Luanda - O General Kundi Paihama (Velho Paihama para nós os seus "miúdos) tinha uma maneira muito própria -- e muuito africana também -- de lidar com as coisas e com a vida. A propósito, tenho uma estória que quero partilhar aqui.

Fonte: Club-k.net

MANOBRA DE VELHO GENERAL

Em 1995, era eu Chefe do Escritório Regional Sul do UNICEF, o Velho, então Governador Provincial da Huíla chamou a mim e ao Abdul Sumra, Chefe de Base do PAM e disse-nos "que iria fazer uma acção política nos Gambos" e pedia alimentos, cobertores e medicamentos para levar. É claro que dissemos que não! Apesar de haver uma seca severa, não era assim que se definiam os critérios de elegibilidade para as ajudas humanitárias. Portanto, e não obstante o manifesto carinho que nutríamos pelo Velho... levou uma nega redonda. Sem apelo nem agravo!


"Está bem, meus camaradas" -- respondeu-nos naquele jeito dele -- Eu vou resolver de outra forma". E nós, contentes, "epá, demos a volta ao velho".


Dia seguinte, qual o nosso espanto! Estava o Governador a passar em directo na Rádio Huíla a dizer aos sobas que o UNICEF e o PAM iriam trazer os produtos na semana seguinte. E mais; citava os nossos nomes " O Celso Malavoloneke, Vocês conhecem? Esse mesmo, é nosso miúdo... mais o Abdul Sumra, um zimbabweano que também é nosso, vão mandar os camiões a próxima semana. Se não trouxerem, venham dizer-me e eu vou lhes obrigar! Ou não me chamo Kundi Paihama" -- dizia alto e bom som por entre os aplausos da população.


Furiosos, reportámos a Luanda o "abuso" do Governador. e Jurámos que queríamos ver como é que ia nos obrigar a mandar os camiões para os Gambos. "Ele não manda em nós" Não dependemos dele" -- dizimamos cheios de raiva...


Nesse mesmo dia à tardinha liga a D. Jacinta, a secretária a dizer que o Governador queria que "fôssemos jogar futebol com ele e depois queria conversar". Aié? Vamos sim senhor, mas não há cá futebol nem nada. Vamos atrasar; chegamos no fim da partida, repetimos o não e vamos mazé embora" combinámos eu e o Abdul, ainda muito zangados.


Chegámos de facto atrasados. O João Paulo, ajudante de campo pôs-nos na sala de visitas, mandou servir bebidas e disse que o Chefe ia tomar um duche rápido e vinha já. Sentámo-nos em silêncio e recusam-nos a tocar nas bebidas. Queríamos a visita fria e oficial, nada de confianças.


Ele chegou, todo bem disposto: "Então, não estão a tomar nada?" -- e ele próprio foi servindo as bebidas. Era complicado recusar uma bebida servida pela mão do Mais Velho, né? Aceitámos as bebidas em silêncio.


"Bem, meus camaradas, tenho uma pergunta para vos fazer: se você estiver no jango, a assistir a reunião dos mais velhos, um dos mais velhos peidar e outro perguntar quem peidou, você o mais novo responde o quê?

"Mas, Sr. Governador..." comecei a protestar

"Responde ainda a minha pergunta. Depois podes falar..."

"Bem, respondo que sou eu..." respondi enfiado

"Pois, meus camaradas, é isso mesmo. Nesse momento, eu peidei, mas vocês têm que dizer que foram vocês para eu não passar vergonha..."

Não preciso dizer como a estória acabou, né?...

Esse eras tu, Mais Velho, Meu General. Por isso nós somos porque tu és; UBUNTU!

Endapo nawa, Mukuluketu. Estás a ir mas estás a ficar. Na Eternidade nos encontraremos...

Livanga (passa à frente).