Huambo - A pandemia da Covid-19 tem sido uma autêntica desgraça mundial, sobretudo, para os cidadãos, ou seja, a classe dominada, adiando cada vez mais, à tão propalada promessa dos 500 mil empregos, feita em 2017, pelo partido que governa o país. Lamentavelmente, a outra face do novo Coronavirus tem se revelado num grande nicho para a classe dominada em Angola.

Fonte: Club-k.net

Numa altura em que maior parte do sector produtivo está paralisado (entre nós, quase nunca funcionou), os "operadores" do sector de saúde são os que mais facturam nessa altura. Uma cadeia que começa com o processo de importação de material de biossegurança, construção e/ou apetrechamento de unidades sanitárias, fornecimento e distribuição de fármacos, e equipamentos hospitalares, enfim, o campo da "micha" é muito vasto.


A título de exemplo, recentemente, a sociedade angolana ficou perplexa com o escândalo financeiro derivado da compra de 200 casas pelo governo, para serem transformadas em centro de tratamento de pandemias, localizadas na capital do país, precisamente na comuna do Calumbo, município de Viana, orçadas em cerca de 25 milhões de dólares, descrito por vários segmentos da sociedade como um exemplo acabado de má gestão dos recursos de todos angolanos, corrupção, peculato e nepotismo, entre outros, enquanto milhares de angolanos continuam cada vez mais a apertar o cinto e fazendo contas, diariamente, como ter pão à mesa.


A aberração desta medida tem que ver, em primeira instância, por não merecer prioridade a julgar pelas diversas infraestruturas arrestadas, recentemente, que até então estavam sob tutela da classe de Marimbondos séniores, e deviam ser ocupadas para o efeito nesta fase emergencial; e por outro lado, e mais aberrante, pelo valor astronómico do imóvel, que na visão da crítica, o valor real de cada residência é aproximadamente oito milhões de kwanzas. Claramente, um roubo a céu aberto, bem ao estilo de "La casa de Papel"... Perante a este facto, simplesmente, o Xadrezista J'LO fez recurso à máxima: "os cães ladram e a caravana passa". Será mais uma jogada de Mestre!?


A lição de má gestão financeira não ficou aqui... O anúncio da construção da nova sede da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), que prevê contar com um Centro de Escrutínio, deixou, e ainda deixa, muitos angolanos frustrados e a falar sozinho na via pública. Afinal, não é para menos, em plena fase de contenção de verbas o (des)governo de Angola vai desembolsar mais de 44 milhões dólares.


Haja coragem! São muitos "zeros" gastos para a construção de "paredes" que não garantem metade dos empregos prometidos à juventude; não vai matar a fome ou reduzir o número de famílias que todos os dias deambulam pelas ruas das cidades pedindo esmolas, por Angola à dentro; e jamais o betão aplicado para erguer a estrutura vai garantir transparência ao viciado processo eleitoral, cujo resultado tem sido uma mesmice: vermelho, preto e amarelo (obviamente não me refiro as cores da bandeira nacional). A sociedade civil rugiu, os partidos políticos e fazedores de opinião alinharam no mesmo diapasão, mas mais uma vez, o Titular do Poder Executivo, simplesmente deu vida ao velho ditado: "os cães ladram e a caravana passa". Será mais uma jogada de Mestre!?


Para fechar o caixão, o Orçamento Geral do Estado (OGE) revisto contempla a construção de uma clínica dentária e biblioteca para a presidência da República, orçado em 4.574.489.840 de kwanzas, valor superior a vários serviços sociais, incluindo a educação e protecção social de desemprego, só para citar estes. Trata-se de uma ofensa grave, um xingamento que provocou xinguilamento social, aos mais de 30 milhões de angolanos, que ainda viam uma luz no fundo do túnel, face às falácias do PR João Lourenço, nas vestes de "Vendedor de Sonhos". Enquanto isso, "os cães ladram e a caravana passa".


Mas que tamanho absurdo! Afinal, que tipo de dentes é que o PR é seus colaboradores possuem? Será de ouro ou de marfim? Ou melhor ainda, será que o PR e os seus colaboradores estão a escrever verdadeiros "best seller" que devem ser guardados numa biblioteca presidencial!? Ou afinal, é uma estratégia de preservação, à sete chaves, de livros sobre a má gestão financeira em tempo de crise!? São algumas das várias perguntas que ficam no ar, sobretudo, quando o gabinete de comunicação institucional da presidência da República não comunica devidamente, só para não citar o próprio PR João Lourenço, aliás, quem não comunica se complica.


Ainda assim, a pergunta que não se cala: até aonde irá esse festival de má gestão do dinheiro de todos os angolanos? Como a culpa não pode morrer solteira, todos os males da má gestão das verbas públicas estão a ser atribuídas à Covid-19, uma situação que deixa a população revoltada, mas como tem vindo a demostrar o Imparador Xadrezista (J'LO): os cães ladram e a caravana passa.