Luanda - Há muito que se coloca em causa a imparcialidade dos órgãos de comunicação social público no tratamento de determinados temas que colocam em causa a imagem do Executivo ou do MPLA, apesar da ilusória liberdade editorial que se regista nas referidas redações, desde a tomada de posse do Presidente da República, João Lourenço, em 2017.

Fonte: Club-k.net

O surgimento do Grupo Media Nova (TV Zimbo, Jornal "O País" e a Rádio Mais) e a empresa Interactive, Empreendimentos Multimédia Lda (TV Palanca, Rádio Global e Agência de Produção de Programas de Áudio e Visual) deu um novo alento aos cidadãos que estavam asfixiados e intoxicados com as (des)informações dos canais de comunicação (TPA, RNA, ANGOP e Jornal de Angola) do partido que governa muito mal o país, ou seja, o MPLA.

Contudo, o arresto desses dois "gigantes" da Mídia privada, nomeadamente, o Grupo Media Nova e a Interactive, Empreendimentos Multimédia Lda, tendo sido deliberado pelo Serviço Nacional de Recuperação de Activos, adstrito à Procuradoria Geral da República (PGR), a entrega dos respectivos activos ao Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MTTICS), e este por sua vez, passou para a alçada da RNA (fiel depositário da Rádio Mais e a Global FM), da TPA (fiel depositário da TV Zimbo e Palanca TV, e das Edições Novembro (Jornal O País).


Por quê razão prevalece o silêncio dos supostos "prevaricadores". Ou estão a dar azo ao adágio "quem cala consente"!


A arbitrariedade da PGR é refletida, também, no facto da omissão dos nomes dos larápios que lesaram o erário público?


Mais uma vez, a PGR revelou que a justiça está a pautar pela máxima "dois pesos e duas medidas", pelo facto de ter se limitado apenas a citar as empresas, omitindo os saqueadores do erário público, tal como tem sido praxe quando é "publicitado" a detenção da "raia miúda" de gestores públicos (Administradores adjuntos municipais, chefes de secretetarias, comandantes municipais, etc.), revelando nome, e até o número do calçado dos implicados.
Entendemos dessa forma que a PGR está a ser injusta e desonesta, sem o uso de imparcialidade.

A título de exemplo, "coincidentemente", os órgãos de comunicação do partido no poder não destacaram, muito menos, fizeram referência sobre a fortuna "congelada" do presidente e accionista único da AAA Activos, Carlos São Vicente. O genro do primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto, tem congelado desde Dezembro de 2018, aproximadamente 900 milhões USD depositados num banco suíço, resultante da decisão do ministério público do cantão de Genebra que acusou, em Março de 2019, o empresário angolano de branqueamento de capitais. Obviamente que à "Ordem Superior" falou mais alto, silenciando inclusive à PGR.


Analisando o festival de arresto de empreendimentos construídos com fundos públicos, muitos dos quais rentáveis, facilmente podemos concluir que contam-se pelos dedos o número de empresários bem sucedidos no país que não "roubou" o povo para fazer fortuna.


O serviço nacional de recuperação de activos do país vai mostrando trabalho, animando vários segmentos sociais. Pelo andar da carruagem, mensalmente seremos brindados com notícias de "arrastos" e arrestos da PGR, onde a ZAP poderá estar na corda-bamba.


Mas ainda assim, várias questões pairam no ar, sobretudo, para quem está a morrer de fome:

a) Quais são os benefícios dos bens confiscados?

b) Qual é o impacto do arresto na economia do país?

c) Quando é que serão "arrestadas" à fome do povo?

De acordo com um Jurista, que preferem não ser identificado, "a entrega formal ao MTTICS das empresas privadas de comunicação social arrestadas pela PGR não significa que as mesmas já pertencem ao Estado, mas sim, acontece porque existe um processo em curso no tribunal que aguarda pela decisão judicial, e determinar se os respectivos activos serão propriedades do Estado e não dos seus proprietários". Nesse caso, a TPA é a RNA são, meramente, fiéis depositários até decisão judicial, concluiu.

Se por um lado devemos louvar à luta de recuperação de patrimónios construídos à custa do sofrimento dos angolanos, por outro, a passagem para esfera do Estado destes activos geram algum receio da parte da sociedade civil. A dúvida que persiste, nessa altura, é claramente a possibilidade vermos restringidos o direito de liberdade de expressão e de opinião nos referidos órgãos de CS, abrindo uma nova auto-estrada para "censura" dos espaços noticiosos e/ou de entretenimento, salvaguardando os interesses de "Ordens Superiores", bem à moda da Administração "Eduardista".


Entretanto, já se diz em tom de brincadeira que doravante teremos quatro canais da TPA, ao serviço do MPLA.

Verdade, porém, é que a TPA e a RNA já estão tão "obesas", que continuam com enormes dificuldades de melhorar as condições laborais e salariais, que podem ser identificados a olhos desarmados, como é o caso de falta de transportes para reportagem, subsídios (atavio, horas extras, disponibilidade, alimentação, etc), só para não citar as inúmeras dificuldades que atravessam os Centros de Produção à nível das 18 províncias, cultivando uma imagem de mendicidade, transformando, a cada dia que passa, esses órgãos de comunicação social como o "Quarto do Poder". Ou seja, está a ser montado o cenário para as "orgias editoriais", rumo aos desafios eleitorais que se avizinham.