Luanda - No actual cenário de recessão económica que o país vive caracterizada com um crescimento negativo da economia derivada do baixo preço do barril do petróleo nos mercados internacionais e agravada com a situação sanitária mundial da pandemia da Covid-19, toda iniciativa que visam estimular o crescimento positivo da economia angolana é bem-vinda. Uma dessas iniciativas, é sem sombras de dúvidas a aposta no sector elétrico e sobretudo em energias limpas e menos onerosa.

Fonte: Club-k.net

O mundo actual, busca de forma incansável por fontes de energias limpas capazes de reduzir a emissão de C02 responsável pelo aquecimento global que coloca em risco a vida no planeta .

 

A matriz energética angolana é formada actualmente por fontes hídricas que representam mais de 80% do total de energia produzida e o restante distribuídas em fontes térmicas com uso de gasóleo, Jet B, gás natural e fontes híbridas abarcando tecnologia térmicas e fotovoltaica ainda em fase de crescimento. E prevê-se futuramente o uso de fontes eólica (força dos ventos) em algumas províncias.

 

O crescimento demográfico que se registou na cidade de Luanda nos últimos anos fruto do êxodo rural e não só, provocou um aumento significativo no consumo de bens e consequentemente uma elevada produção de lixo. Diariamente, são produzidas enormes quantidades de lixo em Luanda e o Governo Provincial de Luanda tem enfrentado inúmeras dificuldades para a devida recolha e tratamento dos resíduos sólidos. No ano de 2016, a província de Luanda registou um surto de Malária e Febre Amarela devido à quantidade de lixo acumulado nos diferentes bairros periféricos, o que provocou muitos óbitos na capital do país.

 

Muitos esforços têm sido feitos para a devida recolha e tratamento dos resíduos sólidos em aterros sanitários, porém, ainda se verifica um sub-aproveitamento do lixo que se produz.

 

Este cenário leva-nos a colocar vários questionamentos em torno da forma mais eficiente de se aproveitar a enorme quantidade de lixo que se produz na cidade de Luanda. E uma das formas de aproveitar eficientemente a enorme quantidade de lixo seria para produção de energia elétrica usando um processo de transformação e reciclagem do lixo em biogás que é um produto resultante da trituração dos resíduos sólidos e este por sua vez ser usado para produzir energia elétrica. Países como os Estados Unidos, França, Japão, Rússia etc, já usam essa fonte de energia renovável barata e menos poluentes do que os demais combustíveis fósseis como petróleo, carvão mineral e gás natural para produzir energia elétrica.

 

A quantidade enorme de lixo produzido em Luanda, pode-se tornar numa boa oportunidade para apostar em uma central que usa resíduos sólidos para produzir energia elétrica. Desta feita, abrir-se-iam novas oportunidades para entrada de privados na recolha, tratamento, e reciclagem do lixo para transformação do lixo em biogás e consequentemente produção de energia elétrica, podendo mesmo vir a injetar toda energia produzida na rede elétrica pública. Basta para tal, instalar uma central com equipamentos adequados e ter uma cadeia de valor funcional desde a recolha dos resíduos até ao processo da transformação em biogás e finalmente em energia elétrica. Essa pode ser também uma fonte segura e barata para reforçar o défice energético em períodos de estiagem.

 

Essa iniciativa, poderia incentivar as empresas de recolha e tratamento do lixo a desempenharem melhor a sua tarefa, pois haveria empresas interessada na compra do lixo e por outro lado poderiam talvez surgir pequenas cooperativas familiares interessadas em recolher e vender o lixo directamente às empresas especializadas em transformar o lixo em biogás com finalidade de produzir eletricidade, podendo com esta cadeia de valor haver geração de renda para as famílias, lucro para as empresas e receitas fiscais para o Estado, e assim contribuir para geração de novos postos de trabalho, protecção do meio ambiente e um forte contributo para o crescimento económico sustentável.

 

FERNANDO CARIANGO

Economista – PRODEL.Ep