Luanda - A UNITA, maior partido da oposição angolana, defende que a retoma das aulas no país deve ter "em boa linha de conta" fatores objetivos e importantes, como a proteção e segurança de estudantes e professores.

Fonte: Lusa

A posição foi hoje expressa pelo deputado Raul Danda, que falava na qualidade de primeiro-ministro do governo sombra da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), numa conferência de imprensa sobre a Situação Socioeconómica e Estado do Ensino em Angola.

 

"É necessário e importante que as aulas sejam retomadas, sim, mas que isso se faça com o máximo cuidado para preservarmos a vida de professores e estudantes", disse o primeiro-ministro do governo sombra da UNITA, acrescentando que o partido atribui valor e importância à vida e à dignidade da pessoa humana e "não simplesmente ao cumprimento do calendário, reiniciando as aulas a qualquer custo".


O ano letivo em Angola está suspenso desde março, quando começaram a surgir os primeiros casos de covid-19 no país, tendo até à presente data sido contabilizados um total de 197 casos positivos, dos quais resultaram dez óbitos e 77 pessoas já recuperaram.


O político frisou que o país tem escolas "sem água, sem casas de banho funcionais, sem luz", considerando "uma dificuldade terrível" a situação dos estabelecimentos de ensino angolanos.


"Estivemos recentemente no Cuanza Sul, fomos visitar a escola de formação de professores, em Porto Amboim, aquilo é uma desgraça, as pessoas quase que andam de peito aberto por causa do calor, o ar condicionado consequentemente não funciona, enfim, aquilo são condições desgraçadas quer para quem está a dar aulas, quer para quem está a receber estas aulas", descreveu.


Raul Danda defendeu, dada a importância da educação, que é preciso pensar-se primeiro nos professores e alunos "e não os empurrar de qualquer maneira como se estivessem a ir para o palco da morte. Não pode ser".


"Precisamos de ponderar, ver quais são as condições, apesar de nós, angolanos, como quaisquer outros cidadãos do mundo, termos de aprender a conviver com a covid-19, mas não é ir de qualquer maneira, por isso é que a gente vê outros países que se apressaram em tomar algumas medidas a recuar, nomeadamente no que diz respeito às aulas", disse.


Relativamente à situação do ensino em Angola, tema da conferência de imprensa, Raul Danda criticou a baixa fatia do Orçamento Geral do Estado (OGE) destinada a este setor, em detrimento da defesa e segurança.


"As verbas atribuídas à educação foram de 3,4%, em 2018, 6,46%, em 2019, e 4,52%, em 2020, vejamos a distância que estamos dos preconizados 20%", indicou Raul Danda, numa alusão à dotação orçamental atribuída ao setor na Comunidade de Desenvolvimento de Países da África Austral (SADC).


Para a UNITA, as soluções para uma melhor qualidade de ensino no país passam por uma estruturação do ensino de uma forma conveniente, "não tendo professores-bombeiros".


"Que se pense que um professor pode dar aulas até à sexta classe, dar tudo (todas as disciplinas), não há ninguém que possa dar tudo, tirando aquelas classes de base, mas não se vai até à quinta e sexta classe a pensar-se que há um professor-bombeiro que depois dá todas as cadeiras. É preciso corrigir isso", sublinhou.


Por outro lado, defendeu, é preciso também valorizar o professor e olhar para as condições de estudo.


"Como é que estão as nossas escolas? As crianças estão em condições de estar lá todo o período da manhã, todo o período da tarde? Temos escolas apetrechadas para podermos ter uma boa aula de física, de química?", questionou.