Menongue - Nascida na cidade de Menongue em 1972, Ana Bela Baptista Tchindandi, ou melhor, Bela Tchindandi, para os mais chegados - devido a guerra que assolou o país, e o Cuando Cubango em particular, deslocou-se para a província do Lubango em 1980, com a sua mãe, funcionária pública na altura, onde fixaram residência no bairro Santo António.

Fonte: JA
Bela Tchindandi começou por frequentar o ensino primário na Escola 4, na cidade de Menongue, passando depois para a escola da Machingueira, na cidade do Lubango. Sem terminar o ensino médio e com apenas 18 anos de idade, isto em 1990, Bela Tchindandi passou a viver maritalmente com um membro das extintas Forças Armadas Popular de Libertação de Angola (FAPLA), no bairro Chimbuila, na cidade do Lobito, província de Benguela.

O marido de Bela Tchindandi passou para a reserva em 1991, com a patente de capitão e começou a trabalhar como protecção física na antiga fábrica de cimento do Lobito. Depois de dois anos o casal teve duas filhas e, dada a difícil situação económica e financeira da família, ela deu início ao seu primeiro negócio, em 1994, vendendo fuba de bombó e de milho na praça.

Em 1995 passou a vender bebidas alcoólicas, refrigerantes e petiscos na praia da Restinga. Em 1997 concluiu finalmente o ensino médio, na especialidade de Gestão Empresarial, no Instituto Médio Politécnico do Lobito. “A cidade do Lobito é bastante agressiva em termos de negócios, quer seja formal quer seja informal. Quando ia à praia me divertir aproveitava levar uma caixa térmica e fogareiro para vender bebidas e petiscos às pessoas que lá se encontravam”, disse Bela Tchindandi.

Depois de juntar uma boa quantia de dinheiro, em 2002, Bela Tchindandi juntou-se a um grupo de mulheres e passou a fazer viagens para o exterior do país, concretamente para o Brasil, onde comprava chinelas do tipo havaianas e cabelo brasileiro para vender nos diferentes mercados das províncias de Benguela e do Cuando Cubango. Sempre que possível ela vendia cabelo brasileiro, roupas, calçados e peixe fresco e seco numa loja alugada em Menongue, pertencente a um senhor de nome Nobre.

Longa trajectória

Com a morte do marido em 2004, Bela Tchindandi regressou ao Cuando Cubango no ano seguinte, e ao lado de seu pai general João Baptista Tchindandi (Black Power), governador da província do Cuando Cubango no período 2002-2008, indicado pela UNITA no quadro do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), abraçou a ideia de firmar-se como empresária.

Sem grande conhecimento do sector empresarial, Bela Tchindandi pede ajuda à sua prima e empresária Minga Junqueira, para poderem investir na província do Cuando Cubango, onde começaram a vender peixe fresco e seco e roupa usada (balões de fardo) em grandes quantidades na loja do senhor Nobre.


“Na altura a minha prima Minga Junqueira já tinha um carro de marca Nissan Patrol e fazíamos com ele todas as viagens para a província de Benguela em busca de produtos para comercializar. Passávamos vários dias na estrada, dormíamos sempre ao relento e os motoristas dos camiões que alugávamos questionavam sempre a nossa coragem”, recordou.

Nem tudo era um mar de rosas. Bela Tchindandi revelou que, depois de alguns anos, perderam mais de 400 toneladas de peixe, que estragou por falta de congelamento, visto que a cidade de Menongue enfrenta um grande défice no que tange à distribuição de energia eléctrica.

Viúva e mãe de duas menores, na altura, Bela Tchindandi, depois de perder uma boa parte do seu negócio, confiante, pediu crédito aos seus fornecedores na província de Benguela e nalgumas instituições bancárias, que, prontamente, atenderam ao seu pedido. E assim continuou a comercializar diversos produtos na cidade de Menongue.

“O meu pai, na altura governador do Cuando Cubango, a empresária Minga Junqueira e o senhor Dassala ajudaram-me muito para eu me firmar no sector empresarial e no ramo de negócios. Tudo que sei devo à minha querida prima”, disse. Acrescentou que durante a sua trajectória no ramo comercial teve perdas incalculáveis de mercadorias diversas.

Ana Bela Baptista Tchindandi em 2006 constituiu a empresa “Bela e Filhos”, com objecto social que se estendia pelo comércio geral, construção civil, obras públicas, telecomunicações e prestação de serviços.Com apenas um funcionário.

Considerada algumas vezes como “testa de ferro” de seu pai, o general João Baptista Tchindandi (Black Power), Bela Tchindandi revelou ao Jornal de Angola que nunca pensou que um dia se tornaria numa grande mulher de negócios.

Constituída a empresa “Bela e Filhos”, um ano depois a empresária ganhou a obra para construção de uma escola de quatro salas no bairro Hoji-ya-Henda, na cidade de Menongue e em 2009 ganhou a obra para construção de algumas residências do tipo T3 no centro de acolhimento para pessoas portadoras de deficiência denominado “Kavikiviki”, situado no bairro Pandera.

De lá para cá, a empresa “Bela e Filhos” construiu várias escolas públicas, residências e outras infra-estruturas sociais. “Ser mulher é ser empreendedora, forte, determinada e nunca pensar em limitações para alcançar os objectivos preconizados”, disse. Acrescentou que quem não vive para servir, não serve para viver.

Actualmente a empresa “Bela e Filhos” está fixada na cidade de Menongue e em Calai e Dirico. Garante 25 postos de trabalho, todos ocupados por angolanos. O seu volume de negócios chegou a atingir mais de 200 milhões de kwanzas.

A vida por um fio

Com o volume de negócios em crescimento, em 2009 Bela Tchindandi, a caminho da vizinha República da Namíbia para compra de material de construção para conclusão da obra do Centro “Kavikiviki”, sofreu um acidente de viação, onde perdeu a perna esquerda e teve a vida por um fio.

O lado persistente de Bela Tchindandi e a sua característica de mulher forte e determinada fizeram com que, ao longo do seu percurso, não se sentisse discriminada por ser mulher e ter algumas limitações físicas por ter perdido a perna. Depois de recuperada ela continuou a trilhar o seu caminho.

Revelou que depois de ter sofrido o acidente que quase lhe levou a vida ganhou mais coragem para enfrentar os desafios. Disse acreditar que Deus lhe deu uma nova oportunidade de viver e lhe fez ver a vida com mais calma, serenidade, paz espiritual e vontade de vencer.

“Corria muito para ver se singrava na vida. Já não sou a mesma Bela, agora sou outra pessoa”, afirmou. Acrescentou que o acidente que lhe custou a perna esquerda foi um mal que veio para o bem, visto que a fez acreditar que, mesmo com inúmeras dificuldades, conseguiria alcançar os seus objectivos. Actualmente ela vive bastante tranquila, para ajudar e servir a Deus.

Próximos desafios

Ana Bela Baptista Tchindandi confessou que a partir do próximo ano pretende firmar-se também no sector agrícola, visto que, no seu entendimento, é a força motriz para alavancar o desenvolvimento económico e financeiro do país e da província do Cuando Cubango em particular.

Disse que tão logo consiga recursos financeiros irá apostar no ramo agrícola, para que a província do Cuando Cubango não dependa de outras regiões no que tange aos produtos do campo.

Salientou ser necessário que o Estado angolano, potencialize cada vez mais o sector agrícola, em termos de apoios técnicos, financeiros e inputs, para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e da empregabilidade, libertando alguma pressão sobre o Executivo, que continua a ser o maior empregador.

Disse ser necessário que o sector bancário apoie os empresários nacionais dos diversos ramos de actividade, para que os empreendedores não cruzem os braços diante das oportunidades.

Segundo a empresária, o momento de começar é bastante difícil e sem apoio financeiro, principalmente da banca, a situação piora cada vez mais. Sustentou que apesar disso é necessário que os empreendedores encarem os obstáculos com persistência e resiliência.

Na qualidade de vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria do Cuando Cubango Bela Tchindandi disse que o ambiente de negócios a nível da região é estável e apelou aos empresários a associarem-se na Câmara de Comércio e Indústria.

Mulher de muita fé

Ana Bela Baptista Tchindandi é filha de João Baptista Tchindandi e Margarida Natália. Nasceu aos 23 de Novembro de 1972, na cidade de Menongue. É técnica média de Gestão Empresarial pelo Instituto Médio Politécnico do Lobito, província de Benguela. Mãe de duas filhas, já tem três netos. Sabe cozinhar, tendo como prato preferido o calulu.

Gosta de música gospel e romântica e os seus cantores predilectos são Roberto Carlos e Roberta Miranda. Não é apaixonada da leitura, segundo diz, fruto das exigências que o seu trabalho impõe. Tem como cidades preferidas França e Itália, gosta de todos os perfumes franceses e de filmes românticos. Sonha ser, cada vez mais, uma boa pessoa e realizada.

Possui casa e carro próprios. Além de empresária Ana Bela Baptista Tchindandi é presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação das Mulheres Empreendedoras e vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria do Cuando Cubango.

Mulher de fé, temente a Deus, pertence ao grupo carismático da comunidade de Jesus, é membro do conselho paroquial e coordenadora da tesouraria da Sé Catedral Nossa Senhora de Fátima, do centro da cidade de Menongue. Ana Bela Baptista Tchindandi pertence ao grémio da OMA e milita no CAP nº 1 do MPLA na cidade de Menongue.