Luanda - A angolana TV Zimbo rejeita acusações de censura no fim da colaboração do jornalista Carlos Rosado de Carvalho com a televisão, assegurando que mantém uma linha editorial "de abertura".

Fonte: Lusa

A angolana TV Zimbo rejeitou esta segunda-feira acusações de censura no fim da colaboração do jornalista Carlos Rosado de Carvalho com a televisão, assegurando que mantém uma linha editorial “de abertura” que não cede a “ameaças e gritaria”.

 

Em causa está o fim da colaboração do jornalista Carlos Rosado de Carvalho na rubrica de análise económica “Direto ao Ponto”, emitida habitualmente ao sábado no fim do Jornal da Noite, que está a ser interpretada em Luanda como um ato de censura da emissora.

 

No sábado passado, Carlos Rosado de Carvalho anunciou, através da sua conta no Twitter, ter posto um “ponto final” na colaboração após lhe ter sido comunicado que não era “oportuno” abordar na referida rubrica o tema “Edeltrudes Costa” como tinha sugerido.

 

O caso Edeltrudes Costa” era o tema do Direto ao Ponto deste sábado. Sexta-feira a TV Zimbo disse-me que o tema “não era oportuno”, pedindo para “agendar outro”. Obviamente não aceitei”, escreveu o também economista na rede social.
Edeltrudes Costa, chefe de gabinete do Presidente da República, João Lourenço, terá sido alegadamente beneficiado em contratos com o Estado que lhe renderam milhões de dólares, segundo uma investigação do canal de televisão português, TVI.

 

O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) e o Instituto para a Comunicação Social da África Austral de Angola condenaram o que consideram um “ato de censura” da TV Zimbo e solidarizaram-se com o jornalista Carlos Rosado de Carvalho


Em nota emitida hoje, a Comissão de Gestão da emissora explicou que a escolha e aprovação dos temas sugeridos pelos colaboradores cabe “em primeira instância à direção de conteúdos informativos”, adiantando que o “caso Edeltrudes Costa” não constava da pauta editorial da rubrica “Direto ao ponto” no dia 01 de outubro.

 

Assinalando a “bastante insistência” com que Carlos Rosado Carvalho quis abordar o referido tema, os responsáveis da TV Zimbro manifestam-se “surpreendidos” com a recusa em abordar outro assunto e com o recurso às redes sociais para “fazer crer que na TV Zimbro se tinha instalado um clima de censura generalizada”.

 

A entidade gestora lamentou, por outro lado, a “forma precipitada” e baseada em “informações infundadas e irresponsáveis” como o SJA emitiu um comunicado a condenar “pseudo atos de censura” na emissora.


A TV Zimbro reafirma, perante os telespetadores, o seu compromisso de prosseguir o processo de abertura responsável que lhe cabe, mantendo a sua linha editorial, mas sem ceder às vozes radicais, às ameaças e à gritaria de quem quer que seja”, refere a nota.


“A democracia implica equilíbrio, serenidade e cumprimento de regras”, concluiu.

 

Numa reação a este caso, a UNITA, principal partido da oposição angolana, manifestou preocupação com “o cercear das liberdades de expressão e de imprensa nos últimos meses” no país, apontando a “censura de conteúdos” na TV Zimbo como o caso mais recente.

 

Denunciou ainda o que considera “a prática crescente de censura nos demais órgãos públicos, especialmente na TPA e RNA [televisão e rádio públicas], onde não há igualdade de tratamento das forças políticas e dos setores da sociedade civil críticos ao regime”, contrariando as promessas de liberalização do setor da comunicação social.


A TV Zimbo, a Rádio Mais e o jornal O País, todas do grupo Media Nova, foram entregues ao Estado angolano no final de julho, no âmbito do processo de recuperação de ativos criados com fundos públicos, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR).

 

Os órgãos de comunicação social eram detidos por três homens fortes do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, hoje a braços com a justiça: os generais Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino”, ex-chefe do Serviço de Comunicações, Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, antigo chefe da Casa Militar de José Eduardo dos Santos e o seu ex-vice-presidente, Manuel Vicente.

 

O Serviço Nacional de Recuperação de Ativos entregou depois as empresas ao Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social que nomeou uma comissão de gestão para a TV Zimbo.