Luanda - Para o antigo presidente do Conselho de Gestão das AAA, Carlos Manuel de São Vicente, transferir durante a sua gestão, cerca de 2,9 mil milhões de dólares, valores estes justificados ao Banco Nacional de Angola (BNA) como pagamentos de resseguros, este feito, demonstra claramente a profundidade da corrupção endêmica a que Angola foi alvo durante o consulado de José Eduardo dos Santos.

Fonte: Club-k.net

Quem cala, consente. Assim acusar só São Vicente deste crime financeiro, tão avultado, seria como dizer que o massacre dos Judeus durante a Segunda Guerra Mundial foi culpa dos Generais de Hitler e que ele está com as mãos limpas.


Meu primeiro encontro com este grande “Gatuno” aconteceu em 2008 na antiga sede da Sonangol. Eu, como analista comercial para área dos seguros energia da BP Angola, encabeçava uma delegação da área comercial da empresa que incluía o meu chefe direito e a Directora da área comercial também conhecida como “ Godzilla” pelo jeito como ela se movia no escritório. Em causa estava uma factura da apólice de seguro do projecto do Bloco 31 PSVM. As AAA tinham enviado uma quitação final de 111 milhões de dólares, valor este quando foi analisado por mim e pela área de seguros da BP em Londres sediada em Canary Wharf, concluímos que estava muito alto.


Neste encontro entre a Sonangol, AAA, a BP Angola como operadora, tinha por objectivo convencer São Vicente a baixar a apólice. Foi assim que em meio a reunião eu pedi aos presentes para tirar o chapéu da BP e colocar o meu de Angolano ao dirigir-me a São Vicente. Meu argumento a ele foi: ao baixar a apólice, as AAA estariam a ser patriótica diante do Contrato de Partilha (PSA) em relação a recuperação de custos pelo grupo empreiteiro do bloco 31 PSVM. Quanto menos dinheiro o grupo investisse no projecto, mais Angola ganharia em cada barril produzido naquele campo.


O fogo unilateral e vocifero de São Vicente contra me, não se fez esperar. Olhando para mim com fisionomia demoníaca e desprezo que era reservado para os indigenes no tempo da escravatura; ele retoricamente perguntou: você quer que eu cobre um ($1) para esta apólice? E depois rematou, se você abrir mais a sua boca, tu sais desta reunião. Assim, descobri o que muitos dos funcionários das AAA já me haviam alertado, dizendo que nas AAA o único Dra. era ele e você nunca quer despertar o monstro que vivia nele. Meus chefes na reunião não só pediram que eu permanecesse em silêncio, uma vez no escritório fui duramente criticado. O Director da Área de Risco da Sonangol ( patrão de todos nós naquela reunião), ficou bem quietinho e deixando São Vicente marcar os pontos na sua agenda egocêntrica e criminosa.
Minha audacidade de poupar Angola, a mais um roubo de São Vicente, conforme se sabe hoje, não parou por aí. Com muito sacrifício e tecnocracia, elaborei um parecer técnico para a direção comercial da BP Angola em Luanda e a Direção de seguros em Londres este foi aprovado com algumas reservas. Convoquei então a reunião de emergência com a Sonangol, AAA e o grupo empreiteiro para analizar profundamente esta questão da apólice de Usd 111M que todos nós sabíamos que estava inflacionada.


Para os que não conhecem a complexidade e valores envolvidos para uma operadora, no que tange a seguros de energia, basta olhar para o decreto 186/01, para concluir que as AAA eram um monopólio crido para este fim - enriquecer a elite angolana de ontem e hoje. As empresas petrolíferas, pré-pagam milhões de dólares em seguros energia, acidentes de trabalho, pensões dos funcionários e seguros automóvel. Para a BP Angola, isso significou que eu como responsável desta área, teria que movimentar mais de 300 milhões ano, e sem multas de atraso ou juros de mora em liquidar essas facturas inflacionadas que as AAA emitiam sem piedade. Se se calcular só os gastos de seguro energia das operadoras como a Francesa Total, as Americanas Chevron e Exxon, estamos a falar em bilhões de dólares ano, que nunca entraram para os cofres do emEstado já que ele era o sócio maioritário com 90% , ( agora entendo porque ele recusou responder ao Due Diligence (DD) que enviei para ele, logo que comecei a trabalhar com seguros energia).Se os resseguros com os grupo Loyds de Londres e Swiss Re, não eram incorporados na prática, então algum deus, algures no universo, ouviu as orações abomináveis de São Vicente - isto porque Angola nunca enfrentou um sinistro gigantesco, que testasse a capacidade financeira das AAA em termos de repor patrimônios por eles assegurados. O certame acima referido, aconteceu em Setembro de 2008 no restaurante indiano na ilha de Luanda. Foi desgastante ter que ouvir os argumentos deste gestor danado e danoso, mas no fim, a Sonangol e o grupo empreiteiro conseguiram vergar a mão de aço de São Vicente. Já em 2009 essa apólice foi reduzida para 94 milhões de dólares e prontamente meu sucessor a liquidou já que eu fui forçado a rescindir meu vínculo laboral no primeiro trimestre de 2009 com a BP Angola.Sem desprender fel sobre tudo que aconteceu, acredito que este foi sim um ganho para o país, ganho este que foi avaliado em 17 milhões de dólares, e podemos agora dizer também que este valor foi ao menos - menos um valor para a conta de São Vicente na Suíça.


A Godzilla, que era a directora da Direção Comercial, durante a preparação do certame, sempre argumentou que meu esforço seria em vão porque São Vicente jamais aceitaria a redução da Apólice. Sendo tudo “ Ceteris Paribus”, conseguimos o desconto almejado. O que não entendi até hoje, é que em Dezembro deste mesmo ano, depois deste colossal ganho para a empresa, os meus chefes brancos e racistas ( filhos da BP PLC) ainda marcaram meu desempenho como tendo sido abaixo da media. Quando protestei, de acordo ao director dos recursos humanos, na altura Paulo Pizarro, que depois que foi promovido a director geral, nega ter tido este encontro comigo, deu-me a conhecer na Shoperite no Bellas, que os meus chefes pediram para que eu fosse despedido e que fosse pago $50.000 pelos meus cinco anos de serviço a BP Angola, valor este que nunca recebi até hoje.


Aqui também há algo de errado: a petrolífera BP, durante os anos de 2003, ano em que fui recrutado dos Estados Unidos para Londres, recrutou outros tantos angolanos num universo de centenas. Muitos como eu, foram enviados para Londres num programa chamado Challenge, e postos aí, éramos tratados como expatriados com todos os nossos custos assumidos pela BP. Só que, estes custos, eram recuperáveis dentro do contracto PSA. Se a algum órgão de fiscalização fizer um levantamento sério, verificará que todos estes angolanos que foram enviados para diversos países, para a formação, estão hoje fora da BP e muitos no desemprego.


Assim como ficam os investimentos recuperados de Angola pela BP que rondam na casa de milhões de dólares? Tal como São Vicente engordou com o nosso dinheiro, a BP e outras operadores estão no mesmo vale de roubalheira. O Executivo, devia mandar uma factura a cobrar os valores gastos na formação de todos estes angolanos que hoje foram despedidos da BP Angola sem motivo. Isso seria justiça e combate à corrupção. Esses milhões daria para construir um Centro de Excelência ou uma academia dedicada ao Sector Petrolífero.


Diga-se com tristeza que os angolanos nas petrolíferas foram sempre enteados e alcunhados de “macacos” conforme alguns chefes da BP em Sunbury em Londres foram apanhados numa conference call antes da reunião a desprestigiar os donos do ouro negro, que somos todos nós os angolanos. Enquanto isso São Vicente com o dinheiro de todos nós, também engordava e tomava o tamanho e fisionomia de um leitão clinicamente diagnysticado. Ao ler as noticias sobre este é outros gatunos em Angola, ergo a minha humilde voz em apoio a luta contra a corrupção encabeçada hoje pelo Presidente JLO. Lamentavelmente, Angola só conseguiu repatriar coercivamente quase 4 mil milhões de dólares do Fundo Soberano ao abrigo da lei do repatriamento de capitais, que dava um prazo entre 26 de Junho e 26 de Dezembro de 2018 para o repatriamento voluntário sem qualquer medida de coacção, mas tristemente nem 1 dólar a mais retornou ao país de forma voluntária.


Portanto corruptos e prevaricadores como São Vicente, Manuel Vicente e comparsas, devem sim sentir o peso dos seus pecados, porque estes já os acharam. Angola merece melhores gestores é uma PGR moderna e operante.

A luta continua.


Luanda aos 31 de Agosto, 2020