Lisboa - Uma ligação entre Alves Monteiro e Manuel Vicente abre a porta à especulação sobre o interesse de investidores angolanos na TVI. Para estes, a comunicação social portuguesa sempre foi vista como um meio para conquistar influência.

Fonte: NEGÓCIO

A nomeação de Manuel Alves Monteiro como CEO da Media Capital veio trazer à liça o cenário de uma eventual injeção de capitais de investidores angolanos no grupo de Queluz de Baixo. A especulação constrói-se na base de uma ligação de Manuel Alves Monteiro a Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola e antigo presidente da Sonangol, a qual remonta, no mínimo, a 2011.


Na altura, Alves Monteiro fez parte do júri dos prémios Sirius, que distingue personalidades e empresas angolanas, o qual atribuiu o galardão de gestor do ano a Manuel Vicente, então líder da Sonangol. O jornal Sol adiantou mesmo que Manuel Alves Monteiro chegou a ser conselheiro do antigo vice-presidente de José Eduardo dos Santos, que agora se aproximou do atual chefe de Estado, João Lourenço.


Alves Monteiro tem também uma forte ligação a Mário Ferreira, sendo vogal da Mystic Rivers, uma empresa detida pelo dono da Douro Azul que adquiriu 30% da Media Capital aos espanhóis da Prisa. A administração da estação de Queluz, questionada pelo Correio da Manhã, sobre se a ligação entre Alves Monteiro e Manuel Vicente poderia significar uma entrada de investidores angolanos no grupo, não quis comentar.


Em 2013, a Prisa fechou um negócio envolvendo investidores angolanos, tendo vendido a Revista do Vinho, Lux e Lux Woman à Masemba, um empresa que resultou de uma parceria entre a portuguesa Fim do Mundo e a angolana Semba Comunicação, detida por Coreón Dú e Tchizé dos Santos, filhos de José Eduardo dos Santos. Em Angola, a Semba chegou mesmo a ter a gestão do segundo canal da TPA (Televisão Popular de Angola), a qual lhes foi retirada logo no início do consulado de João Lourenço.


Os negócios feitos e os desejados


Este tipo de leituras ganha respaldo na atração que o poder angolano sempre revelou pelos media portugueses, motivada pelo facto de estes terem uma aura de credibilidade e capacidade de influência da opinião pública daquele país.


Por exemplo, no final de 2012, quando o Governo de Passos Coelho deu sinais de que queria privatizar a RTP, foi referenciado o interesse de investidores angolanos na RTP África e da Newshold, controlada por Álvaro Sobrinho, na RTP 1. O ex-presidente do BESA foi mesmo dono dos jornais Sol e i e entrou de forma hostil na Cofina (dona do Negócios e Correio da Manhã) onde chegou a ter uma participação qualificada de 10,54%.


Um ano antes, em 2011, o grupo Impresa tinha fechado um acordo com os angolanos da Finicapital consubstanciado no lançamento da revista Rumo. Esta publicação, onde o grupo de Francisco Balsemão possuía uma participação de 30%, acabou por fechar as portas em 2013, não sendo alheio a esta circunstância o mau relacionamento que entretanto se desenvolveu entre o poder angolano e o Expresso e a SIC, vistos como detratores do regime de José Eduardo do Santos.


Em março deste ano, a jornalista da TVI, Ana Leal, tinha preparada uma reportagem sobre eventuais escândalos de corrupção envolvendo ministros do atual governo de João Lourenço, entre os quais Edeltrudes Costa, ministro e diretor do gabinete do Presidente da República, a qual não chegou a ser transmitida. Ana Leal acusou a estação de Queluz de Baixo de censura, a direção de informação desmentiu esta leitura e colocou-lhe um processo disciplinar. A jornalista acabou por sair da TVI em julho. 


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