Luanda - Mais de 30 funcionários do hospital “Psiquiátrico de Luanda”, sob quarentena institucional no hotel “Ngaveca”, na zona do Benfica, em Luanda, manifestam-se “totalmente” irritados e desesperados com o atraso dos resultados dos testes para covid-19, aos quais foram submetidos no passado dia 26 de setembro último. Sendo estes profissionais de saúde “forçados” a trabalhar, em sistema rotativo, para o mesmo hospital onde podem ter contraído o coronavírus. Apurou o Club-K Angola esta amanhã, junto dos internados.

Fonte: Club-k.net

“Aborrecidos” com atraso nos testes ao coronavírus

De acordo com as fontes, pelo menos 17 funcionários, entre técnicos de saúde e outros serviços, afectos a um dos turnos, encontram-se nesta altura no hotel Ngaveca, enquanto a outra equipa deve estar a trabalhar, sem quaisquer informações por parte da direcção do hospital nem da “Comissão Multissectorial”, sobre os resultados das amostras sobre eles recolhidas para testes da covid-19, por suspeições de terem sido contaminados no dia 19 do mês de setembro, pelo facto de terem contacto directo com cerca de 150 pacientes daquele hospital (Psiquiátrico) que acusaram positivo para a covid-19.


“Desde o dia 19 que chegamos ao hospital Psiquiátrico para fazer 24 horas de serviço, já não nos deixaram voltar para casa porque os pacientes que cuidamos naquele período tinham acusado positivo de coronavírus. Ficamos até dia 26 que fomos testados e de seguida enviaram-nos aqui neste hotel para duas semanas, período máximo de incubação da doença. Mas infelizmente estamos aqui quase um mês sem nos dizerem nada sobre o resultado dos exames médicos”, confirmou uma fonte internada que diz sentir-se deprimida com a situação.


Ainda segundo os interlocutores da investigação Club-K, mesmo estando em quarentena, são orientados a ir trabalhar para as mesmas funções “cuidar de pacientes, manter a sanidade do hospital e outros serviços durante sete dias, altura que o outro turno fica confinado por igual período no hotel, e vice versa.

“Ficamos sete dias de trabalho lá no hospital enquanto o outro turno fica aqui no hotel confinado. Ninguém nos diz nada. Já passam 14 dias que eles dão para o resultado. O pior é que estamos sempre a trabalhar no mesmo hospital e a ter contactos com pacientes. Acho que a ministra da saúde deve ver a nossa situação. Até porque ninguém entre nós manifesta sintomas”, apelou um enfermeiro com mais de dez anos de profissão.


Uma outra fonte ligada à enfermaria, de forma isolada, admite a hipótese de se promover uma greve no hospital Psiquiátrico de Luanda, de todos os técnicos sob a mesma condição, caso a “Comissão Multissectorial” não apresente os resultados o mais rápido possível, porque, avança a fonte, sendo eles técnicos de saúde a manter contactos directos com pacientes, deveriam merecer prioridade.


“Como se justifica pessoal ligado ao sistema de saúde activa em contacto com dezenas de pacientes não tem prioridade nos exames em laboratórios para se saber o estado de saúde deles? Nós temos famílias para cuidar. Desde dia 19 a família está a padecer de muitas situações pela ausência de quem saiu apenas para trabalhar e acaba confinado um mês sem saber se é positivo ou negativo”, clamou a fonte que à semelhança das outras, preferiu anonimato temendo represália e estigma, se vier acusar positivo para covid-19 que está a demorar 30 dias nos laboratórios.


A investigação Club-K Angola procurou falar com a direcção do hospital Psiquiátrico de Luanda, mas sem êxito, tendo apurado, junto de uma fonte ligada à directora daquela unidade hospitalar, Antónia de Sousa, de que não é da competência do hospital resolver os problemas dos quadros em quarentena, mas sim do Ministério da Saúde.