Luanda - Após 38 anos de governação do presidente José Eduardo dos Santos, João Manuel Gonçalves Lourenço (JMGL) surge como "Salvador da Pátria", ou seja, “a pessoa ideal” para os destinos de Angola. A Sociedade Civil, até mesmo alguns partidos políticos da oposição reagiam positivamente aos seus discursos.

Fonte: Club-k.net

Volvidos três anos, a situação mudou e a popularidade do JMGL caiu drasticamente, semelhante à queda do valor das acções nas crises da Grande Depressão de 1929 e do Subprime de 2007.

Segundo Rafael Moraes (Director da Organização Internacional Friends of Angola apud Domingos Bento), “nos últimos tempos, […] a popularidade de JMGL tem vindo a reduzir de forma drástica”.

Que factores estão na base da redução na popularidade do Presidente JMGL?

Existem vários factores que estão na base deste facto. Mas, para não ser axaustivo, seleccionei alguns que considero mais relevantes. Dentre os quais destacam-se os seguintes:

1. Combate selectivo à corrupção e impunidade

O combate à corrupção e impunidade, continua a ser um combate selectivo. Constata-se que, são aplicados julgamentos diferentes para situações semelhantes.

Sendo “epicentro da sua governação”, o JMGL deveria ser mais coerente quanto à responsabilização criminal dos infractores. Mas, nota-se que, as figuras hegemónicas continuam impunes.

O presidente JMGL, tem tido o peso de consciência e a falta de independência de espírito para levar a cabo, um verdadeiro combate imparcial. Este facto tem suscitado várias dúvidas e contestações por parte da população.

2. Elevado custo de vida

Em três anos da governação do JMGL, as condições de vida dos pacatos cidadãos atingiram níveis alarmantes. Nota-se que a pobreza cresce em progressão geométrica, enquanto os meios de subsistência crescem em progressão aritmética (conforme dizia o Malthus) devido ao elevado custo de vida, sobretudo, dos produtos da cesta básica.

Numa das rondas por feiras de Luanda, no dia 21 de Agosto de 2017, a Agência Lusa constatara os seguintes preços: Saco de arroz 4.300 Kzs, litro de óleo 700 Kzs e 1 Kg de açúcar 250 Kzs.

Actualmente, os preços destes bens aumentaram vertiginosamente de 2017 a 2020: Arroz (13.000 Kzs mais 62,9%), 1 litro de óleo (1.200 Kzs mais 71,4%) e 1 Kg de açúcar (600 Kzs mais 140%)

Só para termos uma ideia, com um salário mínimo de 35.000 Kzs, por exemplo, o consumidor estaria capaz de comprar pouco mais de 8 sacos de arroz. Com o aumento do preço deste bem (13.000 Kz), o consumidor só pode comprar 2,7 sacos de arroz.

Nota-se que os consumidores perderam o poder de compra, pois os preços dos produtos sobem a cada dia que passa, enquanto o rendimento mantém constante (ceteris paribus).

2. Falta de atenção às necessidades prioritárias

Ao longo da sua governação, JMGL tem se desviado das necessidades prioritárias ou básicas da população, priorizando mais projectos de infraestruturas, para atender, às vezes os caprichos de altos dirigentes do governo.

O Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), por exemplo, é mais caracterizado por projectos que não atendem de imediato as situações urgentes que apoquentam o dia-a-dia dos cidadãos. Tem sido mais projectos de infraestruturas: escolas, postos policiais, construção de estradas e pontes, etc, desviando-se da situação que que assola a maioria – a fome e a pobreza.

A Clínica dentária, a cidade dos ministérios e o ginásio para os altos dirigentes, são exemplos de atendimentos dos caprichos. Não obstante a inoperância dos referidos projectos, nota-se uma falta de atenção às necessidades prioritárias da população.

Adam Smith (considerado como o Pai da Economia), sugere o seguinte: “Perante a multiplicidade de necessidades e a escassez de recursos, deve-se priorizar as necessidades mais prementes”.

4. Operação resgate

A operação resgate foi oficialmente lançada no dia 30 de Outubro de 2018 e, uma semana depois, isto é, no dia 6 de Novembro do mesmo ano, as autoridades começaram a actuar coercivamente.

Esta operação visava operar uma mudança no comportamento dos cidadãos, no que se refere, por exemplo, à urbanização desordenada, deficiente circulação rodoviária, venda informal, imigração ilegal e punição pela destruição dos bens públicos.

A operação que visava criar uma certa ordem, em vez de trazer soluções como era previsto, criara problemas sérios, provocando um caos social, cujas sequelas continuam até ao dia de hoje.

5. Incumprimento das promessas eleitorais

Entre as promessas feitas pelo JMGL nas suas campanhas eleitorais, as que mais me tocaram foram a criação de 500 mil postos de trabalho, a califórnia de Benguela e a valorização dos quadros.

No que se refere aos 500 mil postos de trabalho, o JMGL seria obrigado a criar, em média, 100 mil postos de trabalho. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego em Angola cresceu 8,8% de 2017 a 2019, atingindo 28,8% da população activa. Entre Outubro e Dezembro de 2019 a taxa de desemprego situou-se nos 31,8% e em 2020 o INE previu uma taxa de desemprego de 34%. estes dados contrastam com as promessas eleitorais.

JMGL prometeu transformar Benguela em Califórnia durante o seu mandato. É de realçar que, a Califórnia é o maior centro industrial dos Estados Unidos e líder nacional na produção de produtos agropecuários. Essa promessa continua sem acções concretas, até ao dia de hoje e, Benguela está como está.

A valorização dos quadros, indecentemente da sua cor partidária, também, foi, uma das suas promessas. Mas, JMGL continua a contradizer a promessa feita, trabalhando somente com quadros do MPLA. Nesse ínterim, o cartão de militante fala mais alto em detrimento da competência e meritocracia.

Recuperar a popularidade será algo quase impossível. Mas, é imprescindível conciliar os discursos à prática e as políticas públicas devem ser, as que se revertem, realmente, na vida de todos os angolanos.