Cabinda - No pretérito dia 19 de Dezembro foi exarado um Decreto Episcopal que me suspende do poder da ordem e me retira o direito de habitação canónica. No dia 23 de Dezembro, num comunicado difundido pelos órgãos de comunicação locais e estrangeiros, o Prelado da Diocese deixa claro que eu teria solicitado voluntária e livremente a demissão do estado clerical. Tendo em conta a perplexidade e a confusão que estes dois factos estão a causar, achei em nome da verdade, expor-vos o seguinte:

 

Fonte: Club-k.net


Aos

Colegas no Sacerdócio

Fieis católicos da Diocese

Família e amigos


Graça e Paz da parte do Senhor.


1.Há cerca de dois anos foi-me levantada a suspensão que me fora imposta juntamente com outros seis colegas do Presbitério. De seguida o Bispo deu-me a afectação pastoral para me ocupar da comunidade de Cristo Mbonde.


2.Tendo ponderado a situação da flagrante e escandalosa divisão em que está mergulhada a igreja diocesana, agravada ainda pela situação doutros colegas ainda suspensos e dos colegas afastados, sugeri ao Bispo algumas iniciativas para o reencontro e a reconciliação da família diocesana. Foi tudo recusado porque o assunto dependia da Santa Sé. Acto contínuo confessei ao Bispo que não tinha condições espirituais e humanas para retomar plenamente o ministério.


3.Durante estes últimos dois anos o Bispo e eu dialogámos várias vezes sobre a minha situação e fui sempre claro em manifestar a minha inconformidade com o arrastar da situação da diocese sem qualquer horizonte de normalização.


4.Foi neste sentido que enderecei uma carta ao Cardeal Prefeito para a Congregação dos Povos, Sua Eminência Ivan Dias. Na mesma manifestei a minha recusa em retomar imediatamente o ministério na Diocese e a minha disposição em largar tudo para não agir contra a minha consciência. Sobre esta carta nunca obtive qualquer resposta da Santa Sé.


5.As coisas precipitaram-se nos últimos tempos quando o Bispo me comunica que o tempo estava expirado e que a Igreja já não podia esperar mais. Fez-me então saber por escrito que tinha decidido começar o processo da minha exoneração das obrigações da ordem. Diante dessa pressão, limitei-me a encorajá-lo a fazer o que tinha para fazer…


6.O actual decreto do Bispo deve ser visto como corolário de todas essas premissas e só pode ser entendido no contexto da crise da igreja de Cabinda. Atesto, por isso, que recebi convites reiterados para trabalhar com o Bispo e eu declinei-os. Se nesta igreja já não tenho espaço para continuar a lutar pelas causas que abracei, então sacrifico o meu sacerdócio para que seja semente do bem que um dia há-de triunfar. Enquanto houver ar para respirar neste mundo e pulmões para fazê-lo, vou continuar a bater-me pela verdade, pela justiça e pelas aspirações mais sagradas deste povo.


Agradeço, para terminar, aos meus colegas Presbíteros por tudo o que partilhámos ao longo dos meus dezoito anos de sacerdócio. Agradeço especialmente aos cristãos leigos, família e amigos que me ampararam sempre com afecto e dedicação.


Cabinda, 24 de Dezembro de 2009. P. Raul Tati

 

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