Luanda - O livro da Dr.ª Bela Malaquias, intitulado “ Heroínas da Liberdade”, lançado em Luanda, o ano passado, atiçou, por si só, e para os mais atentos, um debate já recorrente, mas, mais intenso, nas redes sociais sobre o passivo no seio das formações políticas históricas do país. Um debate necessário que deve sustentar as reflexões sobre o passado, incluindo o passivo das formações políticas históricas do nosso país que emergiram no contexto do nacionalismo angolano, na luta pela independência nacional. Mas não deve gerar crispação, nem sentimentos de vingança. Muito menos avivar emoções, apesar da indignação que estes actos causam.

Fonte: Club-k.net

Por conseguinte, pelo rigor que o estudo da história nos impõe, estas ocorrências devem ser contextualizadas porque tiveram lugar numa determinada época da nossa história comum. Sejam, por esta razão, assumidas como passivo histórico das respectivas formações políticas para se acalentar os sobreviventes de tais vicissitudes, pois perderam os seus ente-queridos. Procurar avivar emoções para fins políticos, e ânimos com ameaças de morte, é contraproducente, porque ninguém, por mais poderoso que seja, pode afastá-las da memória colectiva e individual, com a intenção de mudar o rumo do passado, apesar de todos terem direito à indignação.


Sublinhe-se, no entanto que o passado é uma referência importante na vida dos povos. O passado é a memória. Boa ou má, é a memória que se transporta às costas até ao fim da vida de cada um, incluindo das organizações. Ninguém pode, de facto, mudar o rumo do passado. Mas pudemos, sim, modelar o futuro para que esses actos de triste memória nunca mais se repitam no nosso país. Que o nosso passado colectivo, de guerra e violência, seja fonte de lições e de sabedoria para se construir o novo país que se deseja tolerante, harmonioso e solidário, entre povos que constituem o mosaico nacional angolano.


Construamos uma sociedade livre do medo. Livre da intolerância, da perseguição e da arbitrariedade. Façamos da nossa memória coletiva uma força que contribua para cimentar a construção dos alicerces de uma Angola de paz social e e reconciliação de que tanto almejamos.

Alcides Sakala
Deputado