Lisboa – Mais do que nunca a juventude angolana tem demonstrado um profundo interesse pela situação económica e política do país. 2022 é sem dúvida o ano mais desejado e discutido nas redes sociais pelos jovens angolanos, exclusivamente pela necessidade de exercer o seu papel democrático face a insatisfação com o desemprego e a inflação no país.

Fonte: Club-k.net
manifangola.jpg - 67,15 kBEm sequência ao descontentamento do povo, no dia 24 de Outubro realizou-se uma manifestação com o objetivo de defender as suas necessidades mediante aos factores acima referidos. Os manifestantes exigiam a realização das eleições autárquicas, que por sua vez foram adiadas devido ao contexto pandemico.

A manifestação ora convocada por activistas da sociedade civil foi uma das várias tentativas de usar a sua voz e exercer o direito à manifestação e liberdade de expressão, como diz o artigo 47º da Constituição angolana.

Apesar do povo ter estes direitos, as autoridades recorreram ao uso de gás lacrimogéneo e agressões físicas como forma de controlar o protesto. A manifestação foi vista pelas autoridades policiais e os media nacionais como sendo uma desobediência ao Decreto Presidencial referente a situação de calamidade pública, que proíbe ajuntamentos de mais de 5 pessoas. Este acto resultou em detenções de dezenas de participantes e duas mortes confirmadas.

Em resposta, o Presidente João Lourenço, através de um discurso na IV sessão ordinária do Comité Central do MPLA, defendia que o país de facto não está parado. Apesar da pandemia, o líder do partido no poder disse que o governo “investiu na produção interna de bens de consumo agrícola e industrial de primeira necessidade, não só para aumentar a oferta interna e reduzir as exportações, mas também para garantir mais postos de trabalho para os cidadãos e em particular para a juventude".

Segundo o presidente há de facto crescimento e melhoria no sector económico, uma vez que, empresas industriais que antes exportavam para comercializar actualmente já se encontram a produzir bens económicos. Contudo, a criação de postos de emprego não se atinge durante uma pandemia e uma crise económica, negando violação do direito da manifestação.

As autoridades poderiam, ao invés da selvatica agressão, impor medidas sanitárias como, por exemplo, mantendo o distanciamento entre as pessoas e certificar o uso de máscaras, uma vez que Angola é uma nação que rege e garante de forma institucional a paz e o progresso!

O Decreto Presidencial referente a situação de calamidade pública, não pode ser visto como uma justificação para agressões contra o povo e a falta de responsabilização das autoridades. De facto, a violência foi um acto de silenciar as críticas do povo sobre quem actua directamente nas suas vidas.

Independentemente também da reafirmação de melhoria e crescimento económico, feitas pelo Presidente da República João Lourenço, o Instituto Nacional de Estatística no primeiro trimestre de 2020, isto é, antes da pandemia, estimou-se que 4,7 milhões de cidadãos angolanos se encontravam desempregados.

Comparativamente ao ano de 2019, houve um aumento de 108.299 cidadãos sem emprego (2,3%). A não disponibilidade de poder trabalhar devido a pandemia, levou ao acréscimo de um problema já existente e que estava na beira de subida. A actualmente, Angola tem 5.208.645 de cidadãos desempregados.

A maior parte do povo angolano, não só os jovens, não tem um meio de sustento quer para si ou para as suas famílias. A população trabalhadora sobrevive com um salário mínimo de 21 454,10 kwanzas que, no câmbio de hoje, equivale a 27,51 euros mensais.

Com a subida gradual de preços no mercado é impossível equilibrar a renumeração do povo com o custo de vida em Angola. Desde Setembro de 2019 a Setembro deste ano, observou-se uma variação homóloga de 23,82% dos preços de bens económicos, destacando em particular um aumento nos preços de 2,59% no sector da alimentação enquanto os salários mantêm-se os mesmos.

Apesar da reafirmação de progresso económico feita pelo presidente João Lourenço, podemos constatar que nos três anos de poder ainda não houve melhoria significativa para as necessidades da população angolana.

A tão desejada participação política juvenil não é na verdade valorizada, pois a população tem de recorrer a sites de entretenimento e movimentos virtuais em redes sociais como Twitter e Instagram para realmente se expressar. O maior exemplo é o movimento “#2022vaisgostar”, onde os jovens conseguem informar-se uns aos outros sem censura.

Face à insatisfação do povo, foi convocada novamente uma manifestação no dia 11 de Novembro com o objectivo de defender as mesmas causas. É importante dar luz às suas necessidades e ajudar o povo que tanto precisa.

*Estudante Universitária

Fontes:
https://www.wipo.int/edocs/lexdocs/laws/pt/ao/ao001pt.pdf
https://www.ine.gov.ao/images/Desemprego_II_Trimestre_2020.PNG
https://www.ine.gov.ao/images/IEA_2019_FIR_IITtimestre.pdf
https://whttps://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=42613:policia-prendeu-mulheres-gravidas-na-manifestacao-de-sabado&catid=2:sociedade&lang=pt&Itemid=1069ww.instagram.com/tv/CGveexHDD0V/?igshid=ec6u96gyenm9
https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=42632:pr-pede-aos-jovens-que-nao-se-deixem-manipular-por-quem-nao-pode-resolver-problemas&catid=23&Itemid=641&lang=pt
https://www.instagram.com/tv/CG8UEhgDWgy/
https://www.instagram.com/p/CHBZWgGnG85/
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/julgamento-de-manifestantes-em-luanda-termina-com-71-condenados-por-desobediencia_n1271921