Joanesburgo - Vintes três dias depois da assinatura dos acordos de paz de Bicesse em Lisboa, entre a UNITA e o governo de Angola, uma delegação do “Galo Negro”, enviada a Luanda, fez a sua primeira aparição pública na capital do país, culminando com a realização de um comício no largo do Kinaxixi. Neste dia, o chefe da delegação, Elias Salupeto Pena apresentou os membros da sua comitiva, na qual integravam dois importantes “cabos de guerra” da hierarquia militar da UNITA, Augusto Domingos Lutock Liahuka "Wiyo" e Demóstenes Amos.
Fonte: Club-k.net
Demóstenes Amos Santos, tinha a importância de ter sido duas vezes chefe de Estado Maior da guerrilha da UNITA, e por ter liderado batalhas sem registrar derrotas, o que lhe valeu a alcunha de “o general sem derrota”. Travou combates em Kangamba (1983), no eixo Huambo e Cuito, em Mavinga, mas seria no Kuito Kuanavale (Batalha do Lomba 87) que ao liderar sob o indicativo de guerra “Mike 40”, ficou-lhe o mito por atravessar campos minados sem ter um sapador por perto para lhe indicar o caminho. Os soldados deram -lhe um outro alcunha: “Mike Dilúvio”.
Registrado como Demóstenes Amos Santos, filho de Antônio Amós Santos e de Violeta dos Santos, este antigo funcionário dos correios de Angola a época colonial, fez parte do exercito português de que foi furriel. Mas foi ao aderir a guerrilha da UNITA que adoptou o sobrenome “Chilingutila”. Há versões de que terá sido Jonas Savimbi a sugerir que renunciasse o seu sobrenome “não tradicional”. Também há alegações de que o nome “Chilingutila” é associado aos seus antepassados, ou seja nome do seu avó que fora o primeiro pastor na missão de Camundongo.
Na história da UNITA, o general Chilingutila ao tempo capitão fez parte do grupo de 37 guerrilheiros que em Novembro de 1978, estiveram num seminário sobre o lema das transmissões com Jonas Savimbi no Cunene. Em fase de ascensão, Jonas Savimbi, em 1980, confiou-lhe, a chefia do Estado Maior General das FALA, até ter sido substituído três anos depois pelo general Alberto Vinama “Chendovava”. Com o falecimento de “Chendovava” em 1986, o general Chilingutila voltou a ser chamado para o mesmo cargo tendo neste ano Jonas Savimbi declarado que a luta contra o comunismo estava condicionada ao seu principal cabo de guerra: “A guerra contra o expansionismo Russo – Cubano em Angola ainda não acabou, porque o general Demóstenes ainda tem as armas”.
Em 1989, o general “Mike 40” seria retirado do cargo pela amizade que o unia ao antigo representante da UNITA em Washington, Tito Chingunji que sofreu acusações de “atentado contra a revolução”.
Era o período do “Titismo”, na qual, durante a purga, o general Chilingutila foi inicialmente suspenso (prisão domiciliar) e substituído por Arlindo Chenda Pena "Ben Ben" até ser reabilitado e aparecer numa frente de mando nas operações que resultaram no cerco a cidade do Luena, antes da assinatura do protocolo de Bicesse. Já reabilitado, em período de paz, o general estava na lista dos “cabos de guerra” que Jonas Savimbi hesitou ceder para as FAA, optando antes por confiar-lhe a missão de se ocupar na seleção e acompanhamento dos efectivos das FALA que integrariam o futuro exercito único.
Na esfrega do clima tenso pos-eleitoral, o general Chilingutila terá jogado papel crucial na operação secreta que levou Jonas Savimbi a retirar-se clandestinamente de Luanda, para o Huambo, numa aeronave que estava declarada para levar material de propaganda da UNITA a cidade de Malanje. Terá sido Chilingutila a providenciar a farda militar das FAA, com que Savimbi passou disfarçadamente pela pista do aeroporto “4 de Fevereiro” transportado numa viatura de matricula diplomática sem causar alarido.
Com a retirada de Jonas Savimbi para o Huambo, o general deslocou-se depois (antes dos confrontos militares) ao planalto central para consultas a volta das negociações para segunda volta das eleições presidenciais, em Angola. Os massacres de 1992 que resultou na decapitação da direção da UNITA, o apanham na cidade do Huambo. Em Janeiro de 1993, comandou durante 55 dias confrontos pela tomada da cidade do Huambo, tendo sob seu comando oficiais como, os brigadeiros Alírio Jorge “Big Jó”, Januário “Consagrado”, Morais “Grito” e outros.
Na tarde do dia 6 de Março, a rádio Vorgan (Voz do Galo Negro) que emitia a partir da Jamba (antigo quartel militar da guerrilha), anunciava que a bandeira da UNITA, fora hasteada no palácio do governo provincial pelo general Chilingutila, sinalizando assim a conquista pela cidade deixando por terra, 400 soldados das FAA, dois carros blindados, e varias espécies de artilharias pesadas. No dia seguinte, o chefe de Estado Maior das FALA, Arlindo Chenda Pena “Ben Ben”, reiterava a conquista do Huambo pelas forças de Chilingutila reforçando que “Neste momento com a vitória de aço, há que fazer todo o esforço, digerir toda a sua energia para que a UNITA vingue os seus heróis , vingue os seus mortos. Com o MPLA a nossa conversa tem que ser necessariamente de força”.
Vencido a batalha do Huambo, o general foi orientado para repetir a prosa na cidade Cuíto.
A sua fama de “general sem derrota”, seria ameaçada no final da sua carreira como comandante militar quando a UNITA, perde aos 9 de Novembro de 1994, a cidade do Huambo, para as Forças governamentais. Tanto Chilingutila como o então Chefe de estado maior Arlindo Chenda Pena seriam afastados e remetidos em destraça política até a intervenção de uma irmã de Savimbi, Judith Pena que apelara ao perdão para os dois oficiais. Até aos dias de hoje são dadas como imprecisas sobre quem recai as responsabilidades pela queda do Huambo. Há rumores de que diante ao sucesso nos combates pelo eixo Huambo-Cuíto, surgiram intrigas sugerindo que Chilingutila estaria a ofuscar “Ben Ben”, fazendo com que Savimbi retirasse sem explicações o general "Mike 40" dos combates no Cuito e reforçando os poderes do seu sobrinho pelo controlo da cidade do Huambo mas que resultou em fracasso militar.
Era na verdade um período em que muitos oficiais evitavam a pasta de Chefe de EMG das forças da UNITA para não serem responsabilizados por eventuais falhas. Inicialmente, Jonas Savimbi indicou o general Augusto Domingos Lutock Liahuka "Wiyo" mas este nunca chegou a desempenhar as funções. O “cargo” passou a ser intercalado por Chilingutila e depois por “Ben Ben”, até serem afastados, enviados para Luanda (para regressarem as FAA) e substituídos por Altino Bango Sapalalo “Bock”. É por estas intercalações que também, se diz que na pratica, o general Chilingutila exerceu "de facto", o cargo de Chefe de Estado Maior General por três vezes na historia da UNITA.
No interior da UNITA, diz-se que depois de Savimbi, não houve general mais capaz e capacitado que Chilingutila. Junto com “Ben Ben”, Kamalata Numa e Bock (conhecido como o homem que fazia as coisas acontecer), eram os cabos de guerra da primeira linha do "Galo Negro".
A partida do “general sem derrotas” é uma parte da historia de Angola que parte. É a UNITA a perder o “general dos generais” da sua história. É a Lili e os irmãos, a Elsa Pataco, Alice Jaime, o Ivan Chicapa, que deixam de ter por perto o melhor de si. É a metade que parte do seu inseparável companheiro de luta, general Isaías Celestino Chitombi, o antigo governador da Jamba, a quem apresentamos a todos os nossos mais profundos sentimentos.
JOSÉ GAMA