Lisboa - José Eduardo dos Santos deslocou-se ao Dubai para prestar condolências à filha, Isabel dos Santos, que perdeu o marido, Sindika Dokolo, vítima de um acidente de mergulho ocorrido a 26 de outubro, precisamente naquele emirado.

Fonte: Negócios

O antigo presidente angolano chegou ao Dubai a 21 de dezembro e foi recebido com o cerimonial devido pelos representantes diplomáticos do seu país. Albino Malungo, embaixador de Angola nos Emirados Árabes Unidos, foi ao aeroporto dar as boas-vindas e comunicou esta viagem através de uma nota diplomática na qual também deu conta que o ex-chefe de Estado ficaria alojado no hotel Address Fountain Views.

Este tratamento de Estado contrasta com a natureza particular da viagem de José Eduardo dos Santos e mostra que a rutura entre o antigo presidente e o atual inquilino do Palácio da Cidade da Alta, João Lourenço, ainda não é total. Isto é, a deferência política demonstrada passa a mensagem de que existe espaço para outras abordagens Albino Malungo, que recebeu Eduardo dos Santos, foi ministro da Assistência e da Reinserção do antigo chefe do Estado no início da década de 2000 e caso único, na medida em que se tornou à data o único governante demitido acusado de desvio de ajudas humanitárias.

José Eduardo dos Santos foi ao Dubai confortar a filha e ajudá-la a superar uma perda irreparável, mas a sua deslocação também terá servido para ambos refletirem sobre o futuro e as ações que poderão levar a cabo para superar a guerra aberta com as autoridades judiciais e o governo angolano. Tal como o Negócios adiantou a 3 de novembro, o armistício passa forçosamente por uma deslocação de José Eduardo dos Santos a Luanda e conversações com João Lourenço.

Esta condição é essencial, na medida em que significaria também que o antigo presidente reconhece a legitimidade do seu sucessor.

Acusação e reaproximação

A presença de José Eduardo dos Santos no Dubai atesta que o ex-presidente angolano reúne condições de saúde que lhe permitem viajar. Ou seja, a sua residência permanente em Barcelona é um exílio decidido por vontade própria e um gesto de afastamento do país, que terá de reverter de modo a encontrar uma saída airosa para o cerco judicial que foi montado à sua família e ao qual ele mesmo não está imune.

A notícia avançada pelo Expresso, na edição do passado fim de semana, de que o ex-vice-presidente angolano, Manuel Vicente, terá entregado a João Lourenço documentos que provam o envolvimento de José Eduardo dos Santos em alguns dos maiores negócios de corrupção da Sonangol sublinha a necessidade de uma decisão urgente por parte deste.

Por outro lado, indica que Manuel Vicente continua a ser visto por João Lourenço, não como um problema, mas sim parte da solução. Aliás, durante a sua estada no Dubai, Manuel Vicente ter-se-á mesmo reunido com José Eduardo dos Santos, o que se configura como a última tentativa de intermediação entre as partes desavindas.

Além disso, este encontro traduz-se numa eventual reaproximação entre Eduardo dos Santos e Manuel Vicente, tanto mais significativa conhecendo as divergência profundas entre o ex-vice-presidente e Isabel dos Santos. A circunstância de agora se apontar o dedo acusador a Eduardo dos Santos, colocando-o como promotor de atos de corrupção, constitui um endurecimento da guerra, mas paradoxalmente pode ser visto como a peça que faltava para desencadear um processo negocial.