Luanda - Numa caricatura publicada no semanário angolano Novo Jornal e replicada nas redes sociais, o cartunista Sérgio Piçarra enumera como "tiros no pé" de João Lourenço o aumento dos impostos, o esbanjamento de recursos, adjudicações sem concurso, práticas antigas de bajulação, nomeação da filha para cargo público e a candidatura única do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) ao Congresso.

Fonte: DW

Em declarações ao Novo Jornal, o cartunista angolano afirma o programa de combate à corrupção, que no início do mandato criou expectativas a muitos angolanos, agora está fragilizar a imagem de João Lourenço devido a um alegado protecionismo de algumas figuras do aparelho do Estado. "Ficou muito claro que, quando se trata de alguns, a luta está na primeira página do Jornal de Angola, como é o caso da Isabel dos Santos.



Quando se trata de outras figuras, há um silêncio quase total, como é o caso do escândalo de Edeltrudes Costa, que é chefe do seu próprio gabinete e foi denunciado há quase uma semana. Até ao momento, ninguém se pronunciou e os órgão públicos estão num silêncio total sobre o assunto," considera. "São questões que vão minar a seriedade com que este processo é anunciado.


Quando se fala em luta contra a corrupção, não pode haver protegidos. E o caso concreto leva-nos a pensar que há de fato protegidos", avalia o cartunista. "Tiros no pé" Piçarra enumera questões que chama de "incoerências de atos governativos completamente confusos e despropositados” que, na sua visão, enfraquecem a credibilidade de João Lourenço.


"Um Presidente que anunciou boa governação, que anunciou mudança de paradigmas, aprovar um projeto daquele [a construção do Bairro dos Ministérios], completamente na contramão de tudo o que anunciou. A questão do Concurso da quarta operadora, completamente opaca. Agora, a construção do edifício da Comissão Nacional Eleitoral. Mais de 40 milhões de dólares gastos num edifício, quando há centenas de edifícios vazios em Luanda que poderiam ser ocupados. Uma clínica dentária para a Presidência da República com mais de 30 milhões, ginásio dos deputados," enumera.

"Quer dizer, uma série de coisas como estas, que vão completamente na contramão daquilo que ele anuncia," avalia Sérgio Piçarra. O cartunista também aponta contradições, no que se refere à liberdade de imprensa no país. Em causa, órgãos de comunicação que passaram para a esfera do Estado angolano. "Podemos dizer que há mais abertura das pessoas. Falam mais, estão mais soltas nas redes sociais, onde todos estamos. As pessoas vão se exprimindo mais abertamente nos programas de televisão," considera.

"Mas, por outro lado, temos esta estratégia de nacionalização das empresas privadas que tinha sido compradas pelos marimbondos com o dinheiro do Estado. Por exemplo, a TVZimbo e a Palanca TV. Se essas empresas são nacionalizadas e passam para o Estado, qual é a garantia que a gente tem de maior liberdade de expressão? Pelo contrário, isso causa-nos sérias preocupações ao nível daquilo que é a liberdade de expressão", reitera o cartunista.