Luanda - O território que a partir de 1979 porta oficialmente o nome de República Islâmica do Irão, conheceu ao longo da sua milenar história, várias alterações de ordem etimológica. Designado desde a antiguidade pelos gregos e outros povos do ocidente como Pérsia, os seus naturais chamavam-lhe contudo de Erân (país dos Arianos ou Iranianos). Aquando da sua subida ao poder em 1935 o Xá Reza Pahlavi, num elã nacionalista, pediu formalmente a comunidade internacional que passasse a referir- se ao país como Irão e não mais como Pérsia. Todavia Mohammad Reza Pahlavi, o filho que lhe sucedeu por imposição dos países aliados da Grande Guerra, volta a admitir por lei, ambas as designações – Pérsia/Irão.

Fonte: Club-k.net

Com uma população de 80 milhões de habitantes, localizado no sudoeste asiático, entre o Iraque, a oeste, e o Afeganistão e o Paquistão, a leste, o Irão é banhado pelo Golfo de Omã, pelo Golfo Pérsico e pelo Mar Cáspio. Com uma área de 1.648.000 quilómetros quadrados, o Irão é o décimo-sexto maior país do mundo em território, o que equivale aproximadamente a área do estado do Amazonas, no Brasil, ou um pouco maior do que as áreas de Angola e Portugal somadas.


A actual República Islâmica, encorada no xiismo (facção mais dura e radical do islamismo) é tida como uma ameaça pelas nações ocidentais, pelos seus vizinhos árabes, maioritariamente sunitas e Israel, mas o inverso é também uma realidade. Além dos seus problemas políticos internos (contestação do regime teocrático), o Irão é confrontado com fortes problemas geopolíticos devido as relações de hostilidade que mantem com três categorias diferentes de países: seus vizinhos árabes (maioritariamente sunitas), Israel e os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos. O Irão actual, produto da revolução encabeçada pelo Ayatollah Khomeini é visto como uma ameaça para esses três conjuntos geopolíticos. Ele sente-se também ameaçado por cada um deles, pois, todos eles veriam com bons olhos uma mudança de regime em Teerão.


Um dado maior nesta problemática é que embora o Irão e os demais países árabes pertençam todos ao chamado mundo muçulmano, na verdade este mundo muçulmano está, desde a morte do Profeta Mohammed e por razões da sua herança religiosa, cindido em dois blocos irreconciliáveis: de um lado os sunitas (ditos islamitas moderados) liderados pela Arabia Saudita e em face os “radicais” xiitas que têm o Irão como porta-estandarte. Se durante o reinado de Mohammed Reza Pahlavi o Irão adoptara uma política pró-ocidental, de aproximação aos seus vizinhos da região e de não- agressão vis-à-vis de Israel, a queda do Xá, provocada pelo islamismo radical, conduziu à rotura da aliança com os Estados Unidos de América e da boa vizinhança com Israel, e produziu também um contágio revolucionário na região. Deste modo, o Irão tentou mobilizar importantes minorias xiitas que viviam no Golfo, utilizando como bandeira a “impia” aliança dos regimes árabes com os inimigos do Islão, capitaneados pelos EUA. O Iraque do sunita Saddam Hussein (embora se suponha serem os iraquianos xiitas tão numerosos como os sunitas) lança-se numa longa guerra contra o Irão (1980- 1988), apresentando-se como a muralha do mundo árabe contra a ameaça pérsica, xiita e revolucionaria iraniana. Sob o regime do Xá, os EUA queriam fazer do Irão o guardião da região do Golfo. A revolução de 1979, com a detenção de reféns de diplomatas na embaixada americana de Teerão, conduziu a uma rotura total das relações diplomáticas, económicas e comerciais entre os dois países.


Os EUA são considerados como o “Diabo em pessoa”, pelo regime iraniano. O antigo Presidente americano George Bush classificou o Irão, a Correa do Norte e o Iraque como países do “eixo do mal” no seu discurso de Janeiro de 2002, que anunciava a guerra do ocidente contra o Iraque. O programa nuclear iraniano é apresentado por Teerão, como tendo uma finalidade civil mas os ocidentais acreditam que a vocação desse programa é puramente militar. Neste quadro, europeus e americanos uniram-se numa política de sanções contra Teerão. Para os ocidentais o desafio de Teerão é triplo: pode meter em causa o princípio da não-proliferação nuclear, desafia a autoridade e a credibilidade internacional, e é uma ameaça para o Israel país que de acordo com os predicadores radicais iranianos, “tem que ser erradicado da face da terra”.


O falhanço da guerra contra o Iraque sob pretexto oficial de lutar contra o programa de armas de destruição massiva levou os americanos a renunciar provisoriamente, a operação militar contra o Irão. A crescente ameaça balística iraniana justificou a decisão da instalação do sistema de defesa antimíssil pelos países da NATO em Dezembro de 2002. Com essas disposições, o ocidente admite implicitamente que o Irão pode-se dotar da arma nuclear (hipótese considerada como inaceitável) e que a dissuasão não funcionava com o Irão. Importa realçar aqui, que a desproporção das despesas militares da NATO e do Irão é imensa.


Como já nos referimos, a “aliança” entre o Irão e o Israel quebrou-se em 1979. Apresentando-se como o mais destemido inimigo do Estado Hebreu, o Irão procura alargar a sua influência apesar das diferenças culturais e religiosas junto das opiniões árabes, cujas populações acusam os seus dirigentes de cumplicidade com os EUA e Israel. Dotado de uma capacidade nuclear de 200 armas, Israel não está realmente ameaçado estrategicamente, por um ataque iraniano. O Estado hebreu serve-se das ameaças do antigo Presidente iraniano Ahmadinejad, de erradicar da face da terra Israel, declaração que denuncia a vontade de Teerão de possuir a arma nuclear. Mesmo se o Irão se dotar de armas nucleares, O Estado de Israel estará sempre a altura de dissuadir Teerão contra todo tipo de ameaça nuclear sobre o seu território. Antes mesmo que um míssil iraniano toque o solo Israelita, seria talvez o Irão a ser tirado do mapa; o que é inaceitável para Israel, é a perspectiva de um equilíbrio estratégico regional com qualquer adversário, vizinho ou não. O objectivo de um eventual programa nuclear militar iraniano seria de fazer do seu país um santuário contra as ameaças exteriores.


As sanções económicas enfraqueceram o Irão. A população demonstra cada vez maior rejeição ao regime repressivo dos Ayatollahs. Em Junho de 2013, o moderado Hassan Rohani foi eleito Presidente e afirmou a sua vontade de abrir o país ao mundo. Em Julho de 2015, os Ministros de “5+1” (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha) e o Presidente iraniano assinaram um acordo prevendo a não militarização do programa nuclear iraniano contra o levantamento progressivo das sanções. A solução militar foi afastada e a esperança da normalização das relações entre o Irão e os países ocidentais é possível. Mas são doravante os países do Golfo, e sobretudo a Arabia Saudita, que temem pela subida da influência do Irão no Iraque, Líbano, no Iémen e Síria.


Junta-se à preocupação dos países do Golfo, o assassinato do General Qassem Soleimani. Figura carismática e popular do Irão, Qassem Soleimani foi assassinado no dia 03 de Janeiro de 2020 por misseis americanos lançados por um drone, nas imediações do aeroporto de Bagdad. Foi de 1998 à 2020, chefe da força AL-Qods (unidade de elite dos Guardiões da Revolução Islâmica), arma ideológica da República Islâmica, o General Qassem Soleimani foi o arquitecto da estratégia do Irão na região e desde a sua morte a tensão entre Teerão e Washington conheceu o seu pico remetendo para tempos melhores a agenda da normalização das relações entre Teerão e o Ocidente. O Presidente Rhoani talvez careça de poder suficiente para travar a deriva radical conduzida pelos Guardiões da Revolução Islâmica, que aparecem muitas vezes como sendo os verdadeiros “gestores” do país.