Lisboa - O Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou hoje num relatório que as maiores economias da África subsaariana, onde se inclui Angola, não deverão recuperar os níveis de crescimento registados antes da pandemia até 2023 ou 2024.

Fonte: Lusa
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"A África subsaariana como um todo não deverá regressar aos níveis de crescimento económico de 2019 antes de 2022; nalgumas das maiores economias, como África do Sul, Nigéria e Angola, o crescimento não volta aos níveis pré-crise antes de 2023 ou 2024", lê-se nas Perspetivas Económicas para a África subsaariana, hoje divulgadas pelo FMI.

No documento, o FMI mantém a previsão de crescimento negativo para Angola em 4%, e estima que no próximo ano a economia já registe um crescimento, expandindo-se 3,2%, sustentada na subida dos preços do petróleo e nas medidas de apoio à economia.


"Em Angola, a crise juntou-se às vulnerabilidades já existentes; o PIB real deverá contrair-se pelo quinto ano consecutivo, caindo 4% em 2020, reflexo da descida da produção e dos preços do petróleo, aperto nas condições de crédito e declínio na atividade empresarial", lê-se na parte do relatório dedicada a Angola.

"Os preços do petróleo mais sustentados e as medidas de políticas de apoio vão ajudar a recuperar a economia a curto prazo, com o crescimento a regressar a território positivo em 2021, com 3,2%", aponta-se ainda no documento.

Nas previsões macroeconómicas, o FMI estima que a inflação suba para 21% este ano e desça ligeiramente para 20,6% em 2021, ao passo que a dívida pública deverá aumentar para 120,3% em 2020 e descer para 107,5% do PIB no ano seguinte, mantendo-se assim as previsões apresentadas na terceira revisão do programa de apoio financeiro do FMI a este país africano, em setembro.

Contrariando a prática dos últimos anos, o saldo orçamental de Angola deverá ser negativo este ano, prevendo o FMI um desequilíbrio de 2,8%, que melhora para 0,1% em 2021.

A nível regional, o FMI alerta que "a África subsaariana está a lidar com uma crise económica e sanitária sem precedentes, que em apenas alguns meses pôs em causa os ganhos de desenvolvimento dos últimos anos e perturbou a vida e os rendimentos de milhões de pessoas", pelo que "a projeção base assume que, para a maioria dos países, algum distanciamento social vai continuar em 2021 e desvanecer-se a partir do final de 2022, à medida que a cobertura das vacinas se expande e as terapêuticas melhoram".

O reaparecimento de novos casos em muitas economias avançadas e o espetro de surtos cíclicos na região "sugerem que a pandemia vai provavelmente continuar a ser uma preocupação muito séria durante algum tempo", dizem os técnicos do FMI, notando que a reabertura das economias está a contribuir para já haver sinais de crescimento no segundo semestre.

"Mesmo com custos económicos e sociais elevados, os países estão cautelosamente a começar a reabrir as economias e estão à procura de políticas que reiniciem o crescimento; com um abrandamento das medidas de confinamento, preços das matérias-primas mais altos e melhoria das condições financeiras tem havido alguns sinais de recuperação na segunda metade do ano", lê-se no relatório.

Ainda assim, para o conjunto do ano, o FMI prevê uma recessão de 3% na região, salientando que as economias mais dependentes do turismo, como Cabo Verde, e os países exportadores de matérias primas, como Angola ou a Guiné Equatorial, foram os mais afetados.

"Para 2021 prevemos um crescimento de 3,1%, que é uma expansão menor do que a esperada no resto do mundo, refletindo parcialmente o parco espaço de manobra orçamental que os países têm para sustentar uma política expansionista", razão pela qual o apoio internacional é fundamental, concluem.

A nível mundial, o FMI prevê uma recessão de 4,4% em 2020 e uma recuperação de 5,2% em 2021.