, priorizar o campo para beneficiar a cidade.


Alcides Sakala