Luanda - A TPA – Televisão Publica de Angola, antes Televisão Popular, não foi constituída em 18 de Outubro de 1975. O que a TPA comemora nessa data én a sua primeira emissão que ocorreu quando, então, uma Comissão composta por representantes de vários Estados membros da OUA (Organização da Unidade Africana) que hoje se designa por União Africana visitou Luanda para se inteirar da viabilidade de Angola poder proclamar a sua independência nacional em relação a Portugal.

Fonte: Club-k.net

Nessa altura, a TPA não se designava como tal, mas por RPA – Radiotelevisão Popular de Angola, adoptando a alteração do “P” que designava Portuguesa, para “P” de Popular. É imperioso notar que a empresa foi constituída, salvo erro em 1973 como uma sociedade anónima de responsabilidade limitada. Uma nova alteração da firma teve de se verificar no limiar na data da proclamação da independência quando se soube que o novo País haveria de se designar por Republica Popular de Angola – RPA, o que deu causa à necessidade de adoptar nova designação societária. O R foi substituído por T e, assim, deixou de ser RPA – Radiotelevisão Popular de Angola, para ser a TPA – Televisão Popular de Angola.


A versão que a TPA tem difundido nos seus programas que a data de 18 de Outubro é a da visita do Presidente Agostinho Neto também não é verdadeira. O Presidente Agostinho Neto visitou as instalações da TPA no dia 7 ou 8 de Outubro, de 1975, logo a seguir à visita que havia efectuado à RNA. A data de 18 de Outubro tem apenas a ver com a primeira emissão ou difusão do sinal de televisão e nada tem a ver com a visita do finado Presidente Agostinho Neto.
Só por aqui se vê que a TPA tem estado a brindar-nos com várias deturpações da sua história que carecem de ser corrigidas.


Só há poucos dias o médico Pedro de Almeida, tendo sido convidado para recrear a apresentação de um telejornal, tomou a liberdade de destapar o véu e mencionar os nomes de vários dos seus antigos colegas de jornalismo televisivo. Na verdade, o Pedro de Almeida já entra para o jornalismo da TPA, vindo da RNA, alguns meses depois de estarem as emissões da TPA no ar: a primeira equipa de jornalistas tinha três jornalistas experientes – Carlos Bento, Manuel Rodrigues Vaz e Moutinho Pereira – cujas experiencias radicavam na imprensa e não na televisão e um leque de jovens, a saber, Letícia Silva (Ticha), Guiomar Lopes, Yolanda Nobre, Lígia Ribas, Idalécio Neves, eu e a Cristina Braga, o João Van-Dunem e o Pedro Ramalhoso (estes três últimos em memória).


Com esta equipa de redactores e reportares em formação foram admitidos dois realizadores: o Hélder Neves e o Zezé Gamboa. O Hélder Neves foi logo enviado para formação na RAI (Radiotelevisão Italiana) e o Zezé Gamboa assumiu a realização dos telejornais em Luanda. Para a apresentação dos Telejornais foram seleccionados a Lígia Ribas, a Yolanda Nobre e eu que acabei por assumir a apresentação a solo nos meses seguintes. Por outro lado, as primeiras emissões foram asseguradas por dois locutores de continuidade: o Jaime Morais e a Filomena Aguiar (esta em memória).


Já com os noticiários no ar a equipa de jornalistas foi reforçada. Entraram o Manuel Domingos Augusto (até recentemente Ministro das Relações exteriores), o Orlando da Cruz Lima (hoje diplomata nos Emirados Árabes Unidos), o já acima mencionado Pedro de Almeida (hoje um famoso gineco-obstetra, entre nós) e a Eduarda Gomes (hoje, igualmente, médica na Itália). Ironicamente também a Yolanda Nobre deixou o jornalismo para se dedicar à medicina e hoje também é médica.


Para a agenda no apoio ao jornalista Manuel Rodrigues Vaz foram contratados o Abílio (hoje comandante de aeronaves) e o Campos (hoje um prospero empresário). Com os redactores e repórteres trabalharam operadores de camera já experientes como o Tony Pedreira, o Raul Correia Mendes (Quicas), o Viriato Coelho e o Vitório Henriques que tinham trabalhado na TVA (ver infra), o Zé Maria dos Santos, o Beto Moura Pires e o Óscar Gil, bem como o Carlos Pinho (hoje aeronauta aposentado), o Pedro Macossa e, mais tarde, o Caxinda (em memória), o Almeida Tavares e o Baltazar que se tinham iniciado como assistentes).


Mas Televisão não se faz apenas com jornalistas, apresentadores e operadores de camera. Os mais famosos e aptos sonoplastas no mercado estavam na TPA á data do inicio das suas emissões: Norberto Franco (que vinha do Radio Clube de Angola, Jofre Neto e Portugal (todos em memória) e o famoso equestre Artur Neves (que vinha da Emissora Católica) asseguravam o som da emissão dos jornais e dos programas. A mistura de efeitos, o telecinema e a operação de VT eram asseguradas, entre outros, pelo Mário Eduardo (em tempos famoso baterista dos Jovens), pelo Carlos Bastos, irmão do Valdemar Bastos (que se tornou médico cirurgião) e pelo velho Correia (que ficou conhecido como o “Tele-Correia”), entre outros que importa recordar.


Muitos dos angolanos de que os nossos filhos e netos terão como referência trabalharam na TPA a partir de 1974 e/ou de 1975. Estamos a referir-nos ao artista António Ole e ao escritor Rui Duarte de Carvalho, mas também aos quatro cavaleiros que criaram o “Angola Ano Zero” (Chico Henriques, Carlos Henriques e Vitório, os dois primeiros em memória) e de todo o grupo de trabalho que os acompanhou desde cedo (Tião, Ana, Isabel e Viriato Coelho), ao actual produtor de Cinema e Televisão, Óscar Gil (a que nos referimos supra), como trabalharam o Carlos Bastos de Almeida (Licas) antigo Secretário Geral da Federação de Futebol), sem esquecer, naturalmente, o José Luandino Vieira, nossa grande referencia literária, os Engenheiros Gastão e Carlos Cruz que foram os directores técnicos e o proeminente Advogado Orlando Rodrigues que foi o primeiro Director do Departamento de Jornalismo da TPA.
Pois bem, a TPA tem mais do que 45 anos porque há mais história para além daquela que aqui referimos.


Aproveito para lançar um desafio à TPA: como a história da televisão angolana não começou com a sua primeira emissão, nem com o finado Edgar Cunha, profissional que muito estimei quando voltei a trabalhar para a TPA em 1992/1993 e a quem rendo homenagem, também não acaba aqui neste 18 de Outubro de 2020, pelo que urge criar um livro da história evolutiva da TPA e da televisão angolana para que o passado não seja mais distorcido nem e o futuro pretérito venha a ser pervertido.

JOSÉ CÉSAR FERRÃO