Luanda - A economia angolana cai de terceira maior da África Subsariana em 2018 para a oitava em 2021 penalizada pela forte desvalorização do kwanza e a queda do preço do petróleo agravada pela quebra da produção, de acordo com dados do Fundo Monetários Internacional (FMI) compilados pelo Mercado.

Fonte: Mercado

O critério de ordenação das maiores economias é o produto interno bruto (PIB) a preços correntes convertido para dólares à taxa de câmbio do mercado.

Embalada pela Paz e pelos aumentos simultâneos do preço e da produção do petróleo, Angola subiu ao pódio das economias subsarianas em 2004 com um PIB de 23,6 mil milhões USD que lhe deu o terceiro lugar atrás da África do Sul e da Nigéria com 228,9 mil milhões USD e 130,3 mil milhões USD, respectivamente, permanecendo nesse mesmo lugar até 2018.

Em 2019 Angola caiu para quinto lugar com um PIB de 89,6 mil milhões USD, ultrapassada pelo Quénia (95,4 mil milhões USD) e pela Etiópia (92,8 mil milhões USD).

No ano passado, nova queda de dois lugares. Na sequência de um trambolhão do PIB para 61,9 mil milhões USD, Angola caiu para sétimo lugar, superada pelo Gana (67,3 mil milhões USD) e pela Tanzânia (64,1 mil milhões USD).

Em 2021 as projecções do FMI colocam o PIB angolano no oitavo lugar do ranking da África Subsariana com 61,4 mil milhões USD ultrapassado pelos 71,1 mil milhões USD da Costa do Marfim, sexta economia de África Subsariana, que também deixa para trás a Tanzânia, sexta com 67,6 mil milhões USD.

A culpa do trambolhão de Angola será em primeiro lugar da desvalorização do kwanza que, na sequência da liberalização da taxa de câmbio em 2018, perde cerca de 62% do seu valor para o dólar entre 2018 e 2021, de acordo com previsões do FMI considerando as taxas de câmbio médias anuais implícitas na sua base de dados.

Segundo a mesma fonte, a moeda etíope desvaloriza “apenas” 37% e a do Gana 25%. Seguem-se as divisas da África do Sul e da Nigéria e com recuos de 19% e 15%, respectivamente, e do Quénia e Tanzânia, com 8% e 4%, por esta ordem. A única das oito maiores economias que vê a sua moeda ganhar ao dólar no mesmo período foi a Costa do Marfim que valorizou 4%.

O petróleo que representa mais de 30% da economia angolana também deu uma ajuda no tombo do país de terceiro para oitavo lugar no ranking das economias subsarianas. As projecções do FMI apontam para uma queda do preço médio do crude de 34% entre 2018 para 2021. Situação agravada pela quebra da produção de crude em 11,6% no mesmo período, segundo a mesma fonte.

Se em vez do PIB convertido às taxas de câmbio de mercado usarmos o PIB em PPP, paridade do poder de compra na sigla em Inglês, Angola melhora sua posição no ranking de 2021 para quinto lugar com 228,5 mil milhões USD atrás da Nigéria (1,1 biliões USD) África do Sul (748 mil milhões USD), Etiópia (278 mil milhões USD) e Quénia (260 mil milhões USD), respectivamente.

Se em vez do PIB absoluto em USD do mercado usarmos o PIB por habitante, o País nem sequer está no Top 10 dos mais ricos: ocupa o décimo sexto lugar, com 1 920 USD numa lista comandada pelas Ilhas Seicheles com 12 648 USD.

Descida previsível


A descida de Angola no ranking das economias da África Subsariana é perfeitamente normal, porque o País está em recessão, garante Francisco Paulo, investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC).

“Com cinco anos consecutivos de não crescimento económico, não iríamos esperar que Angola não descesse do ranking entre as maiores economias do continente, especialmente da zona subsariana. O PIB em termos reais e nominais tem estado a decrescer, em contrapartida, outros países da região têm estado em melhores condições, por isso, ultrapassaram a nossa economia”, elaborou.

“Se continuarmos a produzir pouco, Angola poderá descer muito mais nos próximos anos”, alerta o também economista. Além da falta de crescimento económico nos últimos cinco anos, Francisco Paulo aponta o petróleo como a principal causa da longa duração no pódio e o motivo da baixa do ranking.

“Por ser uma economia dependente do petróleo e dos diamantes, o país fica vulnerável à volatilidade dos respectivos preços. Quando as cotações descem todas as variáveis macroeconómicas são afectadas negativamente”, reforça o economista Porfírio Muacassange.

“As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) baixaram mais de 24 milhões USD, saíram de pouco mais de 32 mil milhões USD em 2012 para 8 mil milhões em Janeiro de 2021; As taxas de juros aumentaram de cerca de 10% em 2010 para pouco mais de 16% em 2020; O dólar disparou de 100 Kz em 2010 para os actuais 657 Kz oficiais e 745 Kz do mercado informal; O rácio dívida pública face ao PIB mais do que duplicou de 60% em 2011 para cerca de 130% do PIB em 2020; E o rating dos bancos degradou-se”, exemplifica Muacassange.

Um quadro negro agravado pela “taxa de desemprego que subiu para mais de 30% da população activa, pela insatisfação popular, aumento do mercado informal, aumento dos indicadores de pobreza extrema, aumento do custo de vida e degradação da confiança dos consumidores”.

“A descida de Angola no ranking económico africano terá impacto na queda do investimento estrangeiro, na deterioração do ambiente de negócios, no aumento da inflação, retardamento do crescimento económico, adiamentos dos investimentos públicos estruturantes que ponteiam o crescimento económico”, alerta o economista.

“Para melhorar a classificação de Angola no ranking africano devemos diversificar a economia. Algumas iniciativas estão em curso, mas defendemos um programa inclusivo de diversificação da economia mais intensivo, com medidas de carácter expansionista aumentando a dívida por um lado para investimentos que hão de gerar retorno para economia e que possam no futuro alimentar as receitas do OGE”, defende Muacassange. “A política fiscal deve desafogar o empresário em termos de carga fiscal e promover gastos públicos de qualidade para prover liquidez à economia e aumentar, por via do seu multiplicador, o consumo privado”, concretiza.

“Precisamos ainda de melhorar o ambiente de negócios removendo todos os obstáculos que o atrapalham, precisamos relançar o desenvolvimento do interior para potenciar a produção, temos de potenciar o empreendedorismo incentivando o surgimento de startups em todos os domínios”, acrescenta.

“Deve-se apoiar as empresas, especialmente do sector não petrolífero, apostar na exportação dos bens produzidos deste sector e, sobretudo, olhar para o capital humano, que no fundo é o grande desenvolvedor das economias”, concorda Francisco Paulo.

Relativamente à política monetária, “deve ter mais espaço e independência para que a mesma possa fazer o seu papel promovendo taxas de juro atractivas para o financiamento à economia,”, realça o economista Muacassange.

“O País está a seguir o caminho contrário, ao usar uma política monetária restritiva e uma política fiscal cada vez mais açambarcadora do lucro do empresário”, avisa Muacassange.