Luanda - Num mundo cada vais mais digitalizado e onde a informação circula em segundos de uma região para outra, facilmente se pode constatar que com o advento da internet, nos anos 90, (World Wide Web1 ), a revolução tecnológica permitiu que o mundo se transformasse numa pequena aldeia digital com uso generalizado da internet. Por exemplo, um jovem que se encontra nos subúrbios do Negage ou da Camabatela tem o acesso rápido à informação sobre o ponto de situação do mundo e simultaneamente pode comunicar-se com pessoas em outras regiões por via dos vários recursos tecnológicos (telefones, televisão, rádio) e plataformas digitais (Facebook, WhatsAp, Instagram, Snapchat, LinkedIn, Skype, tweeter, You Tube), permitindo assim um aumento significativo das comunicações entre os indivíduos e tornando o fluxo de informações mais complexo num espaço virtual interconectado.

Fonte: Club-k.net


Deste modo, é irrefutável que por vezes, este conjunto de relações estabelecidas entre os indivíduos e o volume de informações transaccionadas escapam à esfera de controlo do Estado, permitindo o surgimento de novos actores e de relações que se conhece hoje como relações transnacionais.


Estes actores por via das suas acções e por vezes de natureza criminosa, são capazes de alterar a ordem interna de um Estado ou influenciar o sistema internacional com apenas um clique, tal como aconteceu no Norte de África e no Médio Oriente com o surgimento da Primavera Árabe (revolução facebook2), ou ainda o conhecido ataque terrorista de 11 de Setembro de 2002 nos E.U.A.


Em 2013 foram vários os ecos a nível nacional e internacional de uma possível Primavera Angolana, devido as manifestações que foram surgindo contra a candidatura do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, os activistas utilizavam com frequência blogues(www.drowski3,blogspot.com e revolucaoangolana.webs.com) redes socias e telemóveis para comunicarem as suas mensagens, o certo é que não passou de uma aspiração porque tinham apenas um caracter organizado e capacidade de produção de conteúdo a nível virtual, mas no terreno a capacidade de mobilização de pessoas era fraca segundo Sebastião Martins in Labirintos Mundiais. Tais pretensões começaram a despertar o interesse do Executivo anterior a criação de leis que visassem a regulação do uso das redes sociais, o que gerou debates colocando a sociedade em dois polos, um polo defensor da sua regulação e um outro que é contra a sua regulação porque limita as liberdades de expressão.


Recentemente o novo Executivo aprovou a lei 11/20 de 23 de Abril sobre identificação ou localização celular e da vigilância eletrónica, portanto, este acesso permitido por lei, levanta questões ligas a ética e a moral sobre a intrusão ao o mundo privado das pessoas.


Entre os dilemas que se levantam sobre a intrusão no mundo privado das pessoas e legislação das redes socias ou a vigilância eletrónica, o certo é que a revolução tecnológica sobretudo digital transformou o mundo num espaço muito perigoso onde as ameaças são multidireccionais e multidimensionais, desafiando cada vez mais os sistemas de segurança dos Estados. Deste modo, Angola não está imune a estas acções transnacionais, aos riscos e ameaças que resultam do uso da internet e sua relação com suas infra-estruturas de informação.

 

Por exemplo, recentemente vimos nas nossas televisões uma peça do Consórcio Internacional De jornalistas investigadores (sigla inglês ICJI), de que mais de 30 países do mundo tiveram acesso as informações privilegiadas das operações feitas na Sonangol, ainda na mesma empresa num passado muito recente foi divulgada pela média nacional (angope e outros) e internacional (Voz da América) que o sistema informático da Sonangol tinha sido vítima de um ataque cibernético e para neutralizar o ataque foi feito um "shut down3", aos servidores.

 

Adicionalmente, em menos de um mês, grande parte dos usuários da Unitel receberam pela madrugada chamadas de números internacionais, deixando assim em pânico a sociedade como se fosse um ataque cibernético na qual foram roubados dados pessoais. Em respostas as operadoras informaram que não houve roubo de informações e que o sistema das empresas de telecomunicações tinha sido visitado por estranhos o que facilitou a execução do crime económico ou "toque e foge4".

 

Portanto, entre ataques cibernéticos e o crime económico toque e foge ficou claro as vulnerabilidades existentes no nosso ciberespaço. Assim sendo, quais são então os desafios dos Serviço Inteligência angolano na era digital?


As acções anteriormente mencionadas alertam-nos a necessidade de realização de estudos aprofundados sobre as politicas de Defesa e Segurança do nosso ciberespaço, o que implica três grandes desafios ao S.I no meu entender:


  Criação de um sistema robusto, eficaz e eficiente capaz de identificar, prevenir, detectar e responder com antecedência ataques cibernéticos;


  Identificação do fluxo de informação veiculada em redes sociais e plataformas digitais;


  Criação de um plano de desenvolvimento de cultura de segurança a nível corporativo, e uma análise minuciosa do perfil dos consultores externos que prestam consultoria a empresas estratégicas.


Para tal é fundamental uma unidade de vigilância electrónica capaz identificar as ciber- ameaças (hackeres, ciber-criminosos, espiões, hactivistas, pornografia infantil, terrorismo, tráfico de drogas e seres humanos, branqueamento de capitais, sabotagem e estelionato e inclusive outros Estados.), no sentido de garantir a segurança nacional. Importa mencionar que a referida unidade deve operar dentro dos marcos legais e dos princípios éticos, de modos que o simples exercício cívico de cidadania nas redes sócias não se confunda como uma ameaça a segurança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS


A revolução tecnológica e o acesso à internet põem em ligação direita os indivíduos sem medo da interferência do Estado. O espaço virtual veio de facto acabar com a separação outra hora nítidas entre politica interna e externa, o fluxo de informações transacionadas em rede sobretudo de natureza criminosa passaram a ser dificilmente controladas pelos Estados.

 

Esta dinâmica imposta pelas novas tecnologias de informação, exigem dos Serviços de Inteligência angolano uma constante reavaliação, adaptação as novas tendências e de uma abordagem ampla de segurança que leve fundamentalmente em consideração as ameaças não militares.

 

Quer queiramos ou não, precisamos perceber que a internet criou um mundo online, no entanto, esse mundo afecta a realidade física ameaçando a segurança do Estado, as redes sociais devem ser vistas como uma questão de extrema importância para os Serviços de inteligência, pois parece ser a ferramenta mais inovadora e eficaz para entendes as interações e dinâmicas sociais. Os Serviços de Inteligência devem manter sempre o equilíbrio entre os direitos dos indivíduos e a legitimidade do interesse de segurança durante a produção de informação de inteligência nos medias sociais (SOCMINT).

 

Em relação ao nosso ciberespaço, é necessário que se criem politicas e estratégias de ciber segurança, que facilitem uma abordagem proactiva, holística e uma métrica que possa medir as vulnerabilidades do ciberespaço e assim, fazer uma melhor gestão dos riscos.