Luanda - Ponto prévio VIII: Perante a pandemia Covid 19, cada um deve fazer a sua parte, pelo que é reservado aos, investigadores, estudiosos, enfim, proporcionarem neste período do estado de emergência, entre outras, artigos acadêmicos capazes de transformarem a quarentena versus fica em casa versus isolamento social, não momentos de tédio e de inércia mas, momentos de aumento de conhecimento do domínio científico-social na sua transversalidade, com enfoque sempre que possível (para nós angolanos), sobre a realidade histórico-social da nossa pátria – Angola, (a verdadeira história de Angola ainda está para ser contada), razão pela qual me propus a partilhar esta nova temática.

Fonte: Club-k.net

O caso da Igreja Universal em Angola

Em pleno ambiente de confinamento e precauções inerentes a preservação da vida dos angolanos e não só, devido ao COVID 19, eis que se levanta nas últimas semanas o destapar das diferenças internas no seio da Igreja Universal do Reino de Deus, uma instituição religiosa “internacionalizada” basificada no Brasil e ramificada por vários países entre os quais Angola onde, há anos decorre uma ebolição de diferenças internas, exteriorizadas nos últimos dias pelos designados “contestatários” em vertentes como (i) subalternização de pastores angolanos, (ii) segregação racial, (iii) previlegio nas condições de habitabilidade das Entidades “expatriadas”, (iv) repatriamento ilícito de capitais, etc, etc.

Não sendo caso ímpar de “conflitualidade interna” em instituições religiosas em Angola, o que ocorre presentemente na Igreja Universal em Angola é aos olhos e ouvidos, dos e não crentes, uma página de reflexão sobre o exemplo que as cúplas religiosas devem transmitir em termos de sã convivência, perdão mútuo, cedências de posições e respeito à “particularidades nacionais” (hábitos,costumes...) extensivo a necessidade de uma cada vez maior autonomia de gestão, por parte das entidades, no caso angolanas.

UMA ABORDAGEM ACADÉMICA ASSENTE NA ANÁLISE CRÍTICA DESCRITIVA


A Constituição de 2010 refere que, a República de Angola é um Estado laico, havendo separação entre o Estado e as igrejas, nos termos da lei. O Estado reconhece e respeita as diferentes confissões religiosas, as quais são livres na sua organização e no exercício das suas actividades, desde que as mesmas se conformem à Constituição e às leis da República de Angola. O Estado protege as igrejas e as confissões religiosas, bem como os seus lugares e objectos de culto, desde que não atentem contra a Constituição e a ordem pública e se conformem com a Constituição e a lei.


De outra forma podemos afirmar que, pela sua laicidade, o Estado angolano não se imiscui nos assuntos internos das instituições religiosas oficialisadas, salvo se as evidências forem bastantes, em termos de estar em causa, a legislação inerente, direitos e deveres dos cidadãos (pastores e crentes), ou noutro cenário (como o que se foi assistindo nos últimos dias), for pertubado a “ordem pública”, com actos arruaceiros incontidos, ânimos alterados e ou tentativa de agressões físicas individuais e ou colectivas.


Mas do ponto de vista social, o extremar de posições entre as “alas” dessa instituição religiosa, convenhamos considerar que, põe em causa o sentido moral que transmitem, aos e não crentes, porquanto denota um acirrar de “intolerãncia” no seio da sua Cúpla, quer no Brasil como em Angola, à margem dos ensinamentos bíblicos, que só é entendido, se aceitamos as afirmações consideradas “pagãs” da existência de interesses ocultos (quiça de pendor financeiro, trafico de influência, interferência no poder público e ou político...).


SE OS HOMENS, AOS QUAIS RECAÍU A MISSÃO DE EVANGELIZAÇÃO NÃO SE ENTENDEM, QUE MORAL PODERÃO TER EM CONSIDERAR-SE ACTORES ACTIVOS DA MORALIZAÇÃO DA SOCIEDADE (NO CASO ANGOLANA), DOS E NÃO CRENTES?


Contextual e historicamente, importa referir que, relegadas para o segundo plano as instituições religiosas “nativo-ancestrais”, a partir de 1482, com a chegada dos portugueses e consequente entrada no território angolano do cristianismo, assiste-se no decorrer dos séculos subsequentes até aos dias de hoje, a implantação de varias das suas ramificações, com denominaçãos diversas, provenientes da Ámerica, Europa, Ásia e mais recentemente do chamado “mundo arabe”, no que pode considerar-se “instituições religiosas internacionalisadas”.


Mas a aceitação e coabitação nos territórios é geralmente “bem sucedida”, se a cúpula central dessas instituições religiosas provenientes de outros países, respeitar às especificidades socio-culturais (nacionais) dos seus crentes, particularmente dos “absorvidos” para funções pastorais, permitindo gradual e temporalmente, as suas ascensões na hierarquia incluindo na estrutura de gestão (administrativa/financeira).


Em Angola, Igrejas como a Católica e a Metodista (para não citar outras) podem ser consideradas “referências” desse respeito às especificidades socio- culturais (nacionais) dos seus crentes, particularmente dos “absorvidos” para funções pastorais, ao ver-se, desde os primórdios da independência, a nomeação de “Arcebispos e Reverendos” nascidos localmente, extensivo a uma cada vez mais angolanizada gestão administrativa e financeira através de paroquianos e religiosos locais.


À guisa de conclusão, augura-se que as diferenças no seio da Igreja Universal do Reino de Deus, sejam rapidamente absorvidas pela “irmandade bíblica”, num quadro de respeito, entre a coexistência do sentido internacionalizado (gestão no Brasil) e as especificidades socio-culturais nacionais (gestão em Angola), pondo no pós COVID 19, o comboio da sua função bíblica nos carris da moralização religiosa e social dos angolanos e não só, ao lado das demais instituições religiosas oficializadas, que prosseguem o mesmo caminho.


Eduardo Lisboa – Mestre em Governação e Gestão Pública