Lisboa - Será que a hierarquia da Igreja Católica em Angola não comunga de princípios como a Verdade, Justiça, Caridade e Liberdade plasmados na emblemática Carta Encíclica do Sumo Pontífice João XXIII? A pergunta é de Jorge Eurico a propósito do facto de o professor universitário, político e jurista, Nelson Pestana "Bonavena" (que elegeu a caneta e o verbo para combater, de peito aberto, as injustiças sociais, económicas e a Democracia condicionada vigente em Angola) ter sido proscrito, à boa maneira da "Enciclopédia Soviética", do quadro docente do Instituto Superior João Paulo (ISUJP), instituição de ensino pertencente à Igreja Católica em Angola. Por sua vez, Eugénio Costa Almeida recorda, no mesmo âmbito, Fernando Macedo e Marcolino Moco.

Fonte: Noticias Lusofonas


O Notícias Lusófonas pediu ao Jornalista Jorge Eurico e ao académico e mestre da Lusofonia Eugénio Costa Almeida uma análise à situação.


Por Jorge Eurico

Subserviência da Igreja ao MPLA coloca académicos no desemprego - Noticias Lusofonas


Sou filho de pais católicos fervorosos. O meu pai era um dedicado seminarista e, tanto quanto suponho, cultor incansável do saber. Era um exímio tocador de piano e acordeão. Para além do francês, falava e escrevia fluentemente latim e grego. Não tinha (nunca teve), diz com quem ele privou, problemas com "José Maria Relvas"; isto é, falava português de forma irrepreensível.


A minha mãe fez-se mulher nas madres e foi, durante anos, uma das vozes mais sonantes do coro da Sé Catedral da então Nova Lisboa. Era uma menina prendada. Hoje é, fruto da sua educação católica, uma mulher de muitos predicados. É uma mãe que só não dá aos filhos, e não só, o que não tem ou o que não pode dar.


Os meus pais sempre foram tementes a Deus, sempre acreditaram piamente na Doutrina Social da Igreja Católica. Por isso também fui educado a ser temente a Deus.


Apesar de já não ser praticante há já algum tempo, considero-me católico por fé e cultura familiar. Prova disso é que à excepção do matrimónio, tenho (os meus irmãos também) todos os sacramentos. E até prova em contrário, acredito que a (minha) Igreja Católica é uma instituição de bem.

 

A minha fé e crença em relação à Igreja Católica aprofundou-se ainda mais quando o neto da velha Marica Faria, natural do Cazengo (hoje Ndalatando), ofereceu-me, aqui há uns anos, a "Carta Encíclica Pacem in Terris do Sumo Pontífice Papa João XXIII", que versa sobre a Paz de todos os Povos na base da Verdade, Justiça, Caridade e Liberdade.


E é por acreditar piamente que os ministros de Deus na terra caucionam o Direito à existência (do ser humano) e a um digno padrão de vida que me apraz colocar, já a seguir, algumas inquietações aos doutores e à hierarquia da Igreja Católica em Angola:


Será (in)verdade que parte da hierarquia da Igreja Católica está conluiada com poder (MPLA) em Angola, ao ponto de ter sido induzida a colocar o jornalista Armando Chicoca, correspondente da Emissora Católica de Angola (ECA) no Namibe (antigo Moçamedes), no desemprego?


Será (in)verdade que parte da hierarquia da Igreja Católica está mancomunada com o poder (MPLA) em Angola, ao ponto de ter dispensado a colaboração do professor universitário Nelson Pestana "Bonavena" do Instituto Superior João Paulo II?


Será (in)verdade que parte da hierarquia da Igreja Católica está feita com poder (MPLA) em Angola, chegando ao cúmulo de a CEAST ser (tão) intolerante em relação às opiniões do jovem Domingos da Cruz?


Será (in)verdade que parte da hierarquia da Igreja Católica está conluiada com o poder (MPLA) em Angola, ao ponto exonerar o padre Raúl Taty das suas responsabilidades a nível da Diocese de Cabinda por causa das suas ideias?


Será que a hierarquia da Igreja Católica em Angola não comunga de princípios como a Verdade, Justiça, Caridade e Liberdade plasmados na emblemática Carta Encíclica do Sumo Pontífice João XXIII?


Quero crer, do fundo do meu ser, que tudo isto não é verdade, mas sim de (má) publicidade que em nada abona o (bom) nome da Igreja Católica em Angola e da CEAST em particular.


Por Eugénio Costa Almeida


Será que ainda não compreenderam que na Academia não se cala a Investigação e que tudo deve ser dito com clareza e frontalidade mesmo que isso provoque urticária ao Poder?


Não andam alguns dos nossos dirigentes a recuperarem tempo anteriormente perdido – ou temperado – nas tarimbas da política voltando às Universidades para melhor compreenderem a vida social e política e académica?


Então como se compreende que personalidades como Fernando Macedo, Marcolino Moco e, mais recentemente, Nelson “Bonavena” Pestana seja ostracizados em certos sectores da vida social e política só porque têm pensamentos académicos e sociais que não se enquadram nos habituais parâmetros daqueles que não gostam de ser verem contrariados.


Se os dois primeiros, ainda assim, estão a leccionar numa Universidade privada onde podem colocar o seu saber e a sua investigação ao serviço da academia já Nelson Pestana teve como prenda de Natal, o “direito” a ver a sua colaboração com o Instituto Superior João Paulo II ser colocado em causa e receber como prémio o “direito” a ir para o desemprego.


Tudo porque, segundo parece, alguns prelados, que terão visto alguns dos seus habituais e infindáveis fundos serem “congelados” pelo Vaticano que considera ser obrigação das Igrejas nacionais trabalharem para o seu próprio sustento, andam a pressionar quem “contraria” o Poder para que este não deixe de fazer cair o kumbu que lhes faz falta para a sua manutenção social.


Também a Universidade Católica onde, ainda, o Doutor Pestana (será que há muitos em Angola que possam colocar este título académico por extenso?) tem sido pressionada no sentido de prescindir dos serviços de um angolano que tem colocado as causas académicas e sociais, nomeadamente, os Direitos Humanos, a favor do desenvolvimento social de Angola.


Felizmente ainda há quem consiga manter a coluna vertical e não se submeter aos ditames dos que se submergem ao Poder e ao kumbu em contraste ao que determina as mais nobres princípios de solidariedade cristã, principalmente nesta época natalícia e de Boa Vontade.


Talvez por isso é que se vê a CEAST verberar artigos de opinião que lhe são contrários, padres católicos riscados das suas dioceses, jornalistas da Emissora Católica afastados por ordem de um qualquer poder autárquico, ou, pasme-se, haver prelados que já admitem a actual manutenção da Emissora Católica no seu “habitual” circunscrição, ou seja, só em Luanda para não se verem desfavorecidos pelo Poder.


Será que o Vaticano saberá destes factos estranhos e desta – parece, e só posso dizer parece – estranha subserviência ao Poder instituído?