Luanda - Os centros de saúde do distrito atendem uma média diária de 350 pacientes acometidos pela malária, cólera, febre tifóide e outras doenças relacionadas ao deficiente saneamento básico. Junta-se a dificuldade para ter água potável nos diferentes bairros que compõem o distrito do Sambizanga.

Fonte: JA
Na Lixeira, Pombinha, Brinca Na Areia, Cuba, Camponês, Frescura, Candeeiros, Baião, entre outros bairros, a luta pela sobrevivência inicia às primeiras horas da manhã. O aglomerado de moradores junto aos camiões cisternas e o pouco que resta dos chafarizes, dois dos principais pontos de abastecimento de água, com mulheres e crianças em maior número, denunciam a carência do precioso líquido nas torneiras das residências.

Para a maioria das famílias do Sambizanga, há anos que o consumo diário de água ficou limitado, contudo, o deficiente saneamento básico, segundo o que é ponto comum entre os moradores, tem sido o maior pesadelo.

O cenário que o Jornal de Angola constatou aquando da sua recente presença no Bairro Operário reforça este pensamento. Contentores abarrotados de lixo e grandes quantidades de entulhos resultantes da destruição de várias residências, no âmbito do plano de requalificação do bairro, falam por si.

Livre das águas da chuva há mais de dois meses, Moisés Caveto, morador no distrito, olha com bastante preocupação para os charcos e excesso de lixo em algumas ruas do Bairro Operário. Este último, diz, não resulta unicamente da fraca capacidade de recolha.

Moisés Caveto explica que parte do problema está na maneira descuidada como algumas famílias manuseiam o lixo. Embalam mal os resíduos, deixando-os a descoberto. Outras não conseguem compactar caixas, cartões e outros artigos do género. “O lixo é depositado de qualquer maneira no contentor e acredito estar na hora de se re-pensar tudo isso”, sugeriu.

Desprovido de um plano urbanístico, no Sambizanga Sede, bairro construído na época colonial, falta de tudo um pouco para se ter um bom saneamento, desde ruas asfaltadas, espaços verdes e valas de drenagem para facilitar o escoamento das águas.

Manuel Simeão, morador no bairro Pombinha, não se conforma com a quantidade de buracos e outros entraves que dificultam a circulação de veículos e peões ao longo das ruas. “Este bairro tem muitos becos e as poucas ruas não oferecem condições para a circulação de viaturas. A rede de esgoto na via principal está obstruída, no interior do bairro não existe vala de drenagem e o lixo é atirado nos becos”, lamentou.

Ao coro de lamentações junta-se Linda João, de 60 anos. Além das ruas e becos “invadidos” pelo lixo, águas residuais, crateras, entre outros, a anciã clama pelo abastecimento regular de água potável. “As falhas de água são constantes, a requalificação demora a chegar e os nossos filhos estão sempre nos hospitais por causa do deficiente saneamento básico. Estamos cansados de pedir apoio à administração”, disse.

Francisco Pedro vive há mais de 34 anos no bairro da Lixeira. Funcionário de uma pastelaria algures na ex-rua dos Carneiros, no distrito do Sambizanga, Francisco Pedro generaliza as consequências por que passam os moradores.

“Tal como na Lixeira, vários outros bairros do distrito do carecem de saneamento básico. Muitos de nós consumem água dos tanques dos vizinhos que nos tem causado problemas de saúde”, afirmou, sublinhando que durante a época chuvosa enfrentam muitos dissabores devido a inexistente drenagem das águas pluviais.

Apesar dos vários constrangimentos, Francisco Pedro mantém esperança que um dia o bairro venha a beneficiar de asfalto, passeios, jardins públicos, sistema de drenagem das águas e rede pública de abastecimento de água potável, para que as crianças cresçam num ambiente saudável.

Programa integrado

No âmbito do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), o distrito não foi excluído. O Sambizanga foi contemplado com a reabilitação das ruas de Benguela, Lobito, Comandante Bula e do Centro Cultural Dr. António Agostinho Neto. As obras têm o apoio institucional da Comissão Administrativa da Cidade de Luanda (CACL) e incluem os passeios, arborização e o sistema de drenagem das águas residuais e pluviais.

Em declarações ao Jornal de Angola, o coordenador para Área Técnica da Administração do Sambizanga considera a construção de uma nova rede de esgoto e respectivas ligações domiciliares a solução para o problema de saneamento básico no distrito.

Wilfredo André explicou que o Sambizanga dispõe apenas de uma operadora comprometida com a recolha de resíduos sólidos e garantiu que os entulhos resultantes das demolições feitas no âmbito da requalificação do Bairro Operário têm sido recolhidos. Além de informar que a Administração do Distrito Urbano do Sambizanga e a CACL trabalham no levantamento topográfico das vias terciárias para realizarem uma intervenção profunda, referiu que o distrito carece de plano director. Wilfredo André acrescentou que, embora esteja em fase inicial, a CACL trabalha num programa director que abarca todo município de Luanda.

“O único projecto habitacional recente do Sambizanga foi a Centralidade da Marconi, na Petrangol, que passou para o município do Cazenga, na sequência da divisão político administrativa de 2011”, disse.

Abastecimento de água

Com mais de seis mil e 844 clientes cadastrados, o abaste-cimento de água na maior parte dos bairros do Sambizanga, sob responsabilidade da Empresa Pública de Águas (EPAL), é feita com algumas irregularidades, apesar da rede de distribuição ter beneficiado de reabilitação num passado recente.

Wilfredo André apontou o bairro Madeira como a área mais afectada pela escassez de água e referiu não existir, por enquanto, nenhum programa que visa a expansão da rede de abastecimento aos bairros periféricos que seja do domínio da administração.

Por outro lado, assegurou que a distribuição de energia eléctrica é feita em baixa tensão para os clientes cuja potência não excede os 50 KVA e afirmou que está em curso a instalação de contadores pré-pagos nas residências e instituições.

“Há um programa de instalação de contadores pré-pago, que decorre de forma faseada em função da tipologia e do estado da rede”, disse Wilfredo André, realçando que no Sambizanga não existe bairro com restrições de iluminação pública nas ruas principais.

Rede de saneamento básico

A construção de uma rede integrada de saneamento básico só é possível com uma requalificação profunda, que inclua o interior dos vários bairros do distrito, considerou o engenheiro de construção civil Pinto José.

Em declarações ao Jornal de Angola, Pinto José afirmou trata-se de um conjunto de obras com custos elevados e só é possível com mão-de-obra qualificada e projectos consentâneos. “Antes de tudo é necessário fazer um levantamento para permitir a produção de uma matriz. Nos bairros Lixeira, Frescura, Madeira, Cuba ou Baião, só é possível a requalificação após o levantamento pelo facto de já existirem ruas e residências”, disse, Pinto José, reforçando que bairros construídos sem arruamentos exigem uma requalificação muito mais profunda.