Luanda - Com o reinício das aulas previstas para o mês de Outubro, segundo último Decreto do Governo angolano, que garante um retorno faseado nos subsistemas de ensino, ainda em fase de pandemia da covid-19, várias opiniões divergentes da sociedade civil levantam-se sobre a eficiência das “tele-aulas”, para salvar o ano lectivo 2020/2021, transmitidas pela Televisão Pública de Angola (TPA) e Rádio Nacional de Angola (RNA), numa altura em que o portal “reporterangola.Info” publicou recentemente que “92 por cento das crianças não assistiram tele-aulas da TPA”.

Fonte: Club-k.net
Alunos.jpg - 46,56 kBEm entrevista exclusiva ao Club-K Angola, o docente universitário nas cadeira de Histórias da Educação, Educação e Pedagogia Geral e Ética e Deontologia Profissional, Inácio Canivete, Pedagogo e Mestre em Psicologia de Desenvolvimento e Educação, considera que os métodos aplicados nas “tele-aulas” não foram das melhores para compensar as aulas presenciais, por não ter havido uma planificação de aulas e critérios de avaliação, previamente levadas ao conhecimento público como base de orientação para o ensino.

“As tele-aulas são bem-vindas. Mostra a vontade do governo em fazer acontecer a escola e o ensino. Mas faltou rigor, uma planificação de aulas com critérios de avaliação dos alunos bem específico publicado para que as famílias pudessem saber os capítulos a estudar. A planificação ficou desconhecida tanto pelas famílias, alunos e até mesmo alguns professores não dominavam os capítulos que estavam a leccionar”, lamentou o Pedagogo.

Para o docente da cadeira de “Ética e Deontologia Profissional” na Universidade Jean Piaget, pais, encarregados de educação e os próprios alunos desconhecem os capítulos ou unidades curriculares por onde deverão começar as avaliações nas retomadas das aulas presenciais, com base nas aulas a distâncias, se, por algum critério, será até às últimas aulas a 20 de Março, altura da suspensão, ou a partir das “tele-aulas” até ao reinício das presenciais, uma vez que nem todos alunos estiveram conectados.

“Primeiro é que não havia uma sequência das tele-aulas, o professor desconhece a planificação das mesmas, logo, vai desconhecer os critérios de avaliação porque terá dificuldades de fazer das matérias a distância aulas realmente ministradas para dar sequência aos conteúdos posterior”, explicou.

Por outro lado, a fonte explica os factores científicos que concorrem para que a recuperação do ano lectivo 2020/2021, nas circunstância em que estão a ser programadas, possa comprometer o nível da qualidade de ensino e aprendizagem, face a pandemia, nos mais variados subsistemas de ensino em Angola.

“As teorias psicológicas são muito claras, fundamentalmente as construtivistas. O conteúdo anterior é base, alicerce de assimilação do conteúdo posterior. Aprendizagem não é escada. A aprendizagem na mente humana acontece de forma espiral. Ou seja, assimilação de dois pressupõe a compreensão de um, sucessivamente. Quer dizer que o professor depois das tele-aulas, se as der continuidade terá dificuldade de fazer compreender o anterior se der continuidade as presenciais terá dificuldade de fazer compreender as tele-aulas”, frisou.

Segundo o nosso entrevistado, as “Tele-aulas” teriam de ser pensadas dentro de uma política educativa do currículo nacional, antecedidas por um processo de sensibilização, planificação e critérios de avaliação para corresponder aos objectivos específico. “Elas apareceram de um dia para outro, as pessoas não sabiam de qualquer planificação. Quando há uma planificação há metas e objectivo. Quando estes não são atingidos, há um processo de responsabilização”, apelou.
Todavia, para o regresso às aulas presenciais, o Pedagogo Inácio Canivete apela às direcções de escolas no sentido de capacitarem os professores para compreenderem melhor os alunos, porque muitos tiveram a mente reiniciada, pelos meses sem aulas, tendo em conta que a maioria não teve acesso às “tele-aulas” nem acompanhamento dos pais ou encarregados de educação.

“Temos que nos preparar quanto a esta questão. O sistema de ensino é contínuo, mas teve uma queda tremenda porque estudamos apenas 15 dias após o arranque das aulas.”

Relativamente ao período que resta para o ano lectivo 2020, suspenso por sete meses, Inácio Canivete defende ser uma questão metodológica que se estuda em “Teoria Curricular e Planificação Curricular”. Sendo assim, alega, o currículo tem três dimensões “Conteúdos transversais, gerais e específicos”.

Contudo, o Pedagogo aconselha que neste contesto da pandemia, tendo em conta o tempo perdido, as direcções escolares, no processo da planificação, devem orientar os professores a seleccionarem conteúdos em relação aos objectivos específicos das disciplinas, para evitar que estes transmitam conteúdo escolhidos aleatoriamente, sem critérios curriculares.

“Os coordenadores das disciplinas nas escolas devem trabalhar com os seus docentes para lhe explicar os objectivos específicos de cada disciplinas na classe, face ao tempo disponível que temos. Saber o que leccionar para atingir os objectivos neste período”, disse.

Para o docente universitário e autor do livro “Avaliar é Promover a Qualidade de Ensino-Aprendizagem. Angola e os seus Desafios Educativos”, tudo que é leccionado nas salas de aulas não deve ser objecto de avaliação, porque, para si, “deve-se avaliar o conteúdo específico da disciplina na classe”, o conteúdo geral é para criar “bagagem” ao estudante. Porém, apela o Mestre em Psicologia de Desenvolvimento e Educação que em condições específicas, como esta que o país vive, com a covid-19, nem tudo que consta do currículo deve ser ministrado nas escolas.