Luanda - A verdade quando, conscientemente, aniquilada, confere a mentira um pedestal institucional e aos seus autores um carácter narcisista.

Fonte: Folha8

O Presidente da República de Moçambique, faltou com a verdade, quando na qualidade de presidente da SADC, considerou ter havido uma vitória militar do exército angolano/FAPLA/MPLA, na batalha do Kuito Kwanavale, considerando por via disso o dia 23 de Março como de libertação da África Austral.

PRIMEIRA MENTIRA:

Se fosse de libertação da África Austral, Moçambique teria parado a guerra em 23 de Março d 1988, mas a Frelimo/governo e a RENAMO/oposição, só pararam a guerra em 1990, com base nos Acordos de Roma e o governo de Angola/MPLA, não fez parte da equipa de mediação...
Igualmente no ex-Zaire, a guerra não parou em 88... Quid juris?

SEGUNDA MENTIRA

Não (nunca) houve nenhuma Batalha Kuito Kwanavale, nem como denominação, tão pouco as operações militares decorreram na localidade do Kuito...

PRIMEIRA VERDADE

Houve da parte das FAPLA/Cuba/Rússia a célebre OPERAÇÃO ZEBRA em 1987/88, a partir da localidade do Kuito Kwanavale, visando conquistar as bases mas avançadas da UNITA: Mavinga e Likua e depois desbaratar o seu bastião (quartel-general) Jamba, na província do Kwando Kwbango...

SEGUNDA VERDADE

A UNITA por sua vez denominou a sua operação militar, de resposta a ofensiva das FAPLA, com o nome: LOMBA 87, significando que, também, não participou em nenhuma Batalha do Kuito Kwanavale, que é fruto de uma elucubração política partidocrata do executivo;

TERCEIRA VERDADE

As forças governamentais com apoio cubano e soviético, não conseguiram contornar o rio Longa, alcançar Mavinga, nem a Jamba, logo não conquistaram nenhuma posição inimiga: UNITA/África do Sul;

QUARTA VERDADE

A guerra entre os angolanos e o desgaste dos aliados, levou a assinatura da Resolução 431 das Nações Unidas, visando a retirada das tropas cubanas e soviéticas, dos sul africanos e as negociações para a independência da Namíbia;

QUINTA VERDADE

A inciativa e sonho da implantação do socialismo e de regimes de partido único, através da via militar, na África Austral, capitaneada, por Angola fracassou, redondamente...

SEXTA VERDADE

Angola é o único país que gastou dinheiro público, para construção de um monumento, para retratar a vitória de uma batalha, que as suas forças não obteviram no teatro das operações militares.

SÉTIMA VERDADE

A batalha do Kuito Kwanavale em 1987/88, não determinou a libertação de Nelson Mandela, pode ter contribuído, mas não decisiva, pois este só foi liberto em 1990, fruto de negociações internas, sem mediação do governo angolano. Mais para libertação de Mandela contribuiram muitos actores, inclusive Jonas Savimbi, que pese o apoio do apartheid sempre que fosse ao parlamento sul africano exigia a libertação de Madiba. Por esta razão, em gesto de agradecimento, o líder da UNITA foi recebido na casa do já presidente da África do Sul, gesto que não estendeu a Eduardo dos Santos, recebido protocolarmente no Palácio.

ÁFRICA CLAMA POR LÍDERES SÉRIOS

Infelizmente as declarações do Presidente Filipe Nyusi, no 23.03, não reflectem a posição equidistante de um estadista imparcial, mas o frete partidocrata do presidente de um partido amigo: FRELIMO ao presidente do partido no poder em Angola: MPLA.


Aqueles que não conhecem a guerra, o seu chão, a sua pólvora e o seu sangue, mentem descaradamente...


O verdadeiro militar, sabe distinguir a derrota da vitória, mesmo tendo em linha de conta, o objectivo político da sua acção.


No Kuito Kwanavale a ideologia política do socialismo (cheguei a acreditar nela): "Angola trincheira firme da revolução em África", corporizada pelos militares das FAPLA versus russos/cubanos sucumbiu, diante das forças militares das FALA (UNITA) versus militares do apartheid, porquanto o exército de Angola, nem ocupou Mavinga, nem tomou a Jamba, quartel-general de Jonas Savimbi, tendo pelo contrário recuado até a localidade do Kuito Kwanavale, com um somatório elevado de perdas humanas e materiais.


É preciso dizer a verdade e parar de institucionalizar a mentira, com apoio de líderes fracos que não lêem.


O presidente Nyusi poderia consultar, por exemplo, para não falar de outros, o livro do moçambicano Marcelo Moose, onde consta uma entrevista do general França Ndalu, feita por Carlos Cardoso com o oficial angolano a reconhecer não ter sido alcançado o objetivo de derrotar a UNITA.


O que os jovens da África Austral precisam é da verdade, senhor presidente da SADC e não de uma mentira e narcisismo.