Huambo - O rei do Bailundo, Ekuikui IV, foi destituído do trono nesta sexta-feira, por alegada prática de infracções que lesam a ordem moral e as tradições culturais do reino.

Fonte: Angop
Bailundoo.jpg - 76,34 kBA decisão da destituição do soberano, no trono desde 2012, a primeira na história do considerado um dos maiores reinos ovimbundos, fundado no século XV, foi tomada durante a reunião da delegação local da Associação Angolana das Autoridades Tradicionais (ASSAT), que contou com a participação de alguns membros da corte.

Entre as infracções de que é acusado o soberano, com o nome de registo Armindo Kalupeteka, destacam-se a resolução de casos de feitiçaria para efeitos de negócios, a concentração de poderes, a venda ilegal de parcelas de terras das populações, para além de desfazer-se da estrutura funcional e tradicional da corte.

Pesam ainda sobre Armindo Kalupeteca, o facto de ter, durante o seu mandato, quebrado as relações institucionais e de colaboração com os demais reinos da província e da região, bem como de ter sido julgado e condenado a seis anos de prisão maior, pelo Tribunal Provincial, pelo crime de homicídio preterintencional, cuja execução aguarda recurso interposto ao Tribunal Supremo.

Salientar que, do crime, praticado em Março de 2017, resultou a morte do cidadão Jacinto Kamutali Epalangana, na sequência de um julgamento tradicional, por crença ao feiticismo.

Os participantes ao encontro, realizado na sede do município do Bailundo, que dista 75 quilómetros do centro da cidade do Huambo, fundamentam a sua decisão referindo que tais práticas têm desgastado a dignidade e a mística histórica e cultural daquele reino.

Em substituição, os mesmos elegeram o soba João Kawengo Kasanji, da linhagem dos Katiavalas, que depois de entronizado poderá ser designado de “Tchingala TChangungu Vangalule Mbulu”.

De acordo com o porta-voz do encontro, Afonso Kassoma Kanhanga, que anunciou para breve a entronização do novo rei, a intenção dos membros da ASSAT e da corte de destituição de Armindo Kalupeteka, do trono, não é recente.

Explicou que a mesma arrasta-se desde 2016, altura que ele, Armindo Kalupeteca, iniciou práticas contrárias às tradições do reino, ao acusar algumas pessoas de feiticeiros e obrigar um dos filhos do seu antecessor, Augusto Katchitiopololo, de circular nas ruas da municipalidade sem roupas.

Por seu turno, João Kawengo Kasanji prometeu trabalhar, depois da sua entronização, na recuperação da dignidade e da mística histórica do reino Bailundo, através da unificação da corte e das ombalas, que andam desavindas por acções de Armindo Kalupeteca.

Para além dos ditames culturais, prometeu ainda trabalhar dentro dos parâmetros legais e reforçar a parceria com as instituições governamentais.

Contactado pela ANGOP, Armindo Kalupeteca refutou todas as acusações, tendo igualmente recusado aceitar a decisão da sua destituição no trono, ao considerar ilegítimo o acto praticado pelos membros da ASSAT e alguns da sua corte.

De acordo com o soberano, um rei nunca é destituído até à sua morte e os seus erros são apenas repreendidos pelos membros da sua corte.

“Por isso, me recuso a aceitar este acto, por ter sido praticado por uma associação que não tem legitimidade para o efeito”, concluiu.

De 52 anos de idade, João Kawengo Kasanji, que assume os destinos do reino, com uma corte composta por 36 sobas, é o actual soba grande da ombala Chilume, nos arredores da sede do Bailundo.

Desde a fundação do Reino do Bailundo, foram soberanos, para além de Armindo Kalupeteca, os reis Katiavala I (fundador), Jahulo I, Samandalu, Tchingui I, Tchingui II, Ekuikui I, Numa I, Hundungulo I, Tchissende I, Jungulo, Ngundji, Tchivukuvuku Tchama Tchongonga, Utondossi, Bonji, Bongue, Tchissende II, Vassovava e Katiavala II.

Ekongoliohombo, Ekuikui II, Numa II, Moma, Kangovi, Hundungulo II, Mutu Ya Kevela (vice-rei), Tchissende III, Jahulo II, Mussitu, Tchinendele, Kapoko, Numa II, Pessela Tchongolola e Ekuikui III Ekuikui IV, reinaram igualmente o Bailundo. Ekuikui V é o actual soberano.

Na província do Huambo, situada no planalto central de Angola, existem cinco reinos, designadamente o reino do Huambo, Chiaka, Sambo, Bailundo e o do Chingolo.