Luanda - Alguns linguistas e académicos angolanos, talvez devido ao populismo ou insuficiência de análise linguística apregoam o “português angolano”. Com efeito, para se propor um eventual “português angolano” é necessário que ele tenha uma considerável base de palavras e regras gramaticais, que permitem ferir se um dos seus utentes usa correcta ou erradamente as suas palavras e expressões e as suas regras gramaticais, nomeadamente os pronomes - “õ li amo e ela mi ama”. Portanto, nós s’amamo”, por exemplo.

Fonte: Club-k.net

Os angolanos gostam muito de imitar. Imitar não é mal. Contudo, para se o fazer é mister que se analise realidade de cada país - a realidade linguística de cada país. Quanto ao país com mais falantes do português, devo dizer que o Brasil, tem várias influências linguísticas, nomeadamente, dos povos originários do Brasil, dos portugueses (colonizadores), africanos (escravos), asiáticos (refugiados e comerciantes), povos árabes e grandes comunidades europeias, nomeadamente, de holandeses italianos alemās. No Brasil, no Estado de São Paulo, visitei Holambra, uma comunidade de holandeses. Cada um desses povos, organizados ou não em comunidade, contribuíram para o alargamento lexical do Brasil. Estudando espanhol, conclui que há algumas palavras do castelhano que fazem parte do vocabulário dos brasileiros, tais como “gramado” (relva), “porteiro” (guarda-redes), “esmalte” (verniz). É importante dizer que muitos pratos brasileiros têm a denominação dos países de que eles são originários. Por isso, há um elevado número de palavras que os brasileiros usam forma uma relevante base linguística, o que lhes permite fazer referência ao português do Brasil. Além dos vocábulos absorvidos, há alguns aspectos gramaticais de influência espanhola e italiana, nomeadamente “te amo”.

 

Em relação a Angola, não houve uma diversa e ampla ocupação de povos de diferentes continentes. A presença de diferentes povos explica a heterogeneidade da cultura braseiras, nomeadamente, no que toca à diferença linguística e a diversidade da sua gastronomia.

 

A influência do português brasileiro no espaço lusófono remonta o início da exibição de novelas brasileiras, que são muito consumidas nos países de expressão portuguesa, nomeadamente, em Angola. Por outro lado, as revistas religiosas, como “Despertar” e “Sentinelas” influenciaram a ortografia dos seus leitores. Mais do que as revistas, as igrejas de origem brasileira exercem um grande influxo no português oral dos seus fieis. As transmissões radiofónicas e televisivas, rapidamente, aumentaram essa influência, de tal modo que há jovens que pronunciam [na.ci.ô.’nau], em relação à palavra nacional. Por outro lado, grande parte dos angolanos usa expressões erradas usadas pelos brasileiros, como “esse aqui”. Em Angola, por vaidade, em alguns casos, e por falta de identidade linguística dos angolanos, particularmente, dos jovens, muitos deles não só acabaram por absorver as palavras de origem brasileira, mas também a dicção dos brasileiros.

 

Não existe português angolano, pois não há um suporte lexical para se reivindicar uma versão angolana do português.

 

Os linguistas angolanos precisam de trabalhar muito mais. Além disso, devem ser coerentes nas suas abordagens sobre a temática em análise.

 

Aproveito a oportunidade para pedir aos estudiosos da línguas regionais angolanas para alargarem o seu âmbito lexical, visto que elas são paupérrimas em termos de vocabulários. Infelizmente, na oralidade, os utentes dessas línguas têm de socorrer das palavras do português. Do exposto, chego à conclusão de que as línguas regionais angolanas não são autónomas. Elas precisam das “muletas” do português na formação de muitas frases. Tenho a certeza de que muitos pseudo-defensores das nossa língua não gostarão desta constatação. Eu vejo alguns programa em línguas regionais angolanas, pois me interesso nelas.

 

Para terminar, peço aos leitores para que indiquem um bom utente do “português angolano”. Quem sabe um desses estudiosos que falam a tuga, isto é, a português.

José Carlos de Almeida