Luanda - Mesmo depois do Serviço de Investigação Criminal (SIC), sob o mandado da PGR, ter determinado a detenção em regime de identidade e residência, o ex-administrador municipal do Bolongongo, Miguel Gaspar continuou a assinar ordens de saque.

*Joca Cabral
Fonte: Club-k.net

Segundo apurou o Club-K, um dia antes de ser exonerado, Miguel Gaspar foi “flagrado” a assinar uma ordem de saque na localidade de Kisafu, na fronteira entre os municípios de Luvcala e Cazengo.

 

Neste dia, conta um agente da SIC, Miguel Gaspar orientou o administrador em exercício, apenas identificado por Ariclene mais conhecido por Ary, para levar até Ndalatando, onde se encontrava para assinar uma ordem de saque para o levantamento de cerca de 300 milhões de kwanzas.

 

Ariclene substitui interinamente Miguel Gaspar por força da investigação instaurado contra si e por medida cautelar que lhe foi imposta, como o impedimento de aceder às instalações da administração municipal, em decorrência das fortes evidências da prática de corrupção e desfalca do erário público.

 

“Não compreendíamos as razões que levavam o governador, Adriano Mendes de Carvalho de não ter exonerado o então Administrador Miguel Gaspar mesmo tendo em sua posse evidências de tais actos desde que assumiu o cargo de governador provincial”, disse outra fonte ligada ao edifício do governador provincial ao centro da cidade de Ndalatando, que admitiu a possibilidade de conluio nas infracções agora investigadas pela PGR.

 

Ainda relutante Adriano Mendes de Carvalho, só depois de levarem as evidências graves em fotografia e ser aconselhado por um alto responsável de um órgão de defesa e segurança é que este foi forçado a exonerá-lo. “Notamos certa animosidade da parte do governador que se sentia contrariado”, lembrou a fonte.

 

Várias fontes convergem no facto de que, as “falcatruas financeiras de Miguel Gaspar remontarem desde que, em Janeiro de 2018, assumiu a chefia do município, ao implementar um sistema de nomeação de falsos responsáveis de distintas áreas administrativas, com maior realce para sobrinhos e familiares, muitos deles desempregados em Luanda”.

 

A fonte descreve que o homem procedia à nomeação, mandava abrir uma conta bancária e de seguida recolhia os multicaixas dos novos chefes fantasmas, que lhe permitia transferir o salário da conta do fictício trabalhador para a sua conta.

 

“No mesmo ano em que assumiu o cargo terá desfalcado ao Estado cerca de três milhões de kwanzas com essas práticas dizem as fontes colocadas na administração municipal de Bolongongo”, contou a fonte.

 

Aludem ainda que Miguel Gaspar teria mandado orçamentar uma obra de uma escola no bairro Pimbi que já se encontrava a cerca de 95 por cento de pagamento.

 

Segundo as mesmas fontes, estas e outras informações, foram passadas oportunamente pelos órgãos oficiais do Estado ao novo governador, que de início manifestava disposição para se desfazer do agora arguido, Miguel Gaspar, tendo para o efeito solicitado para que se encontrasse um substituto em meados de 2019.

 

Entretanto “surpreendeu-nos que passado pouco tempo os dois tornaram-se amigos ao ponto do governador desvalorizar quaisquer informações que retratassem possível falcatrua do mesmo”, revelou um alto responsável do governo provincial que preferiu falar sob o anonimato.

 

Mesmo confrontado com uma manifestação de populares que pediam a exoneração de Miguel Gaspar, no momento da inauguração da administração municipal, o governador, Adriano Mendes de Carvalho, foi categórico em dizer aos manifestantes, que se tinham juntado espontaneamente defronte do palácio, que iria mantê-lo em funções porque “ele está a trabalhar bem”, recorda outro funcionário da administração municipal de Bolongongo.

 

“Aí pensamos o nosso município nunca vai desenvolver, com dirigentes a protegerem outros dirigentes gatunos”, disse.