Luanda - Críticos angolanos consideram que o melhor que o ministro da Energia e Águas tem a fazer é sair do cargo enquanto se esclarece um caso de alegado branqueamento de capitais em que João Baptista Borges se viu envolvido.

Fonte: DW

O ministro da Energia e Águas deve deixar o cargo. É a convicção de Nelito Ekuikui, deputado da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição no país, depois de a televisão TVI ter revelado que o Ministério Público português está a investigar João Baptista Borges por suspeitas de branqueamento de capitais.

"O mínimo que ele pode fazer para preservar a honra que ainda lhe resta enquanto servidor público é colocar o lugar à disposição e ele próprio voluntariamente entregar-se às autoridades de Portugal e de Angola no sentido de se apurar a veracidade das denúncias."

Segundo a TVI, o sobrinho do ministro teria criado várias empresas e conseguido contratos de milhões no setor da energia, em Angola. "Parte da fortuna" teria sido transferida para Portugal, de acordo com a investigação.

O jornalista Salgueiro Vicente acredita que o afastamento de João Baptista Borges é a solução mais indicada neste momento: "Se, diante destas acusações de que tem sido alvo, o Governo e o Presidente não dizem nada, penso que o ministro devia pedir a demissão até que se apurem todos os factos de que é acusado."

O papel da PGR

Para o jornalista da Rádio Ecclesia, a Procuradoria-Geral da República de Angola também tem uma palavra a dizer sobre o assunto.

Aliás, segundo Salgueiro Vicente, há muito que o Ministério Público e o Governo deveriam ter entrado em cena no caso Borges, porque a TVI lhes teria pedido há vários meses para se pronunciarem sobre a investigação, mas não o fizeram.

"Há uma necessidade urgente de se fazer uma investigação clara em relação a essas questões todas sob pena de não se estar a fazer nada em relação ao combate à corrupção", diz Vicente.

De acordo com o jornalista, o caso traz novamente à tona a velha crítica ao combate à corrupção levado a cabo pelo Presidente João Lourenço, de alegada "seletividade".

A DW África tentou sem sucesso ouvir a Procuradoria-Geral da República e o ministro da Energia e Águas.

Incentivo a apurar a verdade

Esta é a segunda vez, em pouco mais de três meses, que a televisão portuguesa TVI envolve o nome de dirigentes angolanos em suspeitas de corrupção. A última vez foi em setembro, quando noticiou que Edeltrudes Costa, chefe de gabinete do Presidente João Lourenço, teria sido beneficiado de contratos com o Estado.

O deputado Nelito Ekuikui, da UNITA, considera que as reportagens devem servir de incentivo ao chefe de Estado para agir. "O senhor Presidente da República deve aproveitar essas denúncias da TVI para aprofundar o seu lema do combate à corrupção", afirma.

Em recentes declarações à imprensa, a Procuradoria-Geral da República angolana disse que está a "apurar dados para investigar" as denúncias sobre o diretor de gabinete do Presidente da República.