Luanda - A História ensina muitas coisas boas e más. Só que, a humanidade nem sempre é capaz de discernir, identificar e distinguir as coisas boas e más, e saber como tirar proveito do bom e prevenir-se do mal. Neste âmbito vale dizer que, é nas crises profundas que se manifestam as coisas boas e más que influenciam os acontecimentos e impulsionam as mudanças e as transformações profundas no Mundo.

Fonte: Club-k.net

A crise socioeconómica do último século, que abateu fortemente sobre a Europa, na década 30, foi explorada pela extrema-direita da Alemanha, da Itália, da Espanha e de Portugal, tendo-se alterado a ordem democrática, instituiu-se o fascismo, trouxe ao poder o Adolfo Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco e António de Oliveira Salazar. Surgindo as duas Guerras Mundiais que devastaram dramaticamente o Mundo. Olhando bem para a conjuntura daquela época conturbada da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) verás que, as instabilidades socioeconómicas na Europa e no Mundo eram bastantes elevadas, ter gerado um ambiente intenso de incerteza e de descontentamento generalizado, que serviram de pretextos para galvanizar a simpatia da classe média e movimentar as populações.

 

A estratégia da extrema-direita fascista incidiu-se essencialmente na eliminação dos partidos políticos, na instrumentalização das instituições públicas, na manipulação da opinião pública e na domesticação da sociedade. Nesta óptica, no caso específico da Alemanha, o Adolfo Hitler iniciou por desintegrar os partidos políticos, proibir as associações cívicas, fechar as editoras e os jornais, controlar os tribunais, prender os juízes, tomar conta do parlamento, desfazer a polícia e a tropa, acorrentar as igrejas, eliminar as figuras influentes, violar a Carta-Magna, destituir o Presidente da República e concentrar todos os poderes públicos na sua pessoa, como líder incontestável e todo-poderoso. Nesta altura, os Estados Unidos da América estava hesitante e as potências europeias, como Reino Unido e França, não tinham percebido ainda o alcance da estratégia global do Adolfo Hitler, que visava a conquista do Mundo. Só mais tarde, com a queda da França e da Polónia, com a progressão ao Norte da África e com a entrada na Rússia, é que se tornou evidente a visão estratégica do Adolfo Hitler.

 

O ataque a Pearl Harbor pela Força Aérea do Japão, que destruiu a Base Naval Americana, é que forçou os EUA para entrar na Segunda Guerra Mundial, alinhar-se com Reino Unido, França e Rússia para derrotar a Aliança Fascista, liderada pelo Adolfo Hitler. Nesta conflagração mundial, António de Oliveira Salazar manteve uma posição dúbia, equidistante, sem definir claramente o seu posicionamento, mantendo-se indiferente das duas partes em conflito. O final da Segunda Guerra Mundial embocou-se na Guerra Fria entre as Potências Ocidentais e a União Soviética. Como sabeis, só terminou em 1989 com o desmembramento da Europa do Leste e a queda do Muro de Berlim. Em seguida, de forma gradual, os países da Europa do Leste integraram-se na União Europeia, sob a proteção militar da Aliança Transatlântica – OTAN.

 

Dali para diante surgira uma nova ordem mundial – Multilateral – assente sobre quatro pilares principais, sendo: Os Estados Unidos da América, como superpotência mundial; China, como segunda maior economia mundial; União Europeia, como maior mercado do mundo; Rússia, como terceira potência militar a nível mundial. O mercado internacional ficou classificado em três grupos: economias avançadas; economias emergentes; e economias subdesenvolvidas. A China, neste âmbito, lidera as economias emergentes, composta por vários países da Asia, da África e da América Latina, criando um bloco económico, que actua como «contrapoder» ao mercado ocidental. Importa realçar que, a China, além de ser líder das economias emergentes, ela exerce uma influência enorme dentro do mercado internacional. Tendo investimentos avultados em África, na América Latina e na Europa. O peso económico chinês é sentido igualmente nos Estado Unidos da América, sobretudo nas instituições financeiras e na indústria informática e digital.

 

Certo, a economia chinesa atingiu os níveis muito elevados, pondo em causa a supremacia norte-americana. Este potencial económico tem o reflexo enorme sobre a ordem mundial, em termos da civilização, do sistema político e do sistema económico. Repare que, o capitalismo ocidental funda-se na civilização europeia, que encarna o sistema das Nações Unidas, caracterizada por multilateralismo, economia do mercado, livre iniciativa e direitos fundamentais do homem. Vale sublinhar que, o sistema político da China, nesta óptica, é de matriz mono partidária, supra étnica, semi-capitalista, centralizado, expansionista e hegemónico. A questão de fundo, nesta problemática, reside na decadência gradual das instituições ocidentais, com a concentração da riqueza do mundo em um pequeno grupo de multibilionários, detentores de capitais, que domina o mercado internacional. A sua influência é igualmente sentida junto das organizações internacionais, que inclui as Nações Unidas, que é dominada apenas por Cinco Membros Permanentes do Conselho de Segurança.

 

Neste momento, na vigência da presidência do Donald Trump, os Estados Unidos da América está afastar-se dos grandes fóruns internacionais, a serem preenchidos gradualmente pela China. Este fenómeno recorrente preocupa, de grosso modo, a União Europeia que sente-se ameaçada pela aceleração do crescimento económico chinês e pela implantação militar da Rússia no Médio Oriente e no Norte da África. Sem, ao qual, as potências ocidentais terem a vontade política de investir fortemente no mercado internacional no sentido de criar o equilíbrio. Pelo contrário, nota-se o espirito conformista da União Europeia de aceitar livremente a supremacia da China. Enquanto espera, com expectativa, a evolução da situação interna dos Estados Unidos da América, para que este quadro seja invertido.

 

Em função disso, a política actual da União Europeia consiste em pressionar a China para mudar o seu comportamento totalitário e hegemónico, assente na supremacia étnica Han, que representa 92% da população da China, inspirada pela cultura tradicional taoista e confucionista, que o governo chinês impõe sobre as minorias étnicas, de raças e de culturas distintas. O cenário que preocupa muita gente neste momento é o ressurgimento das novas ditaduras no mundo, sobretudo em África, na América Latina e na Ásia, onde a cultura soviética, da guerra-fria, ainda faz sentir-se fortemente nas instituições públicas. Mesmo na Europa Ocidental, com instituições democráticas fortes, nota-se uma tendência crescente do ressurgimento da extrema-direita, pondo em perigo a paz, a segurança mundial, a estabilidade política, o crescimento económico e o bem-estar social.

 

No caso específico de Angola, a conjuntura política é ambivalente, entre a abertura da sociedade e a consolidação do sistema autoritário. Isso nota-se pelo reforço da partidarização dos tribunais, da função pública e dos órgãos eleitorais. Há uma estratégia clara que se aposta na desagregação gradual dos partidos políticos e do afastamento das figuras políticas representativas. Existe a teoria de «não-proliferação de partidos políticos» e a adopção do sistema da «bipolarização partidária» da sociedade angolana. O que, na verdade, é uma «cortina de fumo» que vai acabar por afirmar o sistema hegemónico, sem alternância do poder público, como acontece na China.

 

A luta contra a corrupção não visa a consolidação da democracia, mas sim, lavar a imagem do partido que ficou danificada fortemente; por outro lado, visa afastar a ala do antigo Presidente, que tem em sua posse mais de 85% dos activos do país. Logo, a privatização das empresas públicas enquadra-se numa estratégia complexa que visa distribuir o negócio e associar-se aos multinacionais. A criação de consórcios com o capital estrangeiro constitui um mecanismo de lóbi junto das potências mundiais. Porém, não altera a visão estratégica de adoptar o sistema político chinês. Importa saber que, neste momento Angola está comprometida com a dívida chinesa, cujos interesses no país são enormes e difíceis de contorná-los, sobretudo na incapacidade de geri-la e paga-la correcta e devidamente. Pois, quanto mais tempo a dívida durar, mais vulnerável que se torna diante os credores.

 

Em síntese, o mundo encontra-se numa crise profunda, não só da covid-19, mais sim, do colapso da economia mundial. Note-se que, as instituições democráticas ocidentais enfrentam uma crise profunda da adaptação aos factores da globalização, da partilha do poder global, da distribuição da riqueza e da migração. Como resultado, a Europa e os EUA estão asfixiados, sem recursos suficientes para integrar os imigrantes, provocando o sentimento de revolta, do racismo e da xenofobia.

 

O mais intricado é que, apesar do potencial económico da China e a proximidade geográfica da Rússia ao Médio Oriente e à Africa do Norte, não regista o interesse das pessoas emigrarem para aqueles espaços geográficos. Afinal de contas, as pessoas não emigram apenas em busca da riqueza, mas sim, ir ao encontro da liberdade, da justiça, da igualdade, da dignidade e do bem-estar social. Isso revela que, o sistema democrático, apesar das suas insuficiências, ele é ainda o mais adequado do que o sistema autoritário, que oprime o povo e lhe sujeita à vontade política de um pequeno clique, que se apodera dos poderes políticos, económicos e financeiros, mergulhando a população na pobreza extrema e na miséria.

 

Dizendo que, a África está atravessar uma fase crítica, caracterizada por dois contextos convergentes, por um lado: a pobreza extrema, a distribuição desigual da riqueza, o enriquecimento ilícito das elites, a corrupção sistémica e a fuga em massa de jovens africanos aos países industrializados. Por outro lado, verificam-se as fragilidades enormes das instituições públicas, o autoritarismo, o descontentamento crescente da população, o terrorismo internacional, a expansão do fundamentalismo islâmico e a proliferação de conflitos internos e intraestatais.

 

Este é o quadro real do Continente Africano que aconselha ter muita prudência na formulação de políticas públicas, na tomada de decisões e na credibilização das instituições, sobretudo dos órgãos da justiça, que devem agir nos marcos da lei, no sentido de salvaguardar a cidadania, os direitos fundamentais e erguer o Estado Social, Democrático e de Direito.


Luanda, 26 de Julho de 2020