Huambo - A morte "prematura" do jovem médico Sílvio Dala, em função das circunstâncias vergonhosas , autoritária incompetente da Polícia Nacional, em que ocorreu o infortúnio, demonstra, claramente, a falta humanização na actuação das forças de segurança pública. O Pediatra foi levado numa esquadra policial do Rocha Pinto, em Luanda, por andar na sua viatura sem máscara, à luz das medidas restritivas da Covid-19, quando regressava a casa sozinho, após 24 horas de serviço, acabando por perder à vida na unidade, alegadamente, após um enfarte.

Fonte: Club-k.net

A morte de Sílvio Dala mata igualmente o sonho de um profissional de saúde, que era director do Hospital Materno Infantil da província do Cuanza Norte, e se encontrava em Luanda em formação, e certamente aspirava prosperar no ramo.

Como era de se esperar o infortúnio indignou a classe angolana dos médicos com a morte do pediatra de 35 anos de idade, que promete sair à rua para manifestar o descontentamento por não acreditar que a causa da morte seja a versão apresentada pela PN, mas sim, o excesso de zelo na actuação dos agentes.

Infelizmente no nosso país a polícia sempre procedeu de forma violenta em grande maioria dos casos, e o fatídico episódio só veio à tona, e ganhou tal repercussão, por ser um médico, porque lamentavelmente muitos anónimos já morreram devido a atitude grosseira dos agentes da (des)autoridade.

O sentimento de revolta do Sindicato de Médicos de Angola é expresso nos seguintes termos: "o nosso colega é médico e identificou-se como médico. No seu carro tinha bata. O que é que faz colocar um médico na cela por causa de 5 mil Kwanzas? Por que é que não apreenderam a viatura e ele ia buscá-la quando pagasse o dinheiro?".

Quando se esperava por um esclarecimento imparcial dos órgãos competentes, no sentido de tirar à limpo as investigações sobre as causas da morte, mais uma vez, a Polícia Nacional perdeu a oportunidade sublime de "fazer bonito", na tentativa de procurar justificar o injustificável, contrariando a posição do Sindicato dos médicos, bem como às imagens que circulam nas redes sociais, onde a vítima aparece a sangrar.


Num teatro mal ensaiado, os argumentos apresentados pelo porta-voz da Polícia Waldemar José, enrolou-se no discurso afirmando que o médico teve uma crise convulsiva na cela. "Primeiro começou a convulsionar para frente, quando deu conta que tinha um obstáculo caiu de traz. De seguida começou a sangrar, e a polícia não tinha viatura para o transportar, foram a procura de uma viatura para o levar para o hospital", argumentou.

Silvio Andrade Dala é mais uma vítima do sistema de saúde angolano, que sistematicamente, continua a faltar com a verdade, quando afirma que as condiçoes estão criadas para atender os pacientes que acorrem às unidades especializadas ao tratamento à covid-19.


A frustração dos médicos é compreendida pelo facto de serem profissionais da linha da frente no combate à pandemia, onde vezes sem conta trabalham em condições deploráveis, com salários miseráveis, sem medicamentos, materiais de biossegurança (luvas, máscaras, seringas aventais, etc), sem descurar que três médicos já foram vitimas do novo coronavirus.

Perante o momento de dor e luto, o Presidente da República, João Lourenço, deixou de "chorar" pela alma do malogrado e da dor da família enlutada para aplaudir a live de Kudurista em homenagem ao músico Sebem (sem desprimor ao ícone do Kuduro), emitido no último sábado, pela TV Zimbo, revelando ser um péssimo "Xadrezista". A atitude de um Estadista que os angolanos almejam, seria "reagir" 24 horas após o infausto acontecimento em jeito de solidariedade à família enlutada, e de seguida revogar, automaticamente, a lei que regulamenta o uso de máscaras no interior da viatura, e acto contínuo, deve apresentar de bandeja as "cabeças roladas" de figuras de proa da Polícia Nacional (sem descurar o Porta-voz), e o médico que forjou a autópsia.

Silvio Dala entra para estatística de pessoas que perderam a vida em Angola fruto da violência policial, durante o estado de emergência decretado por conta da pandemia. Segundo a Amnistia Internacional e a associação angolana de direitos humanos Omunga, no mês passado 16 pessoas morreram na sequência da actuação ríspida de efectivos da corporação policial.

O porta-voz e demais efectivos do Ministério do Interior aparecem vezes sem conta sem máscaras ou mal uso da mesma, daí entendermos que é caso para dizer que os "rotos à repudiarem os rasgados", ou seja, não passam de "moralistas sem moral".

Algumas vozes da sociedade apelam à desobediência civil não usando a máscara no interior da viatura, em protesto a "lei injusta". Tal como já se viralizou nas redes sociais, "o perigo não é só a Covid-19. Use a máscara! Proteja-se dos polícias".