Paris – Há alguns anos, durante o consulado do ex-presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, quando o músico e activista político, irlandês, Robert Frederick Zeno Geldof, mais conhecido por Bob Geldof, à partir de Lisboa, numa das suas intervenções, na conferência sobre desenvolvimento sustentável, afirmou e cito, " Angola é um país gerido por criminosos". As reações não se fizeram esperar!

Fonte: Club-k.net
Naquela altura, lembro-me ter ouvido centenas de angolanos, manipulados pelo "sistema Eduardista", indignados pela "delação" feita pelo activista irlandês, porque, segundo esses angolanos, o Presidente José Eduardo e seu elenco eram pessoas íntegras, portanto, não haviam razões para tais pronunciamentos.

Há mais de 40 anos que o povo angolano vinha sofrendo calado: chicoteado, pontapeado, roubado, impedido de exercer os seus direitos, "obrigado" a compactuar com práticas ilícitas, num país, até então, liderado por uma longa ditadura.

Eduardo dos Santos - apesar da sua incompetência na gestão do país e ter sido o principal carrasco dos angolanos - ainda assim, era amimado pelo povo, chegando mesmo a receber o título de arquiteto da paz, o insubstituível, o enviado de "Deus", muitas vezes comparado à Jesus Cristo, alguns "bajuladores" foram mais longe ainda, ao dizerem que a paz e o ar que os angolanos respiram é graças a Eduardo dos Santos.

Quando o MPLA apresentou João Manuel Gonçalves Lourenço, como candidado à presidente da República de Angola, houve uma grande satisfação por parte de milhares de angolanos, àvidos de um novo paradigma.

Ficamos todos "excitados" pelos discursos feitos por João Lourenço durante a campanha eleitoral. A palavra de ordem do combate à corrupção, nepotismo e impunidade - três das principais práticas que levaram o país à ruína - fez com que o novo candidato fosse tão bem recebido pelos angolanos, e lhe depositassem muita esperança.

Foi bonito e bom demais termos acreditado nele, parecíamos estar a sonhar. Pensávamos que os nossos problemas, desta vez, não passariam apenas por discursos, mas sim, teriam solução. Quem não se lembra daquele "episódio", do cidadão angolano que foi atropelado quando a viatura presidencial passava numa das estradas do país!?

João Lourenço mandou parar a viatura, levaram o jovem ao hospital. Dias depois, o presidente foi visitá-lo. Este gesto constituíu, certamente, um dos momentos mais fortes do início do seu consulado. Lembro-me ter conversado com um amigo a respeito deste bonito gesto! "Agora, temos Presidente", dizia ele.

No país, já não se falava em mais nada, JLo para aquí, JLo para lá! "Já sofremos muito", finalmente "Deus" ouviu nossas orações", diziam, de forma espontânea vários cidadãos. Era o início de uma nova era para os angolanos.

Já lá se foram três anos desde a eleição de João Manuel Gonçalves Lourenço como novo presidente da República de Angola, e o balanço que se pode fazer deste tempo de mandato, tendo em conta todas as promessas feitas durante a campanha eleitoral, é simplesmente desastroso! As espectativas dos angolanos foram defraudadas:

A tão propalada promessa dos quinhentos mil empregos para a juventude angolana, não passou de uma propaganda vazia. E como consequência desta "irresponsável promessa", de quem não soube fazer a distinção entre a emoção e a realidade das coisas, temos hoje uma juventude cada vez mais frustrada, entregue à prostituição, à bebedeira e a delinquência.

Quanto a questão do combate à corrupção, não é difícil chegar-se a conclusão, que de facto, não existe combate nenhum contra a corrupção. Existe sim, um combate "simulado" contra a família do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos e alguns dos seus "discípulos".

Porquanto, os verdadeiros "gatunos do erário público"(os grandes traidores da pátria), incluindo grande parte da família "dos Santos", continuam impunes e à solta, esbanjando os dinheiros do povo, descaradamente, e ainda se dão ao luxo de fazerem publicidade barata destas vergonhas nas redes sociais.

Os "gatunos de galinha", como se diz na gíria - vítimas da péssima governação do partido no poder - são os únicos que, verdadeiramente, recebem punição exemplar por parte das autoridades e do povo. Temos uma justiça a duas velocidades, infelizmente.

Os "assaltos milionários" repetitivos no banco BPC, um dos quais, denunciado pelo ilustre jornalista, Rafael Marques, são práticas antigas - e logo numa altura destas em que as famílias angolanas "lutam" para sobreviver com um dólar por dia - é uma demonstração evidente de que tudo continua na mesma. Há, claramente, uma grande dificuldade do actual elenco governativo em desconstruir o modelo "Eduardista", assente na corrupção, manipulação, na mentira, descriminação, nepotismo, impunidade, anti-patriotismo etc, porque João Lourenço continua trabalhando com os mesmos autores do antigo governo de Eduardo dos Santos. Seja como for, enquanto o MPLA continuar à frente dos destinos do país, o quadro não sofrerá alteração nenhuma, não tenhamos ilusões!

A censura nos meios de comunicação, a falta de fiscalização dos actos do governo pela Assembleia Nacional, a ausência descritiva e pública da declaração de bens dos membros do executivo, leva-nos a pensar que o país continua parado.

As manifestações continuam sendo reprimidas e o desaparecimento de alguns activistas preocupa a sociedade. Relembrar, o desaparecimento misterioso do activista Afonso Manuel Mpanzo, a 16 de Outubro de 2019, em Luanda, depois de ter liderado uma manifestação contra o elevado índice de desemprego, no município do Cazenga - uma vez que durante a campanha eleitoral do MPLA, para o mandato do Presidente João Lourenço, foram prometidos aos cidadãos angolanos, 500 mil empregos para a juventude. "Ele andava a sofrer ameaças de morte por telefone", disse a esposa.

No dia 10 de Dezembro de 2019, 8 activistas do Movimento Independentista de Cabinda (MIC) foram presos quando se preparavam para ir às ruas manifestar contra a "colonizacão Angolana" e a favor da realização do referendo para a independência de Cabinda. Mais três activistas foram detidos no dia 12 de Dezembro, entre eles Carlos Vemba e Nelinho Tuma.

A morte da pequena Lúcia Pedro, em Luanda, na zona do Talatona, que morava com o pai e a mãe desempregados, que sem recursos para sobreviverem ao longo do período de Estado de Emergência, não tiveram como salvar a criança, tendo perdido a vida, no dia 09 de Junho deste ano em curso, segundo fontes familiares. Enquanto isso, os "gatunos do erário público" usam os "dinheiros ilícitos" para exibirem banquetes nas redes sociais.

Angola não é o país do "pai banana", não! Não basta ter diploma, saber falar correctamente a língua portuguesa, vestir-se de fatos e gravatas, e logo pensar que tem qualidades para dirigir alguma coisa. Estamos sendo governado por gente corrupta, irresponsável e sem inclinação para as tarefas incumbidas, não passam de grandes aventureiros. Se em 40 anos nada foi feito em prol do desenvolvimento da nação, não resta outra solução, abandonem o poder, para o bem dos Angolanos. Quanta inércia!

Dentro de 2 anos aproximadamente, teremos eleições em Angola e com elas as promessas absurdas e irrealizáveis. Da promessa de um milhão de casas, passando pela promessa do metro de superfície para Luanda, à promessa de transformar Benguela em Califórnia, a "máquina propagandista" do MPLA já está em acção, preparando a próxima "burla eleitoral". A grande polémica em torno da eleição do novo presidente da Comissão Nacional Eleitoral(CNE), deixa claro, e mais uma vez, a intenção do MPLA continuar no poder a reboque da CNE.

Oh, povo especial! É "irracional" continuarmos a viver tão conformados e resignados, diante de tamanhas injustiças, perpetuadas por um grupo de corruptos e dilapidadores dos bens públicos, sem que haja alguma reação e comoção da nossa parte. Temos de agir, para salvaguarda dos interesses das gerações vindouras. O país precisa de "sangue novo" e de dirigentes de "mãos limpas", chega de gatunos. Lugar de gatuno não é no poder, é na cadeia!