Luanda - Manuel Lourenço da Silva ou simplesmente “Nelito Kwanza”, como era conhecido nas lides do futebol nacional, tal como vários outros talentos do seu tempo, começou a dar os primeiros passos no mundo da bola ainda em tenra idade.

Fonte: JA

O extremo esquerdo que se notabilizou ao serviço do 1º de Agosto, clube pelo qual conquistou títulos do Girabola, Taça de Angola e Supertaça, não esconde a sua tristeza por financeiramente não ganhar absolutamente nada ao longo da sua carreira. "Por isso estou a lutar para conseguir a reforma militar”, confessa o ex-craque que também representou os Palancas Negras.

Nelito Kwanza, é oriundo de uma família de indescritíveis talentos de futebol, começando pelo seu progenitor, Emaus da Silva "Ju”, que brilhou na então formação do Portugal de Benguela e, passando depois, pelos seus irmãos Carlitos, que jogou no Inter de Luanda, e Estefânio, na equipa da Terra Nova. "Talvez por isso, comecei, ainda garoto, no campo do Areias do Cazenga, a dar os primeiros pontapés na bola”, recorda.

Na sequência disso, acrescenta que aos 14 anos foi ver um treino do seu irmão mais velho, Carlitos, na equipa da Terra Nova e nesse dia faltava um jogador para completar a outra equipa”. "Foi assim que o malogrado mister Esteves perguntou-me se queria treinar. Aceitei o desafio e foi daí que comecei a jogar oficial nos escalões de juniores, mas com idade ainda de juvenil pela equipa da Terra Nova”, frisou.

Convite de Napoleão

Nelito Kwanza conta, por outro lado, que ao integrar o plantel da equipa da Terra Nova, onde além de Carlitos evoluiu também outro dos seus irmãos, o Estefânio, os técnicos optam por aumentar-lhe a idade para que pudesse actuar no escalão de juniores.


No entanto, em 1978, convidado por Napoleão Brandão, antigo guarda-redes do 1º de Agosto e da Selecção Nacional, vai parar ao clube que na época representava as extintas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA).

"Chegado ao 1º de Agosto entrei directamente para o escalão de juniores, mas fazendo parte das reservas do clube. No entanto, a trilhar ainda os meus 17/18 anos atingi o escalão sénior, onde no primeiro pronunciamento do então técnico jugoslavo Ivan Radionovic, a meu respeito, disse que só me daria três oportunidades”, disse.

Apesar de alguma inquietação pelo meio, "foi me dada a primeira oportunidade de jogar na equipa de seniores, curiosamente frente ao então Mambroa do Huambo”. Depois de merecer a confiança do técnico para fazer parte dos eleitos para o jogo com o então emblema da cidade capital do Planalto Central, conta que fez maravilhas, apontando dois golos.

Ajuda de colegas

"A partir daí nunca mais saí da equipa principal, mas valeu para o feito, a ajuda de colegas mais velhos como o Lourenço, Carlos Alves, Ndungidi Daniel e outros, que nessa altura pontificavam no plantel do 1º de Agosto”, acrescentou.


Aliás, fala-se amiúde que Nelito Kwanza foi, indubitavelmente, um dos mais conceituados extremos esquerdos da praça futebolística nacional durante a década de 80, e daí os vários títulos conquistados com realce para o Girabola, Taça de Angola e Supertaça.


Apesar das conquistas obtidas ao longo destes anos, quer na maior prova do futebol, quer na Taça de Angola e Supertaça, que habitualmente abre a época futebolística no país, Nelito Kwanza diz não ter ganho nada em termos financeiros.

"Enquanto estive na carreira futebolística o que mais ganhei foram amigos. Financeiramente não ganhei absolutamente nada, por isso estou, à semelhança de outros ex-companheiros de carreira, a lutar para conseguir a reforma militar”, frisou.


E quando se refere a amizades que conquistou ao longo destes anos, enaltece o antigo presidente do Conselho de Administração da Sonair, que se predispôs em lhe oferecer emprego. É por obra disso que Nelito Kwanza é hoje quadro da Sonangol, onde exerce a função de oficial de Tráfego da transportadora área Sonair.

O antigo extremo esquerdo da formação militar do "rio seco” e dos Palancas Negras, designação por que é conhecida também a Selecção Nacional de Honras, realça ainda as qualidades de muitos dos futebolísticas da sua época. Mas, prefere não enumerá-los pela grande extensão que levaria para os citar.

André Nzuzi e Nejó

Não obstante isso, não hesita em apontar André Nzuzi e Nejó, jogadores que se notabilizaram ao serviço do 1º de Maio de Benguela e Petro de Luanda, como dois dos defesas que mais trabalho lhe davam nos "trumunos” da época. Em relação a actual realidade do futebol angolano, evita fazer comparações sobre as diferenças de como era praticado ontem e de hoje, mas ainda assim advoga uma maior aposta nos escalões de formação. "Não gosto muito de comparar o futebol de ontem com o de hoje, mas é imperioso que se faça uma maior aposta nesse sentido”, realçou na entrevista ao nosso jornal.

Nelito Kwanza recorda-se ainda, com nostalgia, dos "trumunos” dos idos anos de 80, como D’Agosto - Petro, D’Agosto - Desportivo da TAAG, D’Agosto - Inter de Luanda, D’Agosto - 1º de Maio de Benguela e tantos outros. "Jogava-se bom futebol e quem fosse ver estes ‘trumunos’ não se arrependia por testemunhá-los ao vivo e a cores”, recordou , acrescentando que nestes confrontos haviam adversários no campo, mas depois fora destes configuravam-se numa relação baseada em verdadeira irmandade.

FACTO
"Rei dos cabritos” jogou
por mais de uma década

O craque nascido no Bairro Marçal, em Luanda, ganhou ainda o protótipo de "rei dos cabritos”, pela forma como as vezes se desenvencilhava dos seus oponentes, usando esta artimanha e malabarismo como os grandes futebolistas o fazem.


Manuel Lourenço da Silva tornou-se, no entanto, conhecido no mundo do futebol pela alcunha de "Nelito Kwanza”. Segundo relatos, na primeira troca da moeda nacional, em Janeiro de 1977, o ex-futebolista do 1º de Agosto e da Selecção Nacional era detentor de uma assinalável habilidade técnica em fazer girar a moeda com os dedos (polegar e indicador), para posteriormente tapar com a palma da mão.


Nelito Kwanza, que brilhou em várias épocas do Girabola, foi dos mais conceituados extremos esquerdos do nosso futebol durante a década de 80. Nesta posição o país esteve bem servido com craques da igualha de Joaquim Dinis, Lourenço Bento, Chico Negrita, David, Cafumana, Santinho, Cavungi e tantos outros.


O extremo esquerdino lembra, ainda, que teve como fonte de inspiração na carreira, Júlio de Carvalho, também conhecido por Puro ou Luchaze, que também brilhou nesta posição ao serviço do Grupo Desportivo do Cazenga do Areias.


Lembra ainda que ajudou a formar uma equipa de futebol denominada Kwanzas, uma das mais poderosas entre outras do Bairro e das redondezas como as equipas Cadências, Reais, Betangó...


A antiga estrela foi cobiçado por vários clubes da praça angolana, mas foi levado para o 1º de Agosto, por via de uma transferência a custo zero, ao abrigo da Lei Militar.

EM PORTUGAL
Ex-extremo brilha no Areeiro
após pendurar as "chuteiras”

Nelito Kwanza relata, ainda, uma história que marcou a sua vida, mas isto após pendurar as "chuteiras” no seu clube do coração, o 1º de Agosto, na temporada futebolística de 1991, quando trilhava nos seus 29 anos.


E lembra-se, nesse particular, que em certa ocasião, a gozar férias no Areeiro, uma freguesia do concelho de Lisboa, pertencente à Zona Centro da capital de Portugal, na companhia dos seus irmãos, formaram uma equipa caseira ao lado de outros angolanos, para um duelo com outro conjunto das redondezas.


"Demos um show de futebol, que os oponentes acabaram por nos apelidar de Nigéria, que era na altura das mais cotadas selecções africanas”, recorda-se, acrescentando que tudo que fez no mundo da bola foi por obra do legado deixado por seu pai, Emaus José da Silva, que actuou na equipa do Portugal de Benguela, a si e aos seus manos.

PERFIL

Nome
Manuel Lourenço da Silva "Nelito Kwanza”

FILIAÇÃO
Emaus José da Silva e de Catarina Bernardo Lourenço da Silva

NASCIMENTO
31-10-1962 no Marçal (Luanda)

ESTADO CIVIL
Casado

FILHOS
Cinco (dois rapazes
e duas raparigas)

HOBBYE
Viajar e recrear
na companhia
de amigos

TÍTULOS
Duas vezes campeões do Girabola, três da Taça de Angola e duas da Supertaça
pelo 1º de Agosto

ÍDOLO
Argentino Diego Armando Maradona