Luanda - Conta-se que Heinrich Himmler, o tristemente famoso chefe das SS nazis que aterrorizou o mundo com os seus campos de concentração e caveiras, tinha um massagista escandinavo chamado Felix Kersten. Aparentemente, esse massagista usava a influência que tinha sobre o tenebroso Himmler para realizar boas acções, como a libertação de presos ou o salvamento de perseguidos.

Fonte: Club-k.net

Este exemplo demonstra como os sentimentos a favor do bem comum, da justiça e da solidariedade se manifestam mesmo ao lado da encarnação do diabo, essa figura simbólica do Mal.

 

Em Angola, temos uma pequena amostra de como a proximidade com um símbolo da justiça, de um zelador da legalidade pode servir o mal. É a história sobre o Procurador-Geral da República (PGR) Hélder Fernando Pitta Gróz e o seu optometrista, Mário Fernandes.

 

Gróz não é Himmler, nem o estamos a comparar a tão terrível figura. O Procurador é apenas um homem com poder, em virtude do cargo que ocupa, que dá ouvidos aos seus cuidadores de saúde. No caso presente, com consequências nefastas, ao contrário do massagista de Himmler.

 

Tem sido reportada a história do cidadão inglês Abdul Majid que foi encarcerado, a 3 de Julho passado, por ordem do Procurador da República junto do SIC, José Hendengwa Tcyiombe, por não ter pago uma dívida da empresa onde trabalha – a Cetofil – a outra empresa, a HRS.

 

Alguém na Procuradoria Geral da República achou que uma empresa ter uma dívida a outra e receber um pagamento de um terceiro, neste caso as Forças Armadas Angolanas (FAA) e não proceder de imediato à liquidação dessa dívida, era um crime de abuso de confiança e com ordem de prisão preventiva até a dívida ser paga.

 

Em 2012, as FAA haviam contratado a Cetofil para o fornecimento de víveres. Só em Fevereiro passado pagou 128 milhões de kwanzas que faltavam da dívida. Por sua vez, a Cetofil tinha um acordo extra com a HRS, datado de 2014, para o pagamento de 130 milhões de kwanzas por mercadorias que esta havia entregue à primeira de modo a honrar o contrato com as FAA.

 

Esse acordo foi assinado pelo dono da Cetofil, César Augusto. Abdul Majid, desconhecia-o e usou os fundos para pagar outras dívidas da Cetofil. Aliás, até à data a HRS não efectuou qualquer cobrança por escrito. Por isso, Abdul Majid foi preso e continua bem preso!

 

Como qualquer jurista percebe não há aqui nenhuma razão para prender Abdul Majid, nem sequer existe um crime. O que existe é um credor que não recebeu o que esperava, e uma relação entre duas sociedades comerciais. Como se explica que tal conduza um homem à prisão?

 

Entra o optometrista do PGR. Mário Fernandes, o dono da HRS, é o optometrista do PGR Pitta Gróz. E quando tratava dos óculos do PGR terá abordado o assunto da dívida. Foi ali, entre uma experiência de lentes e visões distorcidas, que Pitta Gróz aconselhou o optometrista a apresentar a queixa-crime contra o infausto Abdul Majid, desencadeando todo o processo que levou à sua prisão injusta.

 

Depois de várias ameaças verbais e por mensagem, Abdul Majid entregou o valor remanescente de 35 milhões de kwanzas ao dono da Cetofil, para pagamento de parte da dívida não reclamada formalmente por Mário Fernandes. Este recusou o pagamento na conta da HRS, a entidade credora, e recebeu o dinheiro na sua conta pessoal.

 

Aqui não temos um massagista a fazer o bem, temos um optometrista a fazer o mal. Obivamente, que não tem sentido o PGR Pitta Gróz andar a afinar os seus óculos e a resolver os problemas privados do seu optometrista, pondo as forças judiciais que comanda ao dispôr do homem dos óculos.

 

É por isso que o país não avança rapidamente no seu combate à corrupção, pois persistem os comportamentos abusivos e o favoritismo nas mais altas esferas judiciais. É tempo do PGR mudar de oculista, ou de o país mudar de PGR. Assim não dá!