Luanda - Jovens manifestantes lamentaram hoje a repressão exercida pela polícia, embora a manifestação tivesse fins pacífico, lembrando que a democracia "deve estar em primeira instância".

Fonte: Lusa

Centenas de jovens saíram hoje à rua em Luanda, para se manifestarem, mas foram impedidos pela polícia, que montou barreiras nos acessos ao centro da cidade, contrariando essa intenção.

Veríssimo Miranda, de 30 anos, formado em comunicação social e imagem aderiu à manifestação, porque "Angola precisa ver uma igualdade social, precisa desmonopolizar a burocracia que existe no país".

"O país não anda bem, desde (19)75 que nos tornamos independentes, o angolano não vive essa independência, vive represálias, fome, sede, 65% da população angolana ainda defeca ao ar livre, isso não é admissível", disse à Lusa Veríssimo Miranda, atualmente desempregado.

Veríssimo Miranda sublinhou que a manifestação é pacífica, lamentando o excesso de polícias que encontraram nas ruas para impedir a ação.

"Hoje cá estamos para mostrar aos angolanos que a voz do povo é a voz de Deus. Uma vez mais cá estamos e vamos mostrar que, por mais que em 2022 a gente não saia vencedora, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura", ironizou.

Por sua vez, Hélder dos Santos, que se apresenta como ativista social, disse que esteve na manifestação "por uma causa justa", a reclamar direitos fundamentais, no dia em que o país comemora 45 anos de independência.

Hélder dos Santos disse não entender "a existência de todo esse contingente bélico" nas ruas, porque o objetivo "foi fazer apenas uma manifestação" e fazer valer os direitos dos angolanos, bem como exigir uma data para as primeiras eleições autárquicas, anunciadas para este ano, no entanto, adiadas por falta de condições, uma delas a pandemia da covid-19.

Para o ativista, a falta de um horizonte temporal para a sua realização, demonstra que o Governo, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido no poder), não têm "vontade política na realização das autarquias, que servem de impulsionamento para os municípios".

Segundo o ativista, a exibição de força da polícia "só mostra que é uma forma de reprimir os jovens", mas "a liberdade e a democracia devem estar em primeira instância".

"Nós já não somos os mesmos jovens de antes, que ouviam 'filho não fala política'. Nós somos os revolucionários, as crianças de ontem e os jovens de hoje, que conhecem a realidade de Angola, que é de todos nós", sublinhou.

Na sua opinião, no dia em que o país assinala 45 anos de independência, é momento para todos os angolanos fazerem uma introspeção, a nível individual e social.

"Porque volvidos esses 45 anos, muito ainda precisa ser feito, muitas aberturas precisamos ter", disse, referindo-se em particular à liberdade de imprensa.

Os nossos media sofrem "uma repressão, os conteúdos a serem passados sofrem constante censura e isso não pode existir num estado de direito e democrático.

A polícia frustrou a tentativa de manifestação, que tinha como objetivo exigir a diminuição do custo de vida da população e a marcação de uma data para a realização das primeiras eleições autárquicas.

A manifestação foi proibida pelo Governo da Província de Luanda, alegando entre outras questões, o desrespeito ao Decreto Presidencial sobre o estado de calamidade pública, que impede a presença de grupos de mais de cinco pessoas nas ruas, para fazer face aos elevados números de infeções e mortes por covid-19.