Luanda - Ponto de vista sobre o caso de Angola, enquanto País que deve responder a seguinte questão: Por que é que Angola não gera novos ricos e os nossos jovens são tão pobres? Feita pelo Empreendedor digital e Web Developer – Ribeiro Tenguna num dos seus artigos publicados no portal de notícias Club-k, com o título “PIIM, Start-ups e Novas Oportunidades de Financiamento para Jovens Africanos”.

Fonte: Club-k.net

Cem anos se passaram. Estamos agora no segundo semestre deste ano dominado pela pandemia da Covid-19, em que o mundo assiste uma vez mais a uma crise sanitária que dizima milhares de pessoas pelo mundo todo. Os resultados do Censo de 2014 revelam que os jovens constituem a maioria da população Angolana, um dado estatístico que para a economia de muitos países do velho continente seria tido como uma lufada de ar fresco, pelas razões que já conhecemos. E uma delas, senão a mais notória é a de que hoje, o capital humano é dos activos mais importantes dentro das organizações, também chamado de capital intelectual por Idalberto Chiavenato.


A valorização do capital humano é uma prioridade para quem quer estar na trincheira do desenvolvimento tecnológico, que é o novo El dorado do século XXI. Um dado importante é que nesta pandemia, obedecendo ao lema “FICA EM CASA”, a plataforma de comunicação ZOOM desenvolvida por Eric Yuan no ano de 2007 tornou-se a número um de muitas famílias, empresas e governos para as suas videos-conferências e como consequência o nome de E. Yuan (emigrante chinês) passou a constar em Setembro de 2020 na lista dos bilionários do sector tecnológico.


Estar na trincheira do desenvolvimento tecnológico, sociopolítico e económico, implica dar ao angolano, desde a primária, uma educação financeira capaz de ajudá-lo a desenvolver as suas habilidades financeiras sustentáveis e notáveis. Tais habilidades dariam ferramentas para que um empreendedor angolano consiga montar a sua própria empresa. E as mesmas empresas devem ser vistas como aliadas do Estado, pois contribuem para a geração de renda, emprego e no incremento das receitas fiscais, de acordo com o sector onde se encontram inseridas. Porém, toda e qualquer empresa na sua fundação necessita dos capitais humano, financeiro e industrial. É neste contexto que é de grande importância, o papel de quem faz gestão da coisa pública, criar mecanismos eficazes e eficientes que promovam o surgimento de novos agentes económicos / financeiros.


Contudo, temos notado que em Angola, o marketing político retira o mérito dos programas de créditos criados pela Banca Nacional e adicionado a isso temos o chamado Conflito de Interesse. Ou seja, a gestão feita por pessoas ou indivíduos que fazem o papel de árbitro e jogadores. E o elevado índice de iliteracia financeira que deve ser dizimado para permitir uma melhor actuação dos empreendedores e gestores públicos angolanos.


Sobre o capital financeiro, entendido como o capital representado por títulos, obrigações, certificados e outros papéis negociáveis e rapidamente conversíveis em dinheiro, é, de acordo com Hernando de Soto Polar, autor do livro o Mistério do Capital, onde reside o ponto da questão: o porquê que o Capitalismo triunfa nos países desenvolvidos e fracassa no resto do mundo? Numa entrevista concedida a revista brasileira Conjuntura Económica no ano de 2001, ele reporta o seguinte: «… Se você examinar o funcionamento do mercado de dois mil anos atrás, na época de Cristo, verificará que as pessoas levavam ao mercado somente mercadorias, como porcos, vacas e cabras. Mas se você examinar hoje o funcionamento da Bolsa de Valores de São Paulo, de Wall Street ou da Bolsa de Mercadorias de Chicago, ou ainda da Bolsa de Metais de Londres, verá que ninguém negoceia bens físicos. O que se negoceia são títulos de propriedade sob a forma de ações, debêntures, conhecimentos de embarque, etc. Isto é, uma variedade de papéis que representam a propriedade sobre coisas, bens físicos ou ideias… Isto Porque um título de propriedade é muito mais específico a respeito das dimensões comerciais e econômicas de um ativo que o próprio ativo.»


Posta em prática, a teoria do capitalismo financeiro muda o paradigma de como entendemos o capital. E um exemplo claro de iliteracia financeira é pensar que o dinheiro/papel-moeda é capital. O papel-moeda, na sua forma simples é um meio de troca e não um capital – ter dinheiro guardado nos contentores, armazéns, apartamentos, etc… não nos torna capitalistas, mas sim endinheirados ou consumistas. O dinheiro torna-se capital na medida que colocamos em prática a seguinte identidade macroeconómica: Poupança, igual a Investimento (P=I). E, é com base neste princípio que em África temos investidores como Tony Elumelu, o criador da emblemática filosofia do Africapitalismo e também promotor de iniciativas que ajudam jovens talentosos africanos com a intenção de criar um ecossistema sustentável para as Start-ups africanas.


Para finalizar, temos o Capital Industrial, cujo surgimento se deve em grande parte do desenvolvimento tecnológico. Uma das figuras de destaque do liberalismo económico é o filósofo e economista britânico Adam Smith, que defendia a não intervenção do Estado na economia (tal como acontecera no mercantilismo). Segundo Smith, o jogo económico é regido pela lei da oferta e da procura. Dentro dessa lógica, ninguém - particularmente o Estado - deve interferir no mercado, onde vigora uma competição, em que os mais capazes obterão melhores resultados. Porém, nós temos um Estado bastante interventivo neste sector que tenta implementar regras dentro de um sistema viciado, onde os lucros do petróleo bruto enriqueceram uma minoria da população angolana e a maioria dos jovens vive refém de um marketing político que visa ocultar e dificultar de forma sistemática o acesso à riqueza desta nação fundada ao onze de Novembro de 1975.

Sobre o autor:
Gestor de Vendas, Bacharel em Gestão de Empresas e Membro Fundador da Associação Científica de Angola.