Joanesburgo - Em Junho de 1975, quando o então Presidente do ANC no exílio, Oliver Tambo chegou ao aeroporto de Maputo, ido de Lusaca, para assistir as celebrações da independência de Moçambique, o mesmo foi recebido por uma multidão de camaradas seus que trazia uma enorme faixa com a legenda “FRELIMO IGUAL AO ANC”. Os dizeres em causa, revelavam o enorme consideração entre FRELIMO e o ANC cujas lideranças de então olhavam na luta pela liberdade conduzida por Samora Machel Samora como um modelo adotado para libertar a Africa do Sul do regime do apartheid.

Fonte: Club-k.net

Reflexão sobre os 34 anos da morte de Samora Machel

Era o tempo da revolução e Machel via varias vezes o seu território a ser agredido pelo regime do apartheid por acolher combatentes do ANC. Em Agosto de 1982, um agente dos serviços secretos regime sul africano, Craig Williamson desencadeou um atentado com recurso a carta-bomba matando Ruth First, uma académica sul africana ligada ao ANC, que se exilara em Moçambique, incentivada por Aquino de Bragança (o dirigente da FRELIMO que morreu no mesmo voo que levou Samara). Em Maio de 1983, a força aérea do apartheid atacou arredores de Matola a pretexto de atirar contra alvos do ANC que frequentemente atravessavam a fronteira sul africana para ações de sabotagem (colocar bombas em centros comerciais).

 

Saturado com a agressão territorial tanto externa como interna, o Presidente Samora sentou com o seu vizinho sul africano, Pieter Botha, para assinar o acordo de não agressão de Nkomati, determinando que uma das partes deixaria de apoiar ou acolher em seu território combatentes do ANC, e a outra deixaria de apoiar “o bando de bandidos armados”, conforme Machel tratava os guerrilheiros da RENAMO.

 

Machel revelava-se entusiasmado com a aproximação e passado 10 dias, após a assinatura do acordo de Nkomati, declarou ao jornalista Carlos Pinto Coelho da RTP, que o próximo passo, entre Moçambique e África do Sul seria a identificação de áreas económicas de interesse comum. Ouve incumprimento ao acordo por parte do regime do apartheid que reatou o seu apoio a RENAMO. Por outro lado, Moçambique não retirou de imediato do seu território, o então representante do ANC, Jacob Zuma. Joaquim Chissano explicaria mais tarde que o seu antecessor viu-se obrigado a assinar o Acordo de Nkomati com o regime do "apartheid", porque era a única forma de tirar o povo do sufoco da guerra.

 

Na noite do dia 19 de Outubro de 1986, o avião presidencial que transportava Machel e sua delegação que regressavam de uma cimeira na Zâmbia, despenhou-se na zona de Mbuzini, na África do Sul enlutando o continente africano. A partir de Lusaca, onde se encontrava exilado, o líder do ANC, Oliver Tambo, enviou três dias depois, uma mensagem de condolência ao Comité Central da FRELIMO em que descreveu Samora Machel como “um combatente insuperável que lutou para transformar o sul da África, em um libertado da humanidade”. Tambo acrescentava que Machel “foi morto pelo único inimigo que pode ganhar com sua morte, o regime de apartheid de Pretória e seus agentes”.

 

A morte do Presidente Machel continua a ser um mistério, e objeto de constantes pesquisas. Há aqueles que acreditam que foi alvo de uma conspiração interna em coluio com correntes externas do regime do apartheid por ter prometido fazer mexidas no aparelho de Estado depois do seu regresso de viagem. Há também a teoria de que o acidente deveu-se a negligencia dos pilotos russos que durante o voo estariam mais entretidos com coisas fúteis. Há ainda a versão a implicar directamente o regime do apartheid de ter usado um aparelho que desviou o avião presidencial da sua rota fornecendo falsas coordenadas ao piloto.

 

A África do Sul (Tribunal e Inteligência Militar) chegou a criar Comissão de Inquérito chefiada por um reputado juiz Cecil Margo para investigar o acidente que levou a queda do avião presidencial. A comissão passou a chamar-se “Comissão Margo”, em homenagem ao seu coordenador que era igualmente um investigador especializado em acidentes de avião. Há 9 de Julho de 1987, a comissão produziu o seu relatório concluindo que o acidente foi causado por erro do piloto. Ou seja, a “Comissão Margo” concluiu que a aeronave estava em condições de aeronavegabilidade e com plena manutenção e que não havia evidências de sabotagem ou de forças externas envolvidas. Esta conclusão foi, por sua vez, contestada por um relatório subsequente das Investigações Médicas Soviéticas e Moçambicanas. A versão do relatório da equipa soviética concluiu que um farol isca fez com que o avião se desviasse do curso antes de cair perto da fronteira entre os dois países.